Mensagem do Pequeno Morto

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Capítulo IV

A grande viagem

Ah! Dirceu, não poderia contar-lhe o que então se passou.

O sono sem sonhos durou apenas algumas poucas horas, porque estranho pesadelo passou a dominar-me inteiramente. Parecia-me vaguear numa atmosfera obscura e indefinível.

Sentia que mamãe se debruçava sobre mim, pronunciando meu nome, angustiadamente. Observava-lhe as mãos ansiosas, tateando-me o rosto e os cabelos. Ouvia-lhe os gritos de dor, mas debalde procurava acordar e tomar conta de mim próprio.

Sofri muito em semelhantes momentos de incerteza e aflição. Valeu-me Tia Eunice, que me amparava cuidadosamente.

Pouco a pouco, ao mesmo tempo que me sentia enlaçado nos chamamentos de mamãe, tive a ideia de que uma força superior me arrastava da cama, devagarinho.

Compreendi que me encontrava agarrado a substâncias pegajosas, como o passarinho preso ao visgo. Notei, todavia, que alguém me libertava, despojando-me de um fardo, como acontece ao desfazer-nos da roupa comum…

Desde então, apesar de prosseguir na mesma atmosfera de sonho, não mais senti as mãos de mamãe, mas somente as de Tia Eunice, que me aconchegou ao coração.

— “Vamos, Carlinhos!” — ouvi-a, distintamente.

Retiramo-nos para a porta de saída. Nossa tia pareceu-me bastante interessada em afastar-se comigo, apressadamente.

Lá fora, o luar deslumbrava. Respirei o ar perfumado e fresco da noite, como quem recebia verdadeira bênção celestial.

Haviam decorrido tantos dias em que me esforçava sem melhoras! Tia Eunice carregava-me nos braços, carinhosamente, como se eu fora pequenina criança. Contudo, embora não conseguisse coordenar meus pensamentos com exatidão, espantei-me ao reconhecer que nos afastávamos do solo.

Embalado pela carícia do vento brando, não sabia que mais admirar se a melhora que sobreviera, de súbito, se a beleza da noite, embalsamada de aroma e maravilhosa de luz.

Meu contentamento não tinha limites. Estava fraco, vencido, incapaz de falar alguma coisa, mas sentia-me transportado da Terra para uma festa nas estrelas.

De quando em quando, Tia Eunice pousava em mim os olhos doces e amigos e eu sorria em resposta, contente e agradecido pela bênção de respirar sem cansaço e sem dor.

Os caminhos aéreos, repletos de luar, surpreendiam-me os olhos espantados.

Então, as impressões de sonho foram mais nítidas em mim. Estava certo de que tudo não passava de fantasia e de que tornaria a casa, despertando, novamente, no leito habitual.


Carlos
Neio Lúcio


Carlos
Francisco Cândido Xavier


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