Mensagem do Pequeno Morto

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Capítulo VI

Carinho e conforto

Que significava aquela afirmação?

Rente a mim, conservava-se Tia Eunice, viva e bem disposta. Não conseguiria manter qualquer dúvida. Não me encontrava mais envolvido na alucinação ou no sonho. Minha consciência estava lúcida.

Intrigava-me, contudo, variadas questões, atormentando-me o raciocínio. Sabia que Tia Eunice já havia morrido desde muito. E eu? não me encontrava ali, num quadro natural? Tocava meu próprio corpo, observava paredes e móveis. “Aquilo” seria morrer?

Bastou que eu formulasse tais pensamentos para que ela me sorrisse, bondosa, acrescentando:

— Sim, Carlinhos, você permanece agora entre nós, os que já passamos pela sombra do túmulo.

Francamente, senti arrepios de medo, mas Tia Eunice, longe de magoar-se, observou:

— Tolinho! por que se acovardar? Não tema.

Tanta serenidade infundiu-me confiança. Contudo, os gritos que eu ouvia perturbavam-me o equilíbrio. Por que motivo escutava semelhantes vozes da mamãe, ali, onde não tinham razão de ser? Imenso mal-estar apoderou-se de mim. Todas as dores, que eu sentia anteriormente, regressaram ao m e u corpo.

Comecei a chorar, convulsivamente. Tia Eunice, todavia, compreendeu tudo e, dando mostras de saber o que se passava em meu íntimo, acariciou-me, dizendo:

— Não se assuste, meu filhinho. As vozes que ouve são realmente da mamãe, que ainda não pode compreender a vida. Você ainda se encontra ligado a ela por vigorosos laços de amor, cheio de apego desvairado e violento. Tenha calma e procure distrair-se.

Quis obedecer à ordem afetuosa, mas não pude. Aqueles apelos que me pareciam chegar de muito longe e minhas ânsias de rever a mamãe querida eram demasiado fortes para que me sentisse libertado num minuto.

Oh! mas era horrível! os gritos maternos faziam-se mais altos e mais fortes, dentro de mim, à medida que eu cedia ao desejo de tudo recordar. E, com isso, voltaram-me todos os sofrimentos, um a um: a dor na garganta, a opressão no peito, a falta de ar.

Tive a ideia de que recomeçava também minha longa e dolorosa agonia. Tia Eunice exortou-me a ser forte e a pensar na Bondade Divina, de modo a vencer as pesadas impressões do momento, mas debalde.

Após banhar-me a fronte em água fresca, apanhada em vaso próximo, acentuou, carinhosamente:

— Não tenha receio. Temos igualmente devotados médicos por aqui e já mandamos buscar um facultativo para atender-nos.

Aflito e desalentado, comecei a esperar.


Carlos
Neio Lúcio


Carlos
Francisco Cândido Xavier


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