Mensagens de Inês de Castro

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Capítulo XXIV

Preparando reencarnações


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Como já falamos 1sabel de Aragão e Inês — almas que souberam servir-se do burel da dor e da renúncia para ascender a invejável condição espiritual — participaram dos preparativos da última encarnação de D. Afonso IV e Pedro.

Inês, pela mediunidade do Chico, descreve, a propósito, um dos encontros com Isabel, ocorridos no Plano Espiritual, com tal objetivo:

Amado rei e senhor meu.

Digne-se o Todo-Misericordioso abençoar-vos e engrandecer-vos cada vez mais.

Prometi que vos escreveria, amado senhor, conjugando as recordações possíveis que entrelaçassem memórias dos dois planos nos quais, e entre os quais, se nos decorre a vida.

Creio que vos devo falar de um encontro expressivo e sublime — antes da sua presente reencarnação — quando este século amanhecia.

Não desconheceis que a Rainha Isabel de Aragão, a santa soberana, de quem fostes neto muito amado e mãe de D. Afonso IV de Portugal, ainda hoje protege o filho querido, encaminhando-lhe o coração para Jesus.

Nos primeiros seis janeiros do século nosso, aquela que soube ser humilde na grandeza do mundo veio de sua elevada moradia nos Planos Superiores aos parlatórios em que nós, grande grupo de Espíritos a ela vinculados, nos encontrávamos, para traçar conosco, grupo em grupo, os planos da existência atual que vão sendo executados.

Do que houve entre ela e o filho D. Afonso IV, com alguns companheiros dele, nada posso saber.

Mas lembro-me de que nós ambos comparecemos para o diálogo com aquela angélica benfeitora, em companhia de um sábio que julgo (sem ter absoluta certeza) seja aquele que veneramos com intenso amor, como sendo o mentor, cujo nome foi escolhido por vosso amado pai, a fim de ser a legenda da equipe por ele formada para a Seara do Bem.

Esperamos os três, com absoluta reverência, a presença daquela que conquistara, a preço de sacrifício e trabalho, a sublimação espiritual.

Ela veio, assessorada por vários mensageiros de paz e luz, e nos abençoou amorosamente.

Depois dos votos de felicidade e elevação no Senhor, lembro-me — mas recordo hoje a cena inesquecível com palavras minhas, mas tão fiéis ao que se passou quanto isso se me faz possível — que ela disse:

— Voltareis ao mundo lusitano, num dos períodos mais agitados da História do Mundo. Este século está marcado para o embate de tremendas lutas espirituais.

Os tronos perdidos se transformarão em posições de comando e trabalho intensivo, e as auréolas da nobreza ser-vos-ão responsabilidades esfogueantes, muitas vezes, a vos vergarem as cabeças.

Permitirá o Senhor que vos façais servidores de outros reinos, o reino da verdade e do amor, cujos domínios estão vivos nos corações humanos, na conquista dos quais é preciso sofrer para compreender e, muitas vezes, perder para ganhar.

Porque a excelsa protetora vos beijasse maternalmente, algo perguntastes sobre o futuro que vos aguardava.

— Certamente que, nos últimos cinco séculos, tivestes outros compromissos na vida peninsular.

As responsabilidades de Portugal e da Espanha estiveram, várias vezes, em vossas mãos, no entanto, agora se trata de trabalho específico, em que estareis, no presente século, ligado a nós, no propósito de imunizar o mundo lusitano, tanto quanto possível, da criminalidade e da violência.

Servireis aos corações, de preferência preservando as almas de conflitos e crueldade que lhes seriam fatais.

Rogastes a missão de curar os corpos doentes, lembrando aqueles que, por nós, aceitaram as batalhas sanguinolentas, suportando, muitas vezes, ásperas provações e dores físicas por nossa causa, em conjunto com os vossos encargos na seara da luz.

Divulgareis a fé em Deus e na imortalidade da alma, ensinando e curando, aliviando e auxiliando. Tudo isso, amado Pedro, vos será concedido.

Lembro-me de que me designastes com o olhar, como quem quisesse a certeza de que seguiríamos juntos, e dissestes:

— Se devemos estar unicamente associados às nossas experiências do século XIV, sem tocar em outros arquivos, dizei-me, veneranda benfeitora, o que será feito de Inês?

— Não podereis seguir juntos, quanto desejais, esclareceu ela.

Não conseguiríeis desatar os laços humanos de carinho e suprema compreensão que vos jungem um ao outro e sairdes desse refúgio de afeto para trabalhar por nossos irmãos em Humanidade, esclareceu Isabel.

Inês de Castro

E, após outras considerações da Veneranda Missionária, incitando-o a trabalhar pelos irmãos em Humanidade, Pedro compreendeu que suas tarefas estavam muito aquém das elevadas responsabilidades que Inês assumira junto à Rainha Santa, ao longo dos séculos que se seguiram à triste sina que lhes reservara o destino.

Credenciava-se Inês de Castro a conquistar, no Plano Espiritual, ao lado de Isabel de Aragão, também a condição de rainha devotada à causa de Nosso Senhor Jesus Cristo, o que nos faz recordar o verso de Camões:

A que depois de ser morta foi rainha.

Não apenas a rainha por homenagem póstuma, aos tempos de D. Pedro I, mas a sofrida dama medieval que se elevou à condição de soberana nas árduas lutas em socorro aos deserdados da Terra, buscando transformar, qual Isabel de Aragão, rosas em pães.


Caio Ramacciotti


[Episódio de Inês de Castro (Canto III, estrofes 118 a
135) ]



Inês de Castro
Francisco Cândido Xavier


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