Na Era do Espírito

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Capítulo XVIII

As provações


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Chico Xavier

“A página de nossa irmã e benfeitora espiritual Maria Dolores foi recebida em nossa reunião pública. Achava-se conosco distinto jornalista da Guanabara, interessado em observar como se processava a psicografia. Ele mesmo guardou o original a lápis, deixando a cópia em nossas mãos.

Esclareço ainda que na reunião mencionada o tema trazido a estudo foi a questão 738 de O Livro dos Espíritos, () relativa às provações que assediam a humanidade.”


Maria Dolores

Escuta, alma querida,

Aceita as aflições e as lágrimas da vida,

Por agentes de acesso à Esfera Superior…

Mágoa, queixa, revolta e rebeldia

Lembram muralhas sob a noite fria

Furtando o coração à luz do amor.


Se a prova te retalha a alma sincera,

Perdoa, faze o bem, trabalha e espera

Aprendendo da estrada em derredor…

Tudo o que vive e sonha, sofre e ama,

Dos astros do Infinito aos vermes sob a lama,

Dando-se à elevação do futuro melhor…


O Sol potente que nos ilumina

É um gigante em perpétua disciplina,

Varando lutas que desconhecemos,

Por mais se lhe arremesse lixo à face,

Brilha em silêncio como se explicasse

Que só o amor domina os Céus Supremos…


Corre a fonte da penha ao chão da serra,

Depois, ganhando o vale, faz da terra

Verdejante celeiro em garbos de jardim…

Pelo bem que constrói, de segundo a segundo,

Muitas vezes recolhe os detritos do mundo,

Mas beija lodo e pedra e canta mesmo assim!…


O carvão na lareira acende a chama,

O tronco mutilado não reclama,

A estrada se aprimora aguentando tratores…

No trigo triturado o pão puro se asila,

Cria-se a porcelana em fogo sobre a argila,

O roseiral podado dá mais flores!…


Assim também, alma querida e boa,

Não recuses a dor que aperfeiçoa,

Se nos espanca os sonhos, teus e meus…

Golpes, tribulações, angústias, tempestade

São recursos da vida erguendo a Humanidade

Para a Bênção de Deus.



Irmão Saulo

As coisas naturais são constantes lições de paciência ao nosso redor. Tudo no mundo nos ensina duas lições fundamentais: a da evolução e a da imortalidade. Porque tudo se desenvolve em direção ao futuro e tudo morre para renascer. A Ciência reconhece que nada se perde, tudo se transforma. A Filosofia, mesmo em suas correntes mais atuais e mais negativas, reconhece a evolução geral e admite que o homem é um pro-jeto, ou seja, uma flecha que atravessa a existência em direção a um alvo superior.

Se nos recusamos a entender as lições que nos rodeiam e as que brotam do fundo de nós mesmos é porque, segundo explica a questão 738 de O Livro dos Espíritos: () “Durante a vida o homem relaciona tudo ao seu corpo”. Mas, diz a mesma questão: “após a morte pensa de outra maneira”. Apegados ao corpo, limitados pelas percepções físicas, avaliamos a dor pela medida do tempo. Entretanto, os Espíritos nos lembram, nessa mesma questão: “Um século do vosso mundo é um relâmpago na eternidade”.

Jesus nos ensinou, por isso, o desapego, advertindo: “Quem se apega à sua vida perdê-la-á”. Maria Dolores se comunica em poesia para nos tocar ao mesmo tempo o sentimento e a razão. É a mesma técnica usada por Jesus nas parábolas e na, poesia do Sermão do Monte. A didática moderna confirma, a eficiência desse método que nos relaciona com as coisas naturais, que se serve do estímulo do ambiente, da lição das coisas concretas para nos levar à compreensão do sentido da vida.

A dor, ensinou Léon Denis, discípulo e sucessor de Kardec, é uma lei de equilíbrio e educação. A Psicologia moderna comprova que aprendemos através de tentativas frustradas, de ensaios sucessivos. É por meio dos erros que chegamos ao acerto. A sabedoria popular nos diz: “O que arde cura, o que aperta segura”. As pessoas inquietas perguntam porque há de ser assim, porque Deus não nos criou perfeitos e bons. Mas Rousseau já ensinava que tudo sai perfeito das mãos do Criador. A perfeição inclui também o livre arbítrio, pois só através dele chegamos à consciência plena. A dor de um minuto nos desperta para a felicidade sem limites, como a ventania de um instante limpa a atmosfera por muitos dias.



Francisco Cândido Xavier


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