Na Era do Espírito

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Capítulo XVII

Missão dos espíritas


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Chico Xavier

“Em nossa reunião pública, no início das tarefas em pauta, O Evangelho Segundo o Espiritismo, () no capítulo XX, item 4, nos ofereceu a preleção sobre a “Missão dos Espíritas”. Vários comentaristas expuseram o assunto com muita elevação, salientando os valores e as facilidades da civilização moderna que traçam mais amplos caminhos de evolução para a vida planetária em que nos achamos.

No término dos estudos o nosso caro Emmanuel escreveu os apontamentos que lhe passo às mãos.

É uma página que nos leva a refletir profundamente quanto à necessidade das lições de Jesus em nossas experiências.”

NOTA — Como vemos nessa rápida explicação de Chico Xavier, o tema de estudo fornecido pelo Evangelho, sempre aberto ao acaso, não aparece ligado a conversações anteriores como habitualmente temos observado. É possível que Chico não tenha sido informado a respeito, pois há sempre muitos problemas que lhe tomam a atenção antes do início dos trabalhos. Mas a verdade é que o assunto corresponde a uma das necessidades mais prementes do momento espírita que estamos vivendo, numa fase de transição da vida terrena em que as perturbações psíquicas se alastram de maneira alarmante.



Emmanuel

Quem lance na Terra ligeiro olhar para a retaguarda de oito lustros se espantará certamente em verificando o progresso dentro do qual a vida planetária vai marchando aceleradamente, para o futuro melhor.

Ainda assim reconhecerá que as exigências de ordem espiritual não se alteraram muito no curso do tempo.

O homem de hoje dispõe fartamente da televisão pela qual consegue, se o deseja, contemplar de perto as ocorrências do mundo, no entanto, não possui autoconhecimento bastante para analisar-se de modo construtivo.

Inventa computadores que o auxiliam efetuando prodígios de informação e de cálculo, mas ainda, não conhece, nas engrenagens perfeitas em que se expressam, as leis de causa e efeito que lhe presidem a experiência e o destino. Utiliza a energia nuclear, todavia, ignora ainda toda a extensão dos poderes do espírito.

Realiza voos espaciais aplicando os princípios da Astronáutica, entretanto, é compelido a receber aulas de relacionamento humano a fim de harmonizar-se com os vizinhos que não lhe adotem o modo de pensar ou de crer.

Vacina-se contra a poliomielite, mas não consegue, por enquanto, imunizar-se contra os perigos do ódio e do ressentimento, da discórdia e do desespero.

Desfruta os recursos do subsolo, até mesmo do próprio mar, e descobre minas de nitrogênio nos céus que o rodeiam, no entanto, não sabe manejar, senão muito imperfeitamente, os valores da alma.


Compreendamos que a Humanidade atual efetua proezas admiráveis em todos os domínios da natureza física, mas é necessário que os nossos corações se adaptem às leis do bem que Jesus nos legou, de modo a irmanar-nos e a respeitar-nos uns aos outros, sem o que o lazer na Terra ser-nos-á fator desencadeante de tédio e delinquência e a grandeza exterior se nos erguerá em soberbo palácio — onde prosseguiremos sofrendo à míngua de amor.



Irmão Saulo

Todos somos naturalmente egocêntricos, pois o egocentrismo é a base da individualidade e consequentemente da personalidade. A pessoa humana é um ego conscientemente definido. E é necessário que seja assim, pois do contrário não seríamos um ser, uma consciência estruturada e capaz de agir. Mas o egoísmo é uma deformação do egocentrismo, uma doença do ego. Essa doença se manifesta por vários sintomas bem conhecidos: a arrogância, a avareza, o comodismo, a ganância e sobretudo a falta de respeito pelos outros.

A facilidade com que interferimos na vida alheia, com que xingamos, insultamos, caluniamos, julgamos os outros — é o maior flagelo que assola o mundo. Essa falta de respeito pelos outros é o fruto espinhento do egoísmo que gera os conflitos no lar, na sociedade, nas nações e na vida internacional.

Os espíritas, incumbidos da missão de restabelecer o Cristianismo na Terra, são os que mais necessitam de compreender esse problema. O primeiro dever dos espíritas, no tocante ao respeito pelo próximo, refere-se à própria doutrina que nos foi dada pelos Espíritos Superiores através do trabalho missionário de Allan Kardec. No entanto, a todo momento vemos espíritas que pretendem, sem o mínimo de conhecimento doutrinário exigível, reformar a doutrina e superar Kardec.

No item 4 do capítulo XX de O Evangelho Segundo o Espiritismo () temos a bela mensagem de Erasto, discípulo do apóstolo Paulo, intitulada “Missão dos Espíritas” que devia ser lida e comentada constantemente nas reuniões doutrinárias. Erasto nos adverte: () “Cuidado, que entre os chamados para o Espiritismo muitos se desviaram da senda! Atentai, pois, no vosso caminho — e buscai a verdade!”

Emmanuel, em sua mensagem, nos conclama ao amor e ao respeito mútuos, segundo “as leis do bem que Jesus nos legou”. Amor e respeito não querem dizer anulação do discernimento e da personalidade, querem dizer compreensão. Precisamos amar, compreender e respeitar os outros, mas sempre nos lembrando do respeito que devemos ao Espírito da Verdade e à doutrina que ele nos legou. O primeiro sinal de obsessão num espírita, num adepto da doutrina, é a sua leviandade na aceitação das fábulas que desfiguram o ensino dos Espíritos do Senhor, a falta de respeito para com o Espírito da Verdade.



Francisco Cândido Xavier


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