No Mundo de Chico Xavier (Especial)

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Capítulo II

Chico Xavier em 47 respostas

Ante os quarenta anos de trabalho mediúnico, somados em 1967, fomos ao encontro do médium amigo, Chico Xavier, em sua residência de Uberaba, a fim de entrevistá-lo sobre o acontecimento. Como teria começado a obra com os Espíritos 1nstrutores em 1927? em que circunstâncias — com quem? cientes de que o médium provém de família que fora integralmente católica até 1927, como se dera a sua transferência da Igreja Católica para o Templo Espírita? que sensações experimentaria o conhecido companheiro, hoje veterano da Causa Espírita e da mediunidade, após quarenta anos de serviço e de luta?

Formulamos, de escantilhão, quarenta e sete perguntas que o médium respondeu e que alinhamos aqui com a fidelidade dos ouvidos de que dispomos. Cada resposta é constituída por palavras do próprio Chico Xavier. Não tivemos o mínimo impulso de alterá-las.

Certamente, estimaríamos haver perguntado mais e mais, tantos são os assuntos da mediunidade para nós, os espíritas, mas não convinha estender-nos para não cansar nem ao médium e nem aos nossos leitores, motivo pelo qual adiamos numerosas questões para alguma nova oportunidade de futuro.

Passamos, pois, às nossas perguntas e às respostas respectivas, sem preâmbulo maior, para seguirmos no rumo direto de nossas observações e de nossos estudos.


— 8 de julho de 1927.


— Era uma noite de sexta-feira, em sessão pública do Centro Espírita Luiz Gonzaga, em Pedro Leopoldo.


— O “Luiz Gonzaga” havia sido fundado no mês anterior, isto é, em 21 de junho de 1927. Então, o grupo não dispunha de sede própria. Reunimos na residência da Sra. D. Josepha Barbosa Chaves, que nos havia emprestado um salão de sua casa, à rua São Sebastião, em Pedro Leopoldo.


— Sim. Posso mencionar muitos deles como sejam Ataliba Ribeiro Vianna, o primeiro presidente do “Centro Espírita Luiz Gonzaga”, José Felizardo Sobrinho, José Cândido Xavier, José Hermínio Perácio, D. Carmen Pena Perácio, Antônio Barbosa Chaves, Agripino de Paula, D. Ornélia Gomes de Paula, Jacy Pena, Maria Xavier, Zina 10avier, Nelson Pena e muitos outros.


— Sim. Temos Antônio Barbosa Chaves, residente em Pedro Leopoldo, D. Carmen Pena Perácio, Zina 10avier e Nelson Pena, em Belo Horizonte, Jacy Pena e Maria Xavier em Sabará, Minas.


— Perfeitamente. É minha irmã Maria Xavier Pena, casada com o Sr. Jacy Pena, ambos residentes em Sabará, hoje com vários descendentes.


— Sim, são ambos devotados seareiros do Espiritismo, na cidade em que residem.


que assistiu e qual foi essa atividade?

— Recordo-me. Minha primeira tarefa espírita foi a prece que se fez em torno de minha irmã doente, no próprio quarto em que ela se achava.


— 7 de maio de 1927, pela manhã.


— Nosso amigo Sr. José Hermínio Perácio, que veio de Maquiné, localidade próxima da cidade de Curvelo, em Mirras, mais de cem quilômetros distantes de Pedro Leopoldo, atendendo ao pedido de meu pai que o conhecia por amigo e espírita cristão, a fim de socorrer minha irmã, então em estado grave.


— Desde a primeira reunião de preces e passes, na manhã de 7 de maio de 1927, ela se restabeleceu e, até hoje, é uma valorosa companheira na Seara Espírita Evangélica.


— Nossos irmãos José Hermínio Perácio e sua esposa D. Carmen Pena Perácio, com os quais me iniciei no conhecimento da Doutrina Espírita e na mediunidade e diante de quem sou um Espírito eternamente devedor pelo bem que me fizeram.


— Ele desencarnou em Belo Horizonte, em janeiro deste ano, 1967, mas a esposa que lhe sobrevive, D. Carmen Pena Perácio, reside com as filhas, na capital mineira.


— Explicando-me o que eu sentia, em matéria de mediunidade, desde a infância, quando fiquei órfão de mãe, aos cinco anos de idade, amparando-me em minhas necessidades espirituais, ensinando-me a orar e presenteando-me com “O Evangelho, segundo o Espiritismo” e “O Livro dos Espíritos”, de Allan Kardec, os dois livros que me deram os alicerces de minha fé espírita-cristã e me orientaram para aceitar a mediunidade e respeitar os Bons Espíritos.


— Sim. No quintal da casa em que eu morava, via frequentemente minha mãe desencarnada em 1915 e outros Espíritos, mas as pessoas que me cercavam então não conseguiam compreender minhas visões e notícias e acreditavam francamente que eu estivesse mentindo ou que estivesse sob perturbação mental. Como experimentasse minha incompreensão, cresci debaixo de muitos conflitos íntimos, porque de um lado estavam as pessoas grandes que me repreendiam ou castigavam supondo que eu criava mentiras e do outro lado estavam as entidades espirituais que perseveravam comigo sempre. Disso resultou muita dificuldade mental para mim, porque eu amava os Espíritos que me apareciam, mas não queria vê-los para não sofrer punições da parte das pessoas encarnadas com quem eu precisava viver.


— Sim.


— Sim.


— Contava na confissão.


— Era ele, o Padre Sebastião Scarzelli, que residia em Matosinhos, cidade muito próxima de Pedro Leopoldo. Durante anos, até 1927, ele me ouvia paternalmente em confissão de dois em dois meses. Devo dizer que ele me ouvia admirado e compadecido. Não sei se ele acreditava em tudo o que eu narrava para ele, no que se referia ao que enxergava e escutava nos horários dos ofícios religiosos, mas posso declarar que ele sempre me tratou com a bondade de um pai. Ensinava-me a orar e a confiar em Deus, a respeitar a escola e cultivar o trabalho, a fazer novenas pelo descanso dos mortos e a esquecer as más palavras dos Espíritos infelizes quando eu as escutava.


— Ele me ouvia na confissão e ficava muito pensativo… Só pedia para que eu orasse muito. Lembro-me de que uma vez, debaixo da perseguição de um Espírito sofredor, quando eu ia completar quinze anos, chorei muito na confissão, rogando a ele para livrar-me… Ele interrompeu as minhas palavras e mandou que eu esperasse. Quando terminou o trabalho em que estava, veio a mim e me disse que eu não devia chorar ou desesperar-me com as visões e vozes que me procuravam e acrescentou que se elas viessem da parte de Deus, que Deus me abençoaria e me daria forças para fazer o que devia ser feito. Em seguida, caminhou comigo e vendo que eu estava descalço me perguntou se eu gostaria de ter um par de sapatos. Eu disse que sim e ele me levou a uma loja, a loja do Sr. Armando Belisário Filho, em Pedro Leopoldo, e comprou um par de sapatos para mim. Conto isso porque notei que ele queria me ver alegre, esquecendo o estado de angústia em que me achava.


— Sim, ele era sempre bom e paciente.


— Sim, houve essa despedida. Logo após os meus primeiros contatos com o Espiritismo, voltei à igreja de Pedro Leopoldo, ainda uma vez, para dar-lhe notícias de minha nova situação. Só podia vê-lo, nesse dia, no confessionário. Para lá me dirigi. Ajoelhei-me, como sempre fazia, e contei-lhe tudo o que se passara, a cura de minha irmã, minha emoção ao conhecer as ideias espíritas, os livros de Allan Kardec que eu estava lendo, as melhoras de meu estado íntimo… Ele não me condenou, disse apenas que não lera até aquela ocasião qualquer obra do Espiritismo e por isso nada podia dizer… Disse-me que a Igreja não aprovava o Espiritismo e que eu ainda era muito jovem para assumir compromissos e tomar decisões. Eu respondi a ele que apesar de respeitá-lo muito, ia estudar o Espiritismo e dedicar-me à mediunidade. Ele permaneceu calado. Então, disse a ele que eu não queria separar-me dele, que fora sempre tão bondoso para comigo, deixando-o contrariado. Pedi a ele que me desse a mão, e ele me estendeu a mão direita. Depois de beijá-la, pedi a ele que me abençoasse. Ele, então, me disse: “Seja feliz, meu filho. Eu rogarei à nossa Mãe Santíssima para que te abençoe e te proteja…” Levantei-me e saí, mas sabendo que havia tomado a decisão de praticar a mediunidade, quando cheguei à porta de saída, voltei-me para vê-lo, ainda uma vez e notei que ele, mesmo de longe me acompanhava com o olhar e me sorria.


— Há tempos, soube em Pedro Leopoldo, que ele, já velhinho, reside atualmente no Estado de Santa Catarina, o que não posso confirmar, porquanto depois de nosso último encontro, em 1927, não mais tornei a vê-lo.


— Sim, dentre as minhas professoras na infância, uma delas estimava me ouvir sobre o que eu sentia, perante o Mundo Espiritual, dedicando-me grande atenção.


— Chamava-se na Terra, Dona Rosária Laranjeira, pois desencarnou em Belo Horizonte, creio que por volta de 1956. Ela em católica de profunda compreensão cristã, e embora não pudesse ou não soubesse dar-me esclarecimentos espíritas, quando me achava perto dela só via e ouvia Espíritos amigos e nobres, com abençoados ensinamentos e consolações para mim.


— Estávamos em reunião pública e depois da evangelização, D. Carmen Perácio, médium de muitas faculdades, transmitiu a recomendação de um benfeitor espiritual para que eu tomasse o lápis e experimentasse a psicografia. Obedeci e minha mão de pronto escreveu dezessete páginas sobre deveres espíritas… Senti alegria e susto ao mesmo tempo. Tremia muito quando terminei.


— Não se identificou. Apenas assinou “um Espírito amigo”.


— Temos um grande arquivo de mensagens psicográficas em Pedro Leopoldo, mas não creio possa ser encontrada. De 1927 a 1931 recebi centenas de mensagens que foram inutilizadas, depois, a pedido do Espírito de Emmanuel, que passou a dirigir-nos de 1931 para cá. Disse ele que essas mensagens apenas se destinavam aos nossos exercícios de psicografia.


— Minha mãe Maria João de Deus.


— Foram eles, Manoel Quintão e Ignacio Bittencourt, ambos do Rio.


— Sim.


— Sim.


— Poderia, talvez, relacionar muitos assuntos e fazer muitas narrativas, mas peço para que isso fique para uma outra oportunidade, de vez que isso exigiria muito tempo.


— Como quem está viajando através da mediunidade, há quarenta anos, aprendendo sempre.


— Muitas.


— Sim.


— Decerto que o Mundo Espiritual permite que eu passe por essas provações para mostrar-me que receber livros dos 1nstrutores Espirituais não me cria privilégio algum, que estou apenas cumprindo um dever e que sou um médium tão falível quanto qualquer outro, com necessidade constante de oração e trabalho, boa vontade e vigilância.


— Sinto a satisfação do dever cumprido, mas sabendo que não cumpri minhas obrigações tão bem como deveria. Não posso esquecer que outros médiuns, muito mais diligentes e mais dedicados à Causa Espírita do que eu, têm trabalhado muito mais tempo, sem que nós nos lembremos deles.


— Os livros que passaram por minhas mãos pertencem aos Espíritos 1nstrutores e Benfeitores e não a mim.


— Sei que eles me trouxeram muita responsabilidade. Quanto ao caso da popularidade, sei que cada amigo faz de nós um retrato para uso próprio e cada inimigo faz outro. Mas diante do Mundo Espiritual não somos aquilo que os outros imaginam e sim o que somos verdadeiramente. Desse modo, sei que sou um Espírito imperfeito, e muito endividado, com necessidade constante de aprender, trabalhar, dominar-me e burilar-me, perante as leis de Deus.


— Sim, Emmanuel sempre me ensina que um médium é parte de uma equipe.


— Nem sempre.


— Deixaram de atuar ao meu lado, mas ainda não vi companheiro algum que abandonasse a seara espírita. O campo do Senhor é infinito.


— Naturalmente que, como acontece a qualquer pessoa, sinto a falta do companheiro que se retira. Emmanuel, porém, afirma-me sempre que devemos respeitar as resoluções dos entes amados e estimá-los com o mesmo apreço, seja de perto ou seja de longe. Acrescenta, ainda, o nosso Instrutor Espiritual que temos comunhão mais íntima uns com os outros, onde e tanto quanto o Senhor no-lo permite e que se o Senhor nos coloca num lugar de trabalho, isso não é razão para que outros sejam situados indefinidamente junto de nós e que o Senhor tanto pode afastar-nos para outros setores de serviço, como apartar de nós aqueles que nos servem de apoio e de estímulo, até que pelos desígnios dele mesmo, nosso Divino Mestre, venhamos a nos reunir todos, de novo, em nível mais alto da vida. Desse modo, aprendi com Emmanuel e outros Bons Espíritos que o Senhor nos mantém onde possam haver melhores oportunidades de trabalho e aperfeiçoamento para nós. Cada um de nós, dessa maneira, segundo creio, está no lugar e na posição em que possa ser mais útil à obra de Deus e a si mesmo. José Xavier, meu irmão, desencarnado em 1939, que foi espírita dedicado à nossa causa e até hoje, quando possível, convive espiritualmente comigo, costuma dizer-me nas horas difíceis: “Chico, você pode estar certo de que Jesus não dá mancada…”


— Se Jesus quiser…


— Então, pediria a Ele, Nosso Divino Mestre, a felicidade de recomeçar a tarefa, tal qual tenho tido o meu pequenino setor de ação, nas mesmas experiências e nas mesmas circunstâncias, porque quanto mais avanço na idade física, mais amigos e mais bênçãos vou encontrando…


— Sim, peço a todos os meus amigos e aos possíveis adversários, que eu tenha sem saber, a esmola de uma prece a Nosso Senhor Jesus-Cristo, em meu favor, para que eu possa acertar mais e errar menos.


Francisco Cândido Xavier
Emmanuel


Francisco Cândido Xavier


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