No Mundo de Chico Xavier (Especial)

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Capítulo V

Encontro com Chico Xavier


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Intenção nossa, há tempos, auscultar nosso caro Chico Xavier, devotado médium que, há quarenta anos, vem oferecendo o melhor de si à Causa Espírita, através da mediunidade psicográfica, com respeito às suas tarefas medianímicas, mais intimamente consideradas, e daí surgiu a presente entrevista.

Nós, que temos a felicidade de conhecê-lo e de ser-lhe coetâneos, tendo-o, na atualidade, tão perto de nós, não sopitamos o desejo de endereçar-lhe diretamente algumas perguntas. Como nos esclareceria sobre o desenvolvimento mediúnico? Teria alguma vez lavrado outro campo de serviço, que não o da psicografia? Como se iniciou na obra do livro? Como se sente aos quarenta anos ininterruptos de trabalho?

Aventuramo-nos a fazer-lhe essas e outras interrogações e com as respostas originais que nos forneceu, passamos, sem mais delonga, nosso despretensioso estudo aos estimados leitores, na certeza de que estamos servindo à difusão de nossa Renovadora Doutrina, porquanto, depois de nosso encontro nas vinte e duas questões que se seguem, reconheci que não temos aí tão somente material informativo, mas também recursos outros tocados de profunda experiência humana, que nos leva a redescobrir, em nossas atividades espíritas-cristãs, os caminhos do coração para o acesso às fontes da fé pura e do entendimento, de que se derramam sobre nossas almas as águas vivas da esperança, verdade, amor e luz.


— Do ponto de vista técnico, não sei responder. Pela prática da vida, creio, porém, que desenvolvimento mediúnico é o aumento da intimidade do médium com as entidades espirituais ou a penetração gradativa da pessoa humana na esfera de atividades da alma, habitualmente invisível para os olhos comuns.


— Não. À medida que fui trabalhando na psicografia, os Benfeitores Espirituais, a pouco e pouco, me abriram outras possibilidades de observação, como sejam as que se relacionam com a clarividência, a clariaudiência, a psicofonia, as faculdades curativas e o serviço espiritual à distância, conquanto Emmanuel, o instrutor que nos orienta desde 1931, considere que a psicografia é o meu setor particular de trabalho, do qual não devo desviar a atenção.


— Sim. Recordo-me que nos anos de 1952 e 1953 cooperei com os Amigos Espirituais em diversas reuniões de efeitos físicos, carinhosamente acompanhadas por alguns amigos íntimos, notadamente de Pedro Leopoldo, Belo Horizonte, Rio e São Paulo, entretanto, após dois anos de experiências com bons resultados, Emmanuel solicitou encerrássemos essa fase de meus pobres recursos psíquicos, para não interromper os serviços do livro mediúnico.


— Alegou o nosso caro mentor que o nosso entusiasmo crescente pelos fenômenos, estava a ponto de descambar para a curiosidade improdutiva e que isso ameaçava o trabalho já instalado por ele e outros benfeitores espirituais para a formação do livro psicográfico. Além disso, acrescentou que outros medianeiros se incumbiriam das tarefas de materialização e que não me cabia forçar situações ou alterar os planos de trabalho da Esfera Superior.


— Devo explicar que sou também médium para serviço de doutrinação a entidades perturbadas e sofredoras. Desde 1928, frequento sessões de desobsessão e, há muitos anos, esse meu esforço é semanal. Em Pedro Leopoldo, participei das reuniões dessa modalidade que se realizavam no “Centro Espírita Luiz Gonzaga” e, depois, no “Grupo Espírita Meimei”. Atualmente, nas noites de quarta feiras, partilho as sessões para desobsessão que se efetuam na “Comunhão Espírita Cristã”, aqui de Uberaba.


— Sim, ele afirma que tenho necessidade disso, ensinando-me que o meu concurso em reuniões de desobsessão é para mim o melhor meio de harmonizar-me com irmãos recentemente desencarnados que não simpatizam comigo e de obter a tolerância daqueles Espíritos a quem ofendi em minhas existências passadas e que naturalmente me observam ou seguem do Mundo Espiritual, na posição de adversários aparentemente gratuitos.


— O Espírito de Emmanuel.


— Quando começou a visitar-me em 1931.


— A única pessoa, entre os nossos irmãos encarnados, que me avisou sobre isso foi a nossa irmã D. Carmen Pena Perácio, a médium abnegada que me orientou os passos iniciais na Doutrina Espírita. Lembro-me de que na reunião da noite de 18 de janeiro de 1929, numa Sexta-feira, no “Centro Espírita Luiz Gonzaga”, em Pedro Leopoldo, findas as atividades da sessão evangélica, ela me disse ter visto um quadro espiritual, mentalizado por um Espírito benfeitor até nossa casa. Afirmou nossa irmã que vira muitos livros em torno de mim, trazidos por amigos desencarnados. Eu não tinha qualquer pensamento a respeito do assunto e, não tendo ouvido bem a palavra “livros”, protestei alegando que eu não merecia, de modo nenhum, que os Espíritos protetores me trouxessem “lírios”. Julguei que ela se referia a essas flores. Os presentes riram-se fraternalmente, diante de minha surpresa e ela explicou que se tratava de “livros”. O incidente de minha incompreensão marcou o aviso, a tal ponto, que D. Ornélia Gomes de Paula, nossa companheira de ideal espírita em Pedro Leopoldo, então presente à reunião, anotou a data do aviso de nossa irmã D. Carmen e me deu essa nota, por escrito, quando saiu o “Parnaso de Além-Túmulo”, em 1932.


— Sei que a tarefa do livro mediúnico pertence sobretudo a ele com outros mentores da Vida Maior, mas guardo a convicção de que Emmanuel, com muita caridade e paciência, tenta adaptar-me para a colaboração com ele, desde 1931 até agora, assim como um viajante muito educado procura domar um animal freado e irrequieto, a fim de realizar uma longa excursão.


— Muito mais que isso. Ele tem sido para mim um verdadeiro pai na 5ida Espiritual, pelo carinho com que me tolera as falhas, e pela bondade com que repete as lições que devo aprender.


— Sim. Em trinta e seis anos de convívio estreito, quase diário, ele me traçou programas e horários de estudo, nos quais a princípio incluiu até datilografia e gramática, procurando desenvolver os meus singelos conhecimentos de curso primário, em Pedro Leopoldo, o único que fiz até agora, no terreno da instrução oficial.


— Penso que não, porque diariamente recebo lições de Emmanuel e, às vezes, de outros Espíritos Amigos. Em trinta e seis anos de escola disciplinada com eles, creio que eu deveria mostrar o proveito, de que me vejo muito longe.


— No trato com os outros, porque diz ele que no trato com o próximo a luz do Evangelho de Jesus deve ser comunicada de quem fala para quem ouve. Quando converso com qualquer pessoa em voz áspera, com impaciência, com agressividade, com anotações de maledicência ou com azedume, ele deixa passar os meus momentos infelizes e, depois, principalmente quando entro em meditações e preces da noite, ele me repreende severamente, lamentando as minhas faltas.


— Recordarei um dos muitos casos nesse sentido, que trago em minha experiência pessoal. Na manhã de 3 de novembro de 1958, viajava eu num avião de Uberaba para Belo Horizonte. Até Araxá, tudo correu bem, mas entre Araxá e a capital mineira, o aparelho foi tomado de grande excitação. Parecia descontrolado e inseguro. Os passageiros começaram a reclamar. O comandante muito sereno veio até nós e disse que não havia motivo para alarme, que a nave seguia para o objetivo em excelentes condições e explicou que os movimentos desordenados do aparelho eram devidos a um fenômeno atmosférico que ele denominou por “vento de cauda”. O pessoal acalmou-se, mas como os movimentos bruscos ficaram mais fortes por alguns instantes, muitas pessoas começaram a orar em voz alta e quatro crianças passaram a chorar assustadas. A inquietação geral tomou meu espírito e comecei também a orar, quase gritando: “Oh! meu Deus! oh! meu Deus, tende piedade de nós!”. Nisso, quando eu estava nessas exclamações em ponto alto, vi Emmanuel entrar no avião. Veio a mim e perguntou por que motivo eu clamava daquele jeito. Eu respondi: “Estamos em perigo”… E acrescentei, suplicando: “Será esta a hora em que vou morrer?” Ele, muito calmo, apenas me disse: Não posso saber se o Senhor resolveu determinar a sua desencarnação, agora, mas se você julga que vai morrer, procure morrer com educação, sem aumentar a aflição dos outros. “Desde esse momento, me refiz na poltrona, enquanto que, pouco a pouco, o avião retomava os movimentos normais. Tudo não passara de um acontecimento regular em viagem.


— Estudo e trabalho, com disciplina e dever cumprido.


— Emmanuel me deixa livre para escolher os livros que eu deseje e dedica muito apreço a todas as obras que analisam seriamente a mediunidade, mas, desde 1931, me aconselha a estudar constantemente o Novo Testamento e a Codificação de Allan Kardec. Desde esse tempo, não passei um dia sequer sem ler algum trecho ou página dos Evangelhos e dos livros de Allan Kardec, principalmente, o “O Evangelho segundo o Espiritismo” e “O Livro dos Espíritos”, pelo menos quinze a vinte minutos diariamente.


— Lembro-me de que num dos primeiros contatos comigo, ele me preveniu que pretendia trabalhar ao meu lado, por tempo longo, mas que eu deveria, acima de tudo, procurar os ensinamentos de Jesus e as lições de Allan Kardec e disse mais que, se um dia, ele, Emmanuel, algo me aconselhasse que não estivesse de acordo com as palavras de Jesus e Kardec, que eu devia permanecer com Jesus e Kardec, procurando esquecê-lo.


— Tenho a honra de haver conhecido muitos companheiros da mediunidade em nosso País, mas peço licença para não declinar nomes porque a lista seria grande e não devo recordar uns e omitir outros, numa entrevista improvisada como a nossa.


— Não tenho cansaço algum. A mediunidade sempre foi para mim uma bênção de Deus.


— Reconhecido sim, mas não entusiasmado, porque nada fiz que me dê o privilégio de receber qualquer consideração especial. Na condição de criatura humana, conheço as minhas deficiências e falhas e na condição mediúnica sou um animal em serviço. Agradeço a todos os amigos queridos da União Espírita Mineira, o carinho da lembrança, mas não podemos esquecer os demais companheiros que realizam pela Causa Espírita, o que estou muito longe de fazer em minha indigência total. Nesse sentido, peço permissão para recordar aqui dois exemplos, quais sejam nossa irmã Dona Carmen Pena Perácio, em Belo Horizonte, e nossa irmã Antuza Ferreira Martins, aqui mesmo em Uberaba, missionárias fiéis da mediunidade, em serviço ininterrupto, há mais de quarenta anos consecutivos. Cabe-me dizer que devo à Dona Carmen Pena Perácio a felicidade de minha iniciação mediúnica, guardando para com ela uma dívida de gratidão e de amor que jamais conseguirei resgatar.


— Recomendação não e sim rogativa. Peço aos nossos companheiros de ideal e trabalho uma prece, em meu favor, a fim de que eu venha a errar menos no cumprimento de minhas obrigações.


Francisco Cândido Xavier
Emmanuel


Francisco Cândido Xavier


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