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Versão para cópiaEXCERTOS DE CARTAS
Da volumosa correspondência do Além, recebida por um propagandista da Doutrina que ficou retardado em relação aos seus companheiros de trabalho que já foram repatriados e lhe escrevem preciosas observações, vamos transcrever aqui alguns trechos de interesse para o estudioso.
– A Editora.
I
... Com o auxílio divino, venho dilatando meus conhecimentos e aprimorando sentimentos, preparando-me para o futuro de nossa união.
Minha maior alegria, Ismael, quando voltei, verificou-se com a reintegração da minha saúde. Oh! quando pude mover-me, quando me desprendi da cruz que me retirava por longos anos, então senti, de muito perto, a bendita influência d’Aquele que deu vista aos cegos e curou os paralíticos.
* Profundo júbilo assenhoreou-se-me do coração e o beijo da liberdade, que a morte me trouxera, recordava a grandeza da bondade divina. E quis voar para junto de todos os que amo e quis aproximar-me principalmente do teu coração, para comunicar-te as alegrias da minha ressurreição; todavia, reconheci a pesada fronteira que nos separava então, e fui obrigado a caminhar em outro rumo... Quantas interrogações te sugerem estas minhas palavras! Eu sei que entre nós os laços de amizade sempre foram sagrados como os que existem entre um filho e um pai. E, por isto, Ismael, desejaria atender-te a todas as observações. Mas as limitações continuam aqui, entre nos, bem fixas no papel frágil e no lápis incapaz que não suporta as definições atuais de nossas realidades mais belas.
Minha mãe esperava-me. E que poderia eu desejar senão seu regaço amoroso e acolhedor? Ah! em vão me esforçaria por dizer-te tudo!... Que amigos estenderam-me, mais tarde, a sua colaboração e, retemperando energias, no ambiente novo, guardei um pensamento exclusivo - o de fortalecer-me para fortalecer-te! Tuas cartas alimentavamme o coração, teu afeto orvalhava-me o íntimo, fazendo desabrochar as flores da esperança no terreno árido das minhas ilusões fenecidas. Novos horizontes se abriram para mim, entretanto, o nosso antigo afeto persistia dentro do meu ser. A beleza da esfera diferente, os céus maravilhosos, a campina multicor sob a atmosfera radiante, onde me haviam preparado o repouso, não me faziam esquecer-te. Contudo, meu filho, não obstante as maravilhas exteriores, mais que nunca encontrei a mim mesmo. A morte do corpo libertara-me a alma oprimida na provação expiatória, mas não realizava o milagre que eu esperava. - Meu nível mental não demonstrava alterações, meus sentimentos eram os mesmos. Terminara a curva no caminho redentor, de que tivera necessidade para apagar certas nódoas de meu pretérito obscuro, mas ao retornar a estrada real da evolução, verifiquei que precisava desdobrar-me em serviços novos para melhorar a posição que me era própria... Não constituindo a morte o banho miraculoso de sabedoria e iluminação, era abrigado a descobrir aos meus próprios recursos a fim de aprimorar os escassos valores que havia adquirido. Então, compreendi a sublimidade do Espiritismo que nos traça um roteiro de atividades progressista no caminho das lutas humanas e percebi o valor do indivíduo na obra de Deus. Somos, nós mesmos, os arquitetos dos nossos destinos, os construtores de nossa felicidade ou de nosso infortúnio, os senhores do "mundo do nosso ser", e sem que nos transformemos para a esfera superior, sem o esforço da conversão para o Cristo - que tem sido para nós um mito distante e não um Mestre próximo - não poderemos alcançar o cimo de nossos idealismos edificantes
ABEL
II
... É um consolo suave rememorar o pretérito, de espírito voltado para o futuro, através do trabalho e da realização em cada dia.
Não precisamos, meu caro, estacionar em lamentações pelos companheiros que se distanciam do serviço, nem comentar, sentidamente, as incompreensões daqueles que ainda hoje fogem amedrontados da esfera de luta. Apraz-nos tão-somente a permuta do mesmo abraço cheio de fervorosa confiança nos tempos de porvir. E é com alegria que te aconchego ao coração nestes momentos rápidos de reencontro para dizer-te do meu júbilo de companheiro...
... O Esperanto e o Espiritismo foram as duas aspirações maiores da minha vida última e vejo com alegria que são as duas causas supremas dos teus sonhos de realizador.
Continuemos 1smael, na edificação da fraternidade espiritual.
Se a vida não cessa, o trabalho é também permanente.
Ainda não encontrei motivos para buscar o descanso beatifico dos que olvidam as realizações para a eternidade. Colmeias imensas de trabalhadores movimentam-se aqui, estruturando celeiros de luz e sabedoria, amor e paz, com vistas à Humanidade encarnada e desencarnada. A escada evolutiva suporta bilhões de seres em diferentes degraus. Escolas diversas multiplicam-se ao infinito. Círculos de trabalhos sucedem-se uns aos outros interminavelmente. Como é possível, meu amigo, fugir ao grandioso espetáculo do serviço? Por que processo tentar o acesso ao paraíso dos que repousam em suposta paz sem fim, se apelos à luta edificante surgem de todos os lados? Nosso maior desejo, na esfera atual de serviço, é o fazer sentir, aos companheiros encarnados, o caráter sublime do esforço gradativo e incessante. O plano divino foge às interpretações apressadas dos homens, ainda mesmo quando esses homens sejam apóstolos da filosofia puramente humana. A morte do corpo faz-se acompanhar de revelações mais altas e mais vastas. A existência secular reduz-se à gota minúscula de tempo e só a realização espiritual, eterna e a sublime, pode atingir a verdadeira sabedoria, conferindo ao homem sua herança de Divindade.
Nós, os companheiros esperantistas e espiritistas, prosseguimos na mesma luta abençoada, incentivando a fraternidade humana e a redenção espiritual. Podes crer, meu amigo, que nenhum esforço nobre é perdido, nenhum trabalho para o bem escapa à justiça das compensações naturais.
Quanto estiver em tuas mãos e possibilidades, distribui o entusiasmo, a esperança e a alegria no grande campo do Esperanto e do Espiritismo no Brasil.
Aqui se forma diferente mentalidade para a Terra do milênio futuro. Novas expressões de espiritualidade renovadora surgirão do recanto planetário que nos é tão querido, sazonando o fruto da compreensão humana. O mundo tem sede de união e universalismo.
JOÃO ERNESTO
III
... Rejubilando-nos com a realização do novo Congresso Nacional de Esperanto, não posso fugir à obrigação que me cabe no setor do reconhecimento à dedicação que consagraste aos serviços básicos da iniciativa.
Indiscutivelmente o esforço da equipe é palpável e não podemos menosprezar a tarefa em conjunto dos companheiros que se devotam às edificações esperantistas no Brasil...
... Felizmente, a nossa sementeira do Esperanto no Brasil segue em plena ascensão, testemunhando a grandeza espiritual de nossa destinação na comunidade dos outros povos...
... O movimento despertou a mais larga simpatia em nossos círculos espirituais...
... O Congresso tem sido objeto da maior atenção em nosso plano. Nas linhas de nossa colaboração, permanece orientado pelo nosso abnegado Couto Fernandes, que se desvela por articular todas as peças do empreendimento, considerando-lhe a projeção no porvir.
A cerimônia inaugural contou com a presença de vários orientadores europeus, inclusive Schulhof que representou o nosso mentor maior, em nos referindo ao nosso apostolado esperantista, particularmente considerado. Em nossa companhia, aqui, permanecem companheiros diversos, dentre os quais Guillon Ribeiro, José Tosta, João Ernesto e outros, alguns deles ligados à nossa lide após a desencarnação. Seria fastidioso enumerar nomes e aqui devo finalizar, em virtude dos imperativos que prevalecem nesta casa de caridade e oração.
Cumprimentamos, comovidos, todos os irmãos de luta, convertidos em paladinos brasileiros da nossa causa, inspirados pela Sublime Trilogia de Evangelho, Espiritismo e Esperanto e, na expectativa do renovado fervor de nossos corações na marcha do entendimento e da fraternidade entre as criaturas, sou o velho amigo e servidor de todos.
ABEL
* O autor dessa missiva, Abel Gomes, era paralítico e quase cego.
A mensagem foi recebida na sessão pública do "Centro Espírita Luiz Gonzaga", de Pedro Leopoldo, na noite de 23. 09. 1949, quando se realizava em Belo Horizonte o 12º Congresso Brasileiro de Esperanto.
Tomavam parte na sessão sete congressistas, um dos quais é austríaco, mas radicado em São Paulo e perfeitamente identificado com os movimentos espírita e esperantista do Brasil.
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