Notáveis Reportagens com Chico Xavier

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Capítulo XXVIII

No rumo das novas revelações

O “quebra-cabeças” do repórter — Será a vida apenas um sonho vazio? — Indagações de um átomo de um mundo atordoado.


PEDRO LEOPOLDO, 24 (Especial para O GLOBO, por Clementino de Alencar) — Feito o relato da última sessão, prossigamos agora no rumo de fatos novos e de novas revelações.

Ao fim da nossa correspondência de ontem, à tarde, expusemos a intenção de um encontro, à noite, com o médium, , e a boa vontade de Chico Xavier em nos atender.

Sucedeu, porém, que , adoentado, há já algum tempo, piorou um pouco, ontem, devido talvez, ao frio que tem feito aqui; e Chico Xavier não pode abandonar cedo, para nos atender, a casa do seu patrão e padrinho.

Ficou, pois, a entrevista transferida para hoje.

Ao fazermos tal solicitação tínhamos em mira o seguinte: obter, por intermédio de Chico, uma comunicação com Emmanuel, e então fazer a este algumas perguntas em inglês, idioma que o médium não conhece, absolutamente, segundo a afirmação categórica de pessoas idôneas que, no convívio tão natural das cidades pequenas, conhecem o rapaz desde quando era ele uma criança.


O “quebra-cabeças” do repórter…


Com sua intenção de levar o médium a novo teste, o repórter cai, por sua vez, numa espécie de “quebra-cabeças”…

Com todo o seu inglês teórico dos “preparatórios” e o prático do “Berlitz”, gasta o coitado, sem o auxílio de um dicionário, do “Little Londoner” e de um “amigo inglês”, boa parte da sua tarde na tarefa de elaborar uma série de perguntas das quais escolherá algumas para levar ao médium…

Arre! Que custo!… Inglês não é assim tão fácil…


Será a vida apenas um sonho vazio?…


A certa altura da nossa “intensa tarefa” ocorre-nos, felizmente, da lembrança de que lêramos algures, num “”, de Longfellow, estes fragmentos da rebeldia de um coração moço contra a sombria arenga do salmista:


“Tell me not, in mournful numbers,

Life is but an empty dream!”

(…)

“Dust thou art, to dust returnest,

Was not spoken of the soul.”


Não me digas que a vida é apenas um sonho vazio…

Isto — “És pó e ao pó retomarás” — não se refere à alma…


Daqui, olhando a colina distante e ensolarada sob a tarde bonita que o céu de Pedro Leopoldo generosamente nos dá, todos os dias, sentimos também, com a palpitação tão ampla, tão “viva”, da vida, o ímpeto daquela rebeldia.

E elegemos a primeira pergunta ansiosa: — Is life but an empty dream? [A vida não é senão um sonho vazio?]


Podem os Espíritos influir sobre o futuro dos vivos?


Depois, ocorrem-nos outras inquietações, outras incógnitas que nos levam a grafar isto:

Have you, Spirits, any power upon the future of your living friends? [— Vocês tem, Espíritos, qualquer poder sobre o futuro de seus amigos vivos?]


Indagações de um átomo de um mundo atordoado


Por fim as nossas inquietações humanas se espraiam, confundem-se na palpitação coletiva dos nossos dias agitados, não raro, por sombrias ameaças.


E grafamos ainda para Emmanuel, o esclarecido Amigo do Espaço, ainda estas indagações:

— I should like to ask you something else: Many voices say we ate living through dangerous days, the phantom of war ahead.

What do you think about? Shall we have a best time, in the near future? What do you think about the possibility of a new world war?

(— Eu gostaria de perguntar-vos mais alguma cousa. Muitos dizem que nós estamos atravessando dias perigosos, com o fantasma da guerra pela frente. Que pensais a respeito? Teremos melhores tempos, num futuro próximo? Que pensais sobre a possibilidade de nova guerra mundial?)

Na casa do médium


Cerca das 21 horas estávamos diante do médium, .

Tudo em silêncio. Suas irmãs tinham saído.

Palestramos um pouco.

Chico Xavier lê-nos algumas páginas psicografadas de 1934 para cá, entre as quais uma interessante comunicação de Berthelot.

Depois, expomos o fito de nossa visita.

Com a simplicidade de costume, ele acede ao que pedimos. Apenas, não tem, no momento, um lápis sequer. Oferecemos-lhe o nosso. Entregamos-lhe as duas primeiras das perguntas acima. Passando sobre elas os olhos, rapidamente, ele, visto não haver mesa na sala, pede-nos licença e senta-se na mesinha da peça reservada às refeições da família, que é ao lado, e toda se expõe aos olhos do visitante que esteja na sala.

Em seguida, abrindo sobre a mesa as folhas que lhe déramos comunica-nos que se vai concentrar.

Quanto a nós, sentamo-nos junto à porta de comunicação, ponto de onde se vê a mesa, e, delicadamente, nos inclinamos sobre que temos sobre os joelhos.

Instantes depois, ouvimos o ruído característico do lápis correndo sobre o papel.

E não tardou muito que Chico Xavier nos trouxesse as respostas.

(O Globo, 01/06/1935)




Clementino de Alencar
Francisco Cândido Xavier


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