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Capítulo XLIII

O nacionalismo diante da lei da fraternidade


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Universo — objetivação do pensamento divino


PEDRO LEOPOLDO, 21 (Especial para O GLOBO, por Clementino de Alencar) — Numa das cartas enviadas a Chico Xavier, o missivista, considerando o conceito do nacionalismo em face das leis fraternas de que repetidamente fala Emmanuel, indaga:

— “Se o nacionalismo multiplica as energias de um povo, parece, entretanto, que vai de encontro à lei da fraternidade. Como deveremos entendê-lo?


Desejos e entusiasmos compreensíveis


Emmanuel assim responde a esse consulente:

— Compreendemos que se deva amar o pedaço de terra que nos viu nascer e compreendemos também o desejo de engrandecê-lo pelo trabalho, pela inteligência, pelo progresso, tornando-o digno da admiração dos outros. Aliás, todas as concepções do verdadeiro patriotismo se enquadram no esforço de cada indivíduo em favor da evolução geral.

Fazer, porém, a apologia desses movimentos nacionalistas que, a pretexto de unificação e energia administrativa, operam a revivescência das autocracias de outrora, incentivando as guerras, provocando revoltas, coibindo o pensamento, é desconhecer as leis da solidariedade humana.

Aplaudir essas iniciativas que consideramos como atentatórias à lei fraterna que rege os mundos e as almas, seria cooperar para o desvirtuamento de todos os princípios da justiça e da ordem.


A mística nacionalista e o bem coletivo


Ninguém pode prever as consequências dessa mística nacionalista que, na atualidade, percorre o mundo de bandeirolas ao vento. Em todas as organizações políticas encontram-se concepções elevadas que interessam, de perto, a vida do Estado; mas todo e qualquer extremismo, dentro delas, é prejudicial ao bem coletivo.


O isolamento dos Estados e o desequilíbrio econômico


Cria-se a política dos governos fortes a fim de se incentivar as energias nacionais. Isola-se o Estado e, nesse isolamento, os grandes erros começam porquanto os desequilíbrios econômicos são inevitáveis.

Os homens não podem fugir aos dispositivos do código da fraternidade universal. Cada individualidade dá o que possui no problema das possibilidades e das vocações, no edifício do progresso coletivo. Uma traz a ciência, outra a arte, outra uma nova modalidade evolutiva.


Quando os países lavram a própria condenação


Dentro do mundo, são assim as nacionalidades, no tocante à produção. O que se faz necessário é regulamentar-se a troca dos produtos de cada uma. Ainda aí encontramos as lições de fraternidade da natureza.

Um país, pretendendo isolar-se no mundo, lavra a sua própria condenação.


O Universo é o Pensamento Divino em sua expressão objetiva


Não vemos, portanto, nenhuma legitimidade nesse exclusivismo antifraterno. Fisicamente, as nações representam somente o patrimônio da Humanidade. O Universo é o Pensamento Divino em sua expressão objetiva. O plano de perfeição una absorve todas as coisas, impondo a lei de Fraternidade a todas as criaturas.

O amor de Deus envolve a criação infinita. Para a sua misericórdia, portanto, um país não vale mais do que outro; e os homens, sejam europeus, africanos, hotentotes, todos são irmãos.


Obras puramente humanas…


As rajadas de guerras, de nacionalismos incompreensíveis, são obras humanas, envolvendo grandes e temíveis responsabilidades individuais e coletivas. Todavia, todos os feitos do homem na esfera da existência transitória são assinalados pelo seu caráter temporal. O que existe é a lei divina, é a alma imortal.


Evolução


A evolução pode ser lenta, mas é segura; pode ser combatida, mas será aceita em tempo oportuno.

A História é o vosso roteiro. Onde se encontram a Esparta e Atenas de outrora? Que sopro destruidor pulverizou as esplendorosas civilizações que floresceram junto do Ganges, do Nilo, do Tigre, enchendo de vida as suas margens? Que força extra-humana soterrou a Roma poderosa da Antiguidade, num aluvião de cinzas?… Onde se acham as suas galeras soberbas cheias de patrícios e de escravos, as suas conquistas, os seus impérios faiscantes?…

A mão do processo evolutivo, invisível e misteriosa, que estancou as lágrimas da plebe sofredora, subjugou os tiranos, assinalando as suas frontes com o estigma da maldição dos séculos.


Os ventos da noite sobre as ruínas…


O progresso vem trabalhando com sacrifícios e, sobre as ruínas do Coliseu e de Spalato choram, amargamente, os ventos da noite.

O poder de homens e de nações passa como a sua própria ação. Daí a necessidade da difusão do conceito imortalista da vida, para que a humanidade concentre as suas possibilidades na aquisição dos tesouros espirituais, os únicos que se não dissipam no vórtice das mutações da matéria.


E as promessas do espiritualismo


O moderno espiritualismo, explicando aos homens, em espírito e verdade, as lições trazidas ao mundo por Jesus, há de reparar os excessos do nacionalismo, integrando as criaturas no conhecimento das verdadeiras leis fraternas e extinguindo os ódios raciais que infelicitam a humanidade.




Essa reportagem foi publicada originalmente em 1935 pela LAKE e é o 1º item do 8º cap. da 3º parte do livro “”



Clementino de Alencar
Francisco Cândido Xavier


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