Páginas do Coração

Versão para cópia
Capítulo VIII

Roteiro de elevação

Mensagem recebida em 1º de maio de 1951.


Meu querido Ricardo. Que a Bondade Infinita de Deus nos abençoe.

Correm os dias para o corpo e a experiência na Terra, à medida que o tempo avança sobre a carne, é alguma cousa semelhante ao nevoeiro que se adelgaça… A noite como que vai tocando a seu termo e o nosso coração se banha, feliz, aos primeiros raios da nova aurora. Um sol diferente nos ilumina — o astro de um entendimento mais alto e mais nobre, à cuja claridade bendita, cada pessoa e cada cousa do mundo aparecem no lugar que lhes é próprio. Uma profunda compaixão torna a nossa alma, diante de tudo o que signifique incompreensão e ignorância e aprendemos, meu querido companheiro, a seguir viagem, quase a sós, pelo monte acima de nossos próprios sofrimentos santificadores.

Semelhante subida não é de todos. Muitos se deixam ficar desanimados, no fundo vale do desalento, da tristeza, da desolação. Muitos se apegam a velhos enganos do campo físico e algemam-se a pedaços de ouro e pó quais se fossem tesouros de luz para acordarem, mais tarde, em plena sombra…

A ascensão pelo trilho escabroso é daqueles que sabem despregar a si mesmos, violentando o próprio coração para adquirirem o ensinamento vivo da renúncia salvadora. Somente a boa vontade com aplicação às lições edificantes do Mestre consegue impulsionar-nos para o Alto, porque, enquanto nos confiamos ao cárcere do nosso orgulho e da nossa vaidade, fazendo valer apenas os nossos desejos sobre os interesses e necessidades do próximo, enquanto nos perdemos na teia escura de nossos caprichos, as dívidas pesadas nos algemam à lama e à treva de nossas antigas imperfeições.

Abençoada seja, desse modo, a fé sublime que nos levanta os corações para uma nova interpretação da vida e do mundo.

Possuir para dar. Sacrificarmo-nos a benefício dos outros.

Contentarmo-nos com pouco, a fim de que os nossos companheiros de jornada possuam o mais de nossas possibilidades.

Sermos pequeninos para que o próximo seja maior.

Voltar contra nós o buril do aperfeiçoamento para que o mármore de nosso coração deixe plasmada em nós mesmos a escultura divina da humildade.

E nesse serviço abençoado chorar para dentro de nosso peito as oportunidades perdidas com a esperança de nos esforçarmos mais proveitosamente amanhã em favor de nossa elevação espiritual, suportando os espinhos e as pedras da marcha, a fim de que, mais cedo, possamos encontrar nos píncaros do conhecimento e da bondade os primeiros raios da Divina Luz.

Agradeço a você, meu querido Ricardo, quanto vem fazendo por nosso progresso. Creia que o seu trabalho me pertence, que o suor de sua alma é igualmente meu. Somos lavradores do campo humano, que recolhem hoje as espigas amadurecidas de nossa sementeira de ontem, a fim de espalhar-lhes os grãos de amor e luz com todos os nossos irmãos menos felizes do grande caminho. Cada vez que os seus braços se estendem para ajudar, que o seu pensamento se alonga para orar ou meditar, sinto-me crescer em espírito para a Vida Superior.

Estamos entrelaçados com inúmeros amigos e inimigos do nosso passado e, somente aqui, você poderá calcular a extensão de minhas palavras. É preciso perdoar muito e esquecer ainda mais, a fim de que nosso espírito consiga adiantar-se na senda sem maiores obstáculos.

Cada vez que nosso coração sangra de dor na Terra, é a impureza que expulsamos do íntimo de nós mesmos, convertendo-nos o espírito em uma consciência mais sutil, mais renovada e mais bela, pronta a desferir voo, em demanda das Esferas Imortais da Celeste União. Quem nos atormenta, nos auxilia. Quem nos fere, nos aperfeiçoa. Quem nos bate ou humilha, é nosso benfeitor, desde que saibamos recordar o Senhor e imitar-lhe os exemplos no sacrifício e na cruz.

Não tema, pois, os percalços do roteiro. Quem não luta, costuma estagnar-se. Quem para, dorme. E quem se entrega ao sono da alma, tarde contempla o sublime despertar. Avancemos, assim, com as nossas dificuldades e dores, embora estejamos na situação de retirantes solitários, que não podem desfrutar, por agora, a companhia dos entes mais caros.

Não duvidemos, porém, da Divina Bondade. Tudo está em seu lugar. A flor precisa tempo para converter-se em fruto. A semente reclama ocasião adequada para germinar, medrar, desenvolver-se e florir.

Estamos subordinados, em todos os serviços e em todas as atividades do mundo, à ordem evolutiva. Tudo deve progredir e produzir a seu tempo.

Consola-me, acima de tudo, a convicção de que os nossos filhinhos amados são joias do Tesouro de Deus. Não está em nossas mãos o poder de usá-las como nos aprouver, mas podemos reter a felicidade de sabê-los fortes e contentes no desempenho dos desígnios do Senhor, que é o Supremo Orientador de nossos destinos.

Baste-nos, por agora, a nossa Maria. Amorosa amiga e devotada irmã, sinto-me sinceramente feliz reconhecendo-lhe a grandeza de coração, no serviço de nossa preparação, dia a dia, para o reencontro na luz espiritual.

E amparando-nos, uns nos outros, busquemos a proteção do Alto em primeiro lugar com a execução de todos os nossos deveres.

Extremamente satisfeita com o seu esforço na vinha da caridade e da iluminação e, esperando possamos nós dois avançar para a frente invariavelmente juntos, sob a custódia de Jesus, cujo exemplo é o nosso farol, abraça-o com todo o carinho e beija-lhe o abnegado coração a companheira da Eternidade,




Candóca
Francisco Cândido Xavier


Acima, está sendo listado apenas o item do capítulo 8.
Para visualizar o capítulo 8 completo, clique no botão abaixo:

Ver 8 Capítulo Completo
Este texto está incorreto?