Dois Maiores Amores, Os

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Capítulo XII

Outro conto de Natal


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Natal!… Estrelas ao alto

São pontos de luz e arminho…

Caminhando esfarrapado,

Tropeça o pobre Joãozinho.


Dez anos de idade apenas,

Rolando ao calçado roto,

Tem febre, não sabe o rumo

Para o descanso no esgoto…


“Hosanas! Jesus nasceu!…”

Cantam vozes cristalinas,

Guirlandas pendem no ar,

Brilham bolas nas vitrinas.


Muitos carros vão passando,

Muita gente vai e vem,

Ele, no entanto, vai só

Sem atenção de ninguém.


Sente frio, sede e fome…

Vê-se tonto em tanta luz…

Um grupo passa exaltando:

— “Louvado seja Jesus!…”


Por fim, alcança uma casa,

Bate à porta e pede pão,

O dono agride: — “Cai fora!…

Tão pequenino e ladrão!…”


Tremendo, afasta-se e pede

Um copo d’água num bar,

Um jovem grita: — “Chicote

É tudo o que vou te dar…”


Arrasta-se amedrontado,

Prossegue gemendo em vão,

Até que desanimado,

Joãozinho tomba no chão.


Agora sente-se em paz,

Repousa e pensa, porque

Caiu num recanto escuro,

Quem passa não mais o vê.


O pequeno chora e conta,

Na mágoa que o desconforta,

O tempo de solidão

Depois da mãezinha morta.


Quantas noites na calçada!…

O menino não se esquece…

Mãe morta, casa fechada,

E mais ninguém que o quisesse…


Quantos dias de penúria

Atravessara a sofrer?

Quanto tempo de orfandade?

Não saberia dizer…


Não desconhece, no entanto,

Que sofre e que está sozinho…

Por isso mesmo, cansado,

Recorda e chora baixinho…


Natal vibrando!… Não mais

A casa de antigamente…

Quem viria agora vê-lo?

Quem lhe daria um presente?…


Nisso, um moço de olhar brando

Surgiu e disse-lhe: — “João,

Escute! Que faz você

Aí deitado no chão?…”


Ele responde: — “Ah! senhor,

O Natal é hoje e eu…

Eu choro sentindo a falta

De minha mãe que morreu…”


Sentou-se o recém-chegado

E, ao retirá-lo do pó,

Acrescentou com bondade:

— “Mas você não está só…”


“Que espera hoje?” — indagou

A voz serena e invulgar

“Um companheiro, um cãozinho,

Um carro para brincar?”


“Deseja uma pipa grande

Ou quer um grande balão?

Estimaria outra coisa?

Que quer você? Fale, João…”


O pequeno esclareceu

De olhar triste e fatigado:

— “Ah! senhor, eu só queria

Ter minha mãe ao meu lado!…”


O visitante exclamou

De expressão mais doce e bela:

— “Pois vou levá-lo, Joãozinho,

A fim de viver com ela!…”


Gritou João abrindo os braços,

Magros braços seminus:

— “Mas o senhor quem é mesmo?…

E o moço disse: — “Jesus!…”


Naquela nesga de rua

Esquecida e esburacada,

Brilhava um clarão divino

Na sombra da madrugada.


Viu-se João num colo amigo,

Tudo paz em derredor…

A Terra ficava longe,

O Céu ficava maior!…


As vozes no firmamento

Soavam plenas de amor:

— “Hosanas! Jesus nasceu!…

Louvado seja o Senhor!…”


No coração do menino

Da angústia nada mais resta,

Sob o fulgor da esperança,

Tudo alegria de festa!…


De manhã um verdureiro,

Ao fitá-lo em desconforto,

Pôs-se a chamá-lo de leve,

Mas Joãozinho estava morto.




Francisca Clotilde
Francisco Cândido Xavier


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