Dois Maiores Amores, Os
Versão para cópiaOutro conto de Natal
Natal!… Estrelas ao alto São pontos de luz e arminho… Caminhando esfarrapado, Tropeça o pobre Joãozinho. Dez anos de idade apenas, Rolando ao calçado roto, Tem febre, não sabe o rumo Para o descanso no esgoto… “Hosanas! Jesus nasceu!…” Cantam vozes cristalinas, Guirlandas pendem no ar, Brilham bolas nas vitrinas. Muitos carros vão passando, Muita gente vai e vem, Ele, no entanto, vai só Sem atenção de ninguém. Sente frio, sede e fome… Vê-se tonto em tanta luz… Um grupo passa exaltando: — “Louvado seja Jesus!…” Por fim, alcança uma casa, Bate à porta e pede pão, O dono agride: — “Cai fora!… Tão pequenino e ladrão!…” Tremendo, afasta-se e pede Um copo d’água num bar, Um jovem grita: — “Chicote É tudo o que vou te dar…” Arrasta-se amedrontado, Prossegue gemendo em vão, Até que desanimado, Joãozinho tomba no chão. Agora sente-se em paz, Repousa e pensa, porque Caiu num recanto escuro, Quem passa não mais o vê. O pequeno chora e conta, Na mágoa que o desconforta, O tempo de solidão Depois da mãezinha morta. Quantas noites na calçada!… O menino não se esquece… Mãe morta, casa fechada, E mais ninguém que o quisesse… Quantos dias de penúria Atravessara a sofrer? Quanto tempo de orfandade? Não saberia dizer… Não desconhece, no entanto, Que sofre e que está sozinho… Por isso mesmo, cansado, Recorda e chora baixinho… Natal vibrando!… Não mais A casa de antigamente… Quem viria agora vê-lo? Quem lhe daria um presente?… Nisso, um moço de olhar brando Surgiu e disse-lhe: — “João, Escute! Que faz você Aí deitado no chão?…” Ele responde: — “Ah! senhor, O Natal é hoje e eu… Eu choro sentindo a falta De minha mãe que morreu…” Sentou-se o recém-chegado E, ao retirá-lo do pó, Acrescentou com bondade: — “Mas você não está só…” “Que espera hoje?” — indagou A voz serena e invulgar “Um companheiro, um cãozinho, Um carro para brincar?” “Deseja uma pipa grande Ou quer um grande balão? Estimaria outra coisa? Que quer você? Fale, João…” O pequeno esclareceu De olhar triste e fatigado: — “Ah! senhor, eu só queria Ter minha mãe ao meu lado!…” O visitante exclamou De expressão mais doce e bela: — “Pois vou levá-lo, Joãozinho, A fim de viver com ela!…” Gritou João abrindo os braços, Magros braços seminus: — “Mas o senhor quem é mesmo?… E o moço disse: — “Jesus!…” Naquela nesga de rua Esquecida e esburacada, Brilhava um clarão divino Na sombra da madrugada. Viu-se João num colo amigo, Tudo paz em derredor… A Terra ficava longe, O Céu ficava maior!… As vozes no firmamento Soavam plenas de amor: — “Hosanas! Jesus nasceu!… Louvado seja o Senhor!…” No coração do menino Da angústia nada mais resta, Sob o fulgor da esperança, Tudo alegria de festa!… De manhã um verdureiro, Ao fitá-lo em desconforto, Pôs-se a chamá-lo de leve, Mas Joãozinho estava morto. |
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