Palavras Sublimes

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Capítulo XXXVI

Oremos e vigiemos

A visão apocalíptica do mundo moderno oferece ao espírito dos povos americanos um campo vasto de dolorosas meditações. As nações mais cultas da Terra, filhas da experiência e da sabedoria, empenham-se numa guerra fatal como embebedados por um vinho sinistro de destruição. Ao rugido das batalhas, invocam-se inutilmente os valores da ciência e da fé. A primeira foi convertida no braço forte do extermínio, a segunda desapareceu com o veneno psicológico dos extremismos. E a antiga Europa, mãe espiritual da nova civilização, estende os braços, em súplica, diante da sinistra embriaguez de seus filhos a se exterminarem, reciprocamente, dilacerando-lhe o coração. As rogativas, entretanto, são, apenas, um leve ruído de aves assustadas no seio de uma floresta extensa que a tempestade domina, entre as sombras pesadas da noite. Populações indefesas são assaltadas, de súbito, pelo sopro cruel da destruição. Sobre a primavera enfeitada de flores, o homem semeia ruínas. O sol claro de Deus ilumina os espetáculos mais dolorosos. De quando em quando, banham-se na sua luz os pesados aviões de bombardeio como pássaros hediondos da morte. E a fileira interminável dos refugiados movimenta-se, a medo, pelos caminhos, às vezes cheios de cadáveres, ao coro dos soluços de crianças desamparadas e ao clamor dos feridos, nas horas derradeiras. São quadros comparáveis somente aos massacres do pretérito remoto, quando a razão não havia desabrochado de todo no jardim da cultura humana. Ontem eram Aníbal e Átila, sem as teorias do aperfeiçoamento e da evolução, espalhando o morticínio. Hoje são os filhos da mais refinada civilização, entremostrando a fibra oculta dos selvagens.

No quadro geral dos acontecimentos, a Europa extermina-se enquanto a América medita. E sobre todos os espetáculos humanos, pairam os ascendentes divinos da renovação do mundo, onde os fatos mais tristes não ocorrem à revelia d’Aquele que é a luz do coração de todas as criaturas. Em todos os setores de trabalho das Esferas mais próximas do planeta, vive-se o abençoado esforço das grandes transformações. O milênio futuro deverá refletir as primeiras colheitas da grande semeadura. Uma nova era de concórdia sob o pensamento do Cristo deverá florescer para os homens do porvir e as lutas titânicas do século XX constituem uma enorme preparação, a fim de que o trigo da verdade e da paz produza o pão dos povos do futuro. Os movimentos penosos da atualidade foram previstos, no Plano espiritual, há cinco séculos. Há quinhentos anos, sob a inspiração de Jesus, realizou-se a primeira separação.

Corria o século XV quando as Esferas espirituais movimentaram os primeiros princípios renovadores. Por mais de mil anos, Jesus havia esperado do planeta a compreensão sagrada dos seus ensinos. Entretanto, ao próprio local da antiga cruz os príncipes guerreiros do Ocidente levaram os estandartes sangrentos de suas tendências de hegemonia e destruição. Debalde Godofredo de Bouillon recusou a coroa de ouro, alegando que o Cristo havia cingido a auréola de espinhos, aceitando somente o título de “Defensor do Santo Sepulcro”. A humildade postiça das grandes ocasiões não apagava o rastro de ruína e desolação. Os movimentos de todas as Cruzadas espalharam, em nome de Jesus, as ondas incendiárias dos crimes mais tenebrosos. Sacerdotes e monarcas, sábios e generais participaram, na época, do banquete sinistro. Apesar de todas as experiências penosas, a ideia de ambição e domínio não pereceu. Continuaram as conquistas da força, multiplicaram-se as depredações.

O progresso da realeza assinalava-se sobre o esquecimento dos menores direitos da vida. Debalde o Plano espiritual ofereceu ao mundo as primeiras universidades e parlamentos. Apontar a Idade Média é designar uma noite sombria. Os primeiros canhões surgiram para incentivar a carnificina e a Guerra dos Cem Anos tocava a seu fim quando se efetuou o primeiro sinal de renovação. Sob a égide de Jesus, descobria-se um Novo Mundo e para as suas regiões vastas e fartas seria conduzidos todos os Espíritos de boa vontade que desejassem sinceramente colaborar na edificação do milênio vindouro. Uma nova escola de liberdade e amor, de concórdia e confiança abriria suas portas aos corações generosos e sinceros. E é por essa razão que vemos, na mesma época, o início da , com a divulgação da letra do Evangelho. A tradução do livro da vida destinava-se aos filhos do Novo Mundo. Com a mensagem de Jesus, edificariam a sua nova casa e é por esse motivo que os ministros protestantes, que desembarcam na América do Norte, e os padres católicos, que viajam para as terras do sul, destoam do espírito religioso dominante na Europa. Convocados para a missão generosa e sublime, trocam o conforto das posições rendosas das cortes pela caminhada árdua entre os homens simples das regiões descobertas nos sertões desolados e ásperos. Examinando o ascendente divino dessas fases históricas, os povos do novo continente devem entender que o panamericanismo não é somente uma fórmula política sem significação no tempo. A vida americana é uma vida nova. Seus conceitos de confiança intercontinental estão firmados por laços divinos, com as mais fortes raízes na Esfera espiritual.

Eis por que entre o Novo e o Velho Mundo se verificam diferenças essenciais e eis a razão pela qual as nações europeias sentem sobre si o sopro da ruína e da morte. O século XX assinala as grandes hecatombes de suas dolorosas transformações, na marcha laboriosa para o milênio futuro. Seu início foi marcado com o sangue das batalhas da Rússia e desde 1904 a 1939 a grande revolução não cessou os seus esforços sangrentos. Em vão, organizaram-se tratados e conferências. Os embates pela hegemonia continuam espalhando a miséria em todos os corações. Por toda parte é o assalto da conquista, os venenos ideológicos, as lutas civis, a guerra de nervos, o progresso do terror. Setembro de 1939 deu início a mais uma fase de provações coletivas de longa duração. Sobre os filhos inquietos da sabedoria intoxicada do mundo desce a noite tempestuosa das profundas renovações. A Europa entrega-se ao cumprimento de dolorosas profecias. A América inteira deve .


(.Irmão X)


Reformador — Julho de 1940.


Segundo consta do original, a mensagem foi psicografada em 22 de maio de 1940.



Humberto de Campos
Francisco Cândido Xavier


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