Palavras Sublimes

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CAPÍTULO 71

Nossos velhos tempos do Porto


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Meu caro Ismael, Jesus nos fortaleça. Graças a Deus, encontro você na mesma devoção ao apostolado de aproximação fraternal, guardando, intacto, o nosso velho patrimônio de serenidade e esperança.

Felizmente, você tem sabido trabalhar sob a ventania forte. A carantonha da tempestade ainda não conseguiu quebrar-lhe as fibras de lidador, e isso é muito importante.

Creia, meu caro, que minhas antigas preocupações, diante da quietude humana, que sempre se compraz na indiferença e na impassibilidade perante as lições divinas que o Espiritismo nos trouxe, foram substituídas por real bom humor. É impressionante observar o volume numérico dos crentes que esperam a solene entrada no Paraíso, vivendo de braços cruzados à maneira do lavrador que sonha com a germinação da semente e aguarda a colheita no descanso voluptuoso do leito macio. Outros alinham algumas preces labiais nos dias da dificuldade em que sentem estorvados em seus caprichos e exigem que Jesus nomeie interventores que lhes decidam, gratuitamente, as questões intrincadas da experiência material que eles próprios estabelecem. Em todas as esquinas, somos surpreendidos por irmãos que atravessam noventa e nove por cento do dia, na movimentação, quase sempre inútil, da fiscalização e da crítica, confessando-se desiludidos com a humanidade e desacoroçoados do mundo, quando, em verdade, até mesmo não se deram ao luxo de algum exame mais particularizado da própria personalidade.

Você imagina o que seria de nós se não fosse a alegria do trabalho e a confiança perfeita no êxito final do bem?… Sem a escora permanente desses recursos talvez fugíssemos espantados da Terra, temendo as ousadas afirmativas de criaturas que pretendem as asas dos anjos quando ainda se encontram à imensa distância dos valores reais da humanidade e que reclamam o Céu colados, de pés e mãos, às furnas acolhedoras da Terra.

O quadro, contudo, não nos exaure a energia, nem nos desencanta. O Mestre na cruz é uma inspiração incessante. Trabalhar na restauração dos ensinos que nos transmitiu em sublime apostolado de santificação e semear a concórdia e o entendimento, em nome dele, são tarefas claras e simples a que nenhum colaborador de boa vontade deve subtrair-se. Nesse sentido, o Espiritismo e o Esperanto são as duas alavancas com que removeremos os percalços da senda, em favor da vitória insofismável do Evangelho nos corações. Quanto pudermos, incentivemos a extensão da influência dessas forças profundas de renovação e reajustamento. Não nos impressionemos com as negras observações dos adversários da propaganda em sua feição de benefício público e de escola transformadora das condições mentais do Espírito encarnado. Negar-lhe as vantagens seria esquecer a lição da semente que se multiplica indefinidamente, enriquecendo-nos o prato e o celeiro como que ansiosa de revelar-nos a grandeza divina das leis de abundância, de sabedoria e de amor que governam o Universo inteiro. Há companheiros que parecem trazer consigo uma noite diante do sol pleno e estimariam que a treva alcançasse todas as paisagens e todas as coisas. Enxergam aleijões nas flores, monstros no firmamento, veneno nas fontes e infernos na alegria. Para estes, estamos irremediavelmente condenados, entretanto, seguiremos para diante assim mesmo. Um dia compreenderão que, além do túmulo, possuímos até mesmo escolas de alfabetização e atividades primitivistas de ensino e perderão, mais tarde, a ilusão de haverem atingido o Olimpo da inteligência apenas porque fizeram a leitura de alguns clássicos ou por que se hajam sentado em algum banco de universidade. Temamos o cérebro parado, o coração enferrujado e as mãos mortas, e sigamos para a frente, agindo e ajudando sempre.

Cuide de sua saúde e avance como quem sabe que o vaso da experiência humana é precioso instrumento de realizações para hoje e amanhã, em plena eternidade. E para encerrar esta carta despretensiosa e alegre, farei uma prece que alinhavarei recordando os nossos velhos tempos do Porto:



Prece

Senhor, que a nossa humilde mão se estenda
Onde a sombra da Terra se abra em dores.
Que os nossos pés te sigam onde fores,
Levando o amor por mágica oferenda!…


Que o nosso coração te escute e atenda
Nos escuros caminhos tentadores,
Nas alegrias e nos amargores
Para amar-te e servir-te sem contenda!


Cura-nos, Mestre, o espírito enfermiço
E move a nossa vida ao teu serviço
Em sublime e ditoso cativeiro.


Seja o teu braço amigo que aprimora,
O timão que nos guie estrada afora,
Estendendo-te a glória ao mundo inteiro!


Guarde um apertado abraço do seu velho amigo e companheiro de sempre,


Abel


Reformador — Agosto de 1950






Abel


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