Palco Iluminado
Versão para cópiaSurpresa
Materializados, nós dois, Eu e o amigo Eleutério, Conversávamos contentes Junto a grande cemitério. Falávamos sobre a morte, Que nos liberta e ilumina… Vimos o horário não longe, Eram duas da matina. De repente muda a cena, Sem ensaiarmos a peça, Eis que um rapaz vem chegando, No passo de muita pressa. Tomáramos nossa forma De tal modo que, no fundo, Éramos nós dois rapazes Ou dois moços vagabundos. O companheiro saudou-nos No habitual “boa noite”; Retribuímos sorrindo… Ele disse, muito amável: — “Vejam que o Céu está lindo!” E mostrando inquietação, Cochichou, como em segredo: — “Vocês me desculparão, Mas, perto de cemitério, Sinto sempre muito medo… “Rogo a vocês me perdoem, Entretanto, estimaria Que vocês comigo andassem, Nestes sítios de silêncio, Sendo minha companhia!…” — “Pois não!”, falou Eleutério, E pusemo-nos a andar… O moço desconhecido Continuou a falar: — “Eu mesmo não sei por que, Até meus pés ficam tortos, Tenho frio e a boca seca, Se passo perto dos mortos… “Vocês compreendem, não?” E eu respondi com cuidado: — “Eu também, quando entre os homens, Sentia um medo danado… “Mas desde que faleci, Pois sou igualmente morto, Troquei o medo que eu tinha Por mais vida e reconforto… Aí notei que o rapaz Que seguia ao nosso lado, Caiu na calçada fria, Claramente desmaiado. |
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