Palco Iluminado

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Capítulo XX

Surpresa

Materializados, nós dois,

Eu e o amigo Eleutério,

Conversávamos contentes

Junto a grande cemitério.


Falávamos sobre a morte,

Que nos liberta e ilumina…

Vimos o horário não longe,

Eram duas da matina.


De repente muda a cena,

Sem ensaiarmos a peça,

Eis que um rapaz vem chegando,

No passo de muita pressa.


Tomáramos nossa forma

De tal modo que, no fundo,

Éramos nós dois rapazes

Ou dois moços vagabundos.


O companheiro saudou-nos

No habitual “boa noite”;

Retribuímos sorrindo…

Ele disse, muito amável:

— “Vejam que o Céu está lindo!”


E mostrando inquietação,

Cochichou, como em segredo:

— “Vocês me desculparão,

Mas, perto de cemitério,

Sinto sempre muito medo…


“Rogo a vocês me perdoem,

Entretanto, estimaria

Que vocês comigo andassem,

Nestes sítios de silêncio,

Sendo minha companhia!…”


— “Pois não!”, falou Eleutério,

E pusemo-nos a andar…

O moço desconhecido

Continuou a falar:


— “Eu mesmo não sei por que,

Até meus pés ficam tortos,

Tenho frio e a boca seca,

Se passo perto dos mortos…


“Vocês compreendem, não?”

E eu respondi com cuidado:

— “Eu também, quando entre os homens,

Sentia um medo danado…


“Mas desde que faleci,

Pois sou igualmente morto,

Troquei o medo que eu tinha

Por mais vida e reconforto…


Aí notei que o rapaz

Que seguia ao nosso lado,

Caiu na calçada fria,

Claramente desmaiado.




Jair Presente
Francisco Cândido Xavier


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