Presença de Chico Xavier

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Capítulo XV

Mensagem de Dráusio aos seus pais

Querida mamãe, meu caro papai, com a bênção de Jesus, rogo para que me auxiliem sempre.

Estou aqui com alguns amigos. Supliquei permissão para falar-lhes qualquer cousa e consegui.

Creio, mamãe, que isso acontece por seu amor, por seu carinho. Dizem que o coração quando ama, vence a morte e vence mesmo. Estou ouvindo as suas palavras.

Se eu não pudesse dizer aqui que sou um espírito ainda fraco e endividado, muitos julgariam que seu Dráusio foi um santo. Mas todos os nossos irmãos presentes sabem que para as mães os filhos são sempre anjos. Acredite, porém, que embora não as mereçamos, nem Diógenes e nem eu, as suas palavras caem sobre nós como orvalho divino. Elas penetram nossas almas e afirmam que a senhora e papai confiam em nós.

Que felicidade pode existir maior do que esta, mãezinha, a de poder debruçar-me com o auxílio de muitos amigos espirituais sobre o papel e escrever-lhe, extravasando o meu coração? Que alegria existirá mais alta do que esta — a de poder dizer que estamos vivos, que o acidente não nos consumiu a personalidade e que as cinzas do túmulo cobriram apenas a roupa estragada que não nos servia mais?

Estamos bem, recuperando o nosso equilíbrio a pouco e pouco.

A princípio, confesso que a minha impressão foi indescritível. Compreendi que o fim chegara, quando o impacto do caminhão sobre nós como que nos reduzira a farrapos de carne sanguinolenta.

Vi tudo, qual se poderosa força me conservasse em vigília. O medo apossou-se de mim e orei — orei como a senhora pode imaginar, esmagado de angústia e gritando de dor. Pensei na senhora, no papai, em todos os nossos entes amados, sem esquecer a nossa querida Cristina. Entretanto, minha primeira ideia foi tentar agir em auxílio ao Diógenes, mas debalde. Ele, Ademar e Carlinhos, eles todos jaziam inertes.

Alguém aproximou-se de mim. Era a vovó Maria Philomena que eu não conhecia. Recebeu-me nos braços e disse-me que o vovô Rosin estava em preces para nós. Não entendia nada do que ouvia, mas aceitei-lhe os braços carinhosos, com a certeza de que ela vinha por bênção de Jesus, em nosso socorro.

Em seguida, outros amigos espirituais chegaram às pressas. O próprio Dom Romualdo de Seixas comandava as providências iniciais e vi que ele e os outros nos davam passes que compreendi como sendo um bálsamo para nós.

Não sei o que Diógenes, Carlinhos e Ademar terão sentido de pronto, mas quanto a mim, conquanto ligado ao corpo abatido, senti sono e repousei… Despertando na Casa de Saúde Espiritual, onde a senhora nos viu, procurei por Diógenes e pelos outros… Gradativamente, com o correr dos dias, fui sendo atendido e revi os três, um a um…

Meu primeiro problema veio ao receber os pensamentos angustiantes de papai que desejava morrer conosco. Ah! mamãe, quanto devemos à sua fé… Por dentro de mim eu via tudo o que nos chegava de casa e a visão de papai desesperado me enlouquecia; as preces da senhora me auxiliavam, os pensamentos tristes do papai Sampaio me afligiam e as lágrimas de Cristina caíam sobre mim parecendo gotas de fogo no coração. Somente a poder de resignação e de prece, consegui sustentar-me!

Agora, tudo vai clareando para mim e para o Diógenes. A senhora nos visitou, sim, naquela abençoada Instituição dedicada aos que chegam aqui mais cedo. Mas cedo, mamãe, não quer dizer fora da hora. Diógenes e eu devíamos vir para cá no momento em que se verificou o desastre e naturalmente pelo desastre e não noutras condições. É o passado, mãezinha, que exigia isso de nós. Não houve culpa do motorista do caminhão que a senhora fez muito bem de desculpar e nem se pode afirmar que o Carlinhos estivesse guiando com abuso do trânsito, apesar dele estar inquieto, com a preocupação de retornar ao ambiente doméstico. Resgatamos nossos débitos, a Lei da reencarnação absolveu-nos. Realmente, mamãe, quem poderá dizer que provação é felicidade? Mas não será uma bênção cumprir a Lei de Deus? Estejamos assim conformados.

Rogo ao papai não mais pensar em desânimo ou violência consigo mesmo.

Papai, há milhares de crianças e rapazes na penúria, necessitando de pais e mães, tão carinhosos e tão bons quanto o senhor e mamãe. Trabalhemos pelo bem deles. Aqui, estamos aprendendo que a maior felicidade é fazer a felicidade dos outros. E só pela caridade bem compreendida, a felicidade verdadeira pode nascer. Caridade, meu pai! Caridade com os outros para que nós sejamos felizes e possamos merecer a ventura do reencontro mais tarde.

Rogo à senhora, mamãe, confortar Cristina e dizer-lhe que estamos juntos. Os noivos que se amam com o amor de Jesus podem ser bons irmãos. Serei para ela um companheiro espiritual e estou pedindo a Deus para que ela encontre um jovem amigo e leal que ampare a ela doando-lhe a felicidade que não pude dar. Isso não é esquecer, é compreender-nos uns aos outros.

Agradeço a todos os nossos Sampaio as orações com que me ajudam. A senhora continue firme na fé viva. Esteja certa de que nos tem visto, quando se encontra fora do corpo. As visões e os encontros com vovó Rosa, tia Nena, Sérgio, Cristina e Odorica são todos verdadeiros. Todas as pessoas têm vida fora do corpo físico, mas vejo presentemente que a lembrança não é habitualmente permitida para que os nossos amigos encarnados não se desviem e nem esqueçam as suas obrigações no mundo.

Diga à família de Ademar que ele está muito bem amparado e creio que em breve já conseguirá trabalhar mediunicamente no grupo a que se encontra ligado desde as reuniões que frequentava; Carlinhos ainda sofre e muito porque de nós todos é aquele que mais precisava estar ao lado da família, mas esperamos que os entes queridos dele o auxiliem com a paciência e a oração; Diógenes vai bem, no entanto é o coração juvenil que todos nós conhecemos; quanto a mim tenho recebido de nosso irmão Belilo e de vovó Maria Philomena e por intermédio deles o auxilio de muitos benfeitores espirituais, o apoio de que ainda me sinto necessitado.

Quero restaurar-me, mamãe, quero trabalhar, preciso levantar minhas forças e servir: Ajudem-me a senhora e papai.

Não posso prosseguir escrevendo porque o tempo aqui é também medido e respeitado como aí. A todos os nossos, especialmente ao tio Roberto, a nossa gratidão. E reunindo a senhora e o papai no meu abraço de muito carinho, a pedir para que não chorem mais, sou, com todo o coração, o filho reconhecido,


Dráusio

Elias Barbosa


(Mensagem recebida em reunião pública da Comunhão Espírita Cristã, na noite de segunda-feira, dia 17 de outubro de 1966, pelo médium Francisco Cândido Xavier, dirigida aos pais do comunicante Sr. Amílcar Rosin e Sra. D. Zilda Giunchetti Rosin, residentes na capital de São Paulo).

Zilda Giunchetti Rosin, “Perda de Entes Queridos”, Edição Calvário, São Paulo, 1968, págs. 67-70.



Dráusio
Francisco Cândido Xavier


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