Presença de Luz

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Capítulo III

Viver em paz


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Prezada irmã.

Recebi a carta em que a sua generosidade me pergunta como viver em paz, sem aversões e sem inimigos.

Creia que despendi muito tempo procurando um caminho para a resposta.

Meditei, meditei, até que um professor iluminado por muitas experiências, falou-me, bem-humorado: — Augusto, sobre tranquilidade e inimigos, tenho uma pequena história que vale a pena ser contada.

E prosseguiu:


Nos tempos medievais, grande parte da Europa era recortada por numerosos domínios. Foi assim que existiu um reino na 1tália, cujos habitantes se caracterizavam pelo gênio criativo e trabalhador. Tudo corria, por lá, às mil maravilhas, quando certa parte do território entrou em dificuldade para o relacionamento harmonioso dos cidadãos entre si.

Tudo começou com tricas domésticas que rapidamente degeneraram em conflitos sociais que se comunicaram à vida produtiva do País.

Desorganizara-se o trabalho, o ódio estabelecia a delinquência, a luta de classes oferecia péssimos exemplos à comunidade e, quando o desequilíbrio atingiu o auge, reuniram-se os soberanos com os juízes e conselheiros nos quais se inspiravam e resolveu-se que o filho único do casal fosse em missão punitiva ao encontro dos dissidentes, de modo a restaurar os princípios da segurança.

O jovem prometeu liquidar todos os inimigos do reino e, dias depois, cavalgando soberbo corcel, o rapaz, acompanhado de assessores, partiu em busca da recuada província que a rebeldia infestava.

Atingida a meta, os colaboradores do príncipe, com grande espanto, viram-no convidar as autoridades responsáveis pelos negócios do Estado para um entendimento em praça pública.

Marcado o dia para o diálogo aberto, notou-se que o rapaz iniciou a reunião, pedindo a Deus abençoasse a todos os que ali compareciam de boa vontade.

Finda a prece, requisitou o debate e, com admiração para todos os moradores do rebelado recanto, passou a perdoar todas as injúrias, assacadas contra a sua família; acatou as petições da justiça; mandou pagar as indenizações que lhe foram apresentadas com documentos justos e reorganizou o serviço das classes diversas e, em todas as manifestações, se comportou com tal bondade que, em poucos dias, a comissão vitoriosa retornava à capital com inúmeros protestos de paz e amizade, assinados por aqueles mesmos compatriotas dantes considerados subversivos.

Recebido pelos pais que já haviam colhido informações tendenciosas, com relação ao seu comportamento que, para muitos, expressava fraqueza e covardia, entregou os resultados da missão que executara sem ameaças e sem lágrimas, sem perseguição e sem morte.

Após o relatório a que se via compelido pela força das responsabilidades de que fora revestido, o pai levantou-se e indagou asperamente: — Então, que fez você das ordens que lhe confiamos? Onde a sua promessa de nos destruir os inimigos?

O rapaz, surpreendido, respondeu com humildade: — Pai, o mandato com que fui honrado foi honestamente cumprido. Anulei todos os nossos adversários, deles fazendo cooperadores e amigos. Não restou um só dos inimigos do reino, porquanto, foi possível transfigurar todos os nossos opositores em companheiros que passaram a trabalhar e a produzir para a comunidade com sinceridade e sensatez.

O genitor, confundido pela informação, permaneceu em silêncio, ignorando como reformular o assunto, mas a soberana, de coração compreensivo e justo, adiantou-se para o moço e concluiu o episódio, falando-lhe com o manifesto carinho maternal: — Deus o abençoe, meu filho! Todas as suas providências foram louváveis. Muitos ganham a guerra, mas você ganhou a paz que nos beneficia a todos e precisamos reconhecer que sem paz é impossível sustentar o trabalho do bem.




Augusto Cezar
Francisco Cândido Xavier


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