Sementeira de Paz

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Capítulo XV

Espiritualismo na Inglaterra e no Brasil


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22/05/1946


Meus caros filhos, Deus abençoe a vocês, concedendo-lhes muita saúde e paz espiritual.

Trazendo-lhes minha visita habitual, venho comentar com você, Rômulo, o livro interessante do nosso amigo da .

Suas observações, referentemente à alegria e ao bom-ânimo que transparecem de todas as passagens em comparação com a bagagem de dor que se verifica em quase todos os núcleos e trabalhos espiritistas em nossa terra, são justas. Há, porém, que fazer as necessárias ressalvas no assunto. A diferença evolutiva influi decisivamente no problema.

O trabalho de Swaffer é fruto de vastíssimo ambiente claro e brilhante de responsabilidades definidas. O maior número de mentes ligadas ao serviço espiritualizante permanece libertado da ignorância religiosa. Os raciocínios ali são lógicos, esclarecidos, vibrantes. O trabalho é, em virtude disso, mais leve, mais fascinante. Há entrosagem de corações livres, como há entrosagem de ideias construtivas. Isso, contudo, não se verifica em nossos círculos, por enquanto.

O esforço espiritualista no Brasil é mais laborioso por trazer consigo grande expressão sacrificial no capítulo da libertação religiosa. Em verdade, e digo confidencialmente, ainda pesam sobre a nação inteira resquícios fortes das sombras inquisitoriais, trazidas sucessivamente para cá até o fim do último século. Nossa herança de incompreensão e cativeiro, na ordem dos valores da fé, assume tremenda importância. Não podemos descortinar caminhos, nem abrir a luta. Seriam exterminados todos os que têm suportado os golpes da vanguarda. Imensurável obra de política espiritual há que desenvolver-se em todos os setores, para que a luz brilhe, enfim, clareando a senda do Espiritismo geral.

Somos espiritualmente como que um grande país ocupado por “invasão ideológica” há mais de trezentos anos, há mais de quatrocentos! Enquanto o trabalhador da verdade e do bem pode ocupar a tribuna pública na Inglaterra e soprar o ensinamento “dos telhados”, segundo a profecia, (Lc 12:3) somos compelidos a “conspirar”, dizendo a mensagem da sobrevivência “da boca aos ouvidos” de cada um daqueles que se aproximam de nós, confiantemente.

Com efeito, nos últimos tempos, o trabalho tem realizado importante surto de progresso no país. Muitas clareiras promissoras abrem-se nos cipoais. Entretanto, a observação superficial do espírito do povo numa grande cidade, qual o Rio, demonstra a extensão e amplitude do serviço de esclarecimento a fazer. Semelhante situação impede o aproveitamento de forças livres e edificantes.

A maior parte dos que nos procuram os mananciais chega tomada de enfermidade, de cansaço, de aflição, poluindo-nos as águas temporariamente, como ovelhas que se desincorporam, à força, de rebanhos tresmalhados, após suportarem longos assédios de corrigendas duras. Mas o que fazer? É necessário adubar para semear em terrenos que ainda não toleram a obra da semeadura. A edificação é mais difícil, mais lenta, menos alegre e, por vezes, dolorosa mesmo. Entretanto, é o quinhão de trabalho que nos foi oferecido.

Observará você em seu “treinamento de socorro magnético”, em quatrocentas pessoas, que não chegaram quatro absolutamente entregues à confiança no Divino Poder, ao otimismo que deve imperar em nossas vidas e à esperança em nossa suprema destinação. Maioria esmagadora chega a passo pesado, no que se refere à energia mental, indecisa na fé, insciente da luz da oração, quase categorizada à conta de criancinhas espirituais, sem discernimento do exterior, sem domínio íntimo. É a manifestação das pesadas influências romanas dos últimos séculos de política despótica. É o fruto da semeadura eclesiástica de muito tempo. E as nações adoecem como os homens. É natural. E ai daqueles que desejarem extirpar a moléstia com a cirurgia do devotamento pessoal absoluto. As forças adversas eliminam-nos de uma vez só. É preciso descer na corrente do rio dos acontecimentos, ao invés de remar ao contrário, pretendendo subi-la. Para fazer o bem e libertar o maior número ainda são indispensáveis a prudência e a tolerância, a serenidade e a diplomacia individualista.

É por isso que o nosso Espiritismo é mais triste. Noutro tempo, em épocas recuadas, enquanto os homens livres faziam cursos acadêmicos, alegres e felizes, confiantes na vida e em si próprios, os homens escravos faziam súplicas. E, sem o desejo de humilhar-nos a feição coletiva de progresso, cumpre-nos considerar que, no campo das ideias, somos no Brasil, em se falando da esfera dos encarnados e de muitos desencarnados, cativos dos programas de dominação religiosa da Igreja Católica. É triste confessar isso, mas é verdade. Mas não percamos a esperança. Semeemos a alegria e a alegria frutificará. Questão de tempo, de experiência, de amadurecimento.

Estou satisfeito com as suas melhoras do aparelho circulatório. Nosso serviço de passes tem funcionado bem. Graças a Deus. Espero, meu filho, que você continue melhorando.

Maria, para você, para Wanda, deixo minha visita muito afetuosa e um lembrete do Gelseminum e do Eupatorium. O frio está chegando mais forte para vocês e é preciso limpar a “casa do ar”: os pulmões.

Boa noite para vocês todos.

Não me sendo possível alongar mais esta carta, deixo-lhes o meu coração cheio de afeto e reconhecimento.

Muitas lembranças e abraços do papai de sempre,




[ (1879 - 1
962) foi escritor, jornalista e crítico de teatro britânico; tornou-se um espiritualista, dentre seus trabalhos destacamos: “Spiritualism’s Crisis Now”, Psychic News, 2 July, 1932; “Quando os homens falam a verdade: e outras histórias” — “Minha maior história” ] (Links externos)



A. Joviano
Francisco Cândido Xavier


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Porque muito me alegrei quando os irmãos vieram, e testificaram da tua verdade, como tu andas na verdade.

3jo 1:3
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Lucas 12:3

Porquanto tudo o que em trevas dissestes à luz será ouvido; e o que falastes ao ouvido no gabinete, sobre os telhados será apregoado.

lc 12:3
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