Somente Amor

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Capítulo XXII

Amor para sempre


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A senhora viúva, dia a dia,

Sob os efeitos de uma hemiplegia,

Trazia a própria vida concentrada

Na cadeira de rodas, manejada

Por amiga enfermeira.


Dos parentes mais íntimos

Um filho lhe restava, um filho só,

O filho que ela amava enternecidamente…

Marido, pais, irmãos, chamados pela morte,

Deixaram-lhe na vida

Muita emoção frustrada

E aquele moço forte

Que não lhe confortava a existência dorida,

Muito embora abastada.


Achamo-nos na véspera do

Que marcaria o enlace do rapaz

E a mãezinha doente

Num misto de alegria,

De esperança e de paz

Entregou-lhe, feliz, tudo quanto possuía:

A fazenda, as ações de grande companhia,

Os créditos de banco e a linda moradia,

A dizer-lhe, contente:

— Filho, tudo o que tenho é seu…

De amanhã para a frente,

Passo a morar no estreito pavilhão

Que seu pai construiu ao fundo da mansão.

Desejo ver você e a jovem companheira

Sempre felizes, sem cuidados…

Toda alegria agora para mim

Será sabê-los sossegados

Ante a bênção de Deus, na visão do futuro…


O filho comovido

Beijou-lhe as mãos num gesto de amor puro

E agradeceu a doação materna,

Prometendo-lhe em voz macia e terna,

Pela jovem com quem se casaria

Segurança, carinho, convivência

Para todas as horas da existência

Que desejava fossem

Adornadas de paz e de alegria.


Depois do enlace, a enferma recebia

Cartões lindos da Europa…

O casal de viajores

Via a lua-de-mel por um mundo de flores…

Ambos davam notícias da beleza

De Lisboa e Paris, de Florença e Veneza…

Mas de retorno ao lar, após a festa

De comemoração do regresso feliz

A dama recebeu na vivenda modesta

O jovem par… E a nora exigente lhe diz:

— Minha sogra, ouça bem!…

Seu filho e eu

Pensando em seu descanso,

Resolvemos agora transferi-la

Para um lar de repouso, um abrigo claro e manso

Onde a senhora viva mais tranquila.

Precisamos aqui viver a sós,

Não pretendemos tê-la junto a nós.


Porque a pobre espantada procurasse

O olhar do filho amado para ver

A atitude interior que lhe viesse à face,

Ele mesmo aduziu:

— É um pouso geriátrico, mãezinha,

A senhora, por lá, não estará sozinha.


Nada disse a velhinha, posta a um canto,

Tão-somente mostrou silêncio e pranto…


No dia imediato,

Mudara-se-lhe o trato…

Internada num belo casarão,

Apesar da gentil acompanhante,

Eis que saudade enorme a domina e consome…

O recinto de luxo para ela,

Alma nobre e singela,

Tinha apenas um nome:

— “Exílio e solidão.”


Seis meses transcorreram, lentamente,

Não mais tornou a ver o filho ausente

E sem que a pompa, em tomo, a reconforte,

A velhinha mais triste e mais doente,

De mágoa em mágoa, vagarosamente,

Entregou-se, de todo, às mãos da morte…


Ante as indagações do verniz social,

Deu-se-lhe sobre a Terra um lindo funeral…

A pobre repousou num sono longo e raro;

Mais tarde, despertou solicitando amparo.

Junto dela, um Emissário de Vigia,

Descortinou-lhe os Céus, comentando a alegria

Que a esperava na Altura..

A pobre mãe, porém, perguntou com ternura:

— E meu filho onde está?

— Sem dúvidas quaisquer — falou-lhe o mensageiro

Tanto quanto ficou, seu filho ficará

Por muito tempo ainda em franco cativeiro,

Tem muito que lutar, nos encargos que leva,

Entre as forças da Luz e as tentações da treva…

Mas você, minha irmã, pode elevar-se agora,

Pelo seu sacrifício e devoção ao Bem,

Mundos da Eterna Aurora

Esperam-na no Além…


A senhora, porém,

Expressando respeito àquelas diretrizes,

Disse, calma e sincera:

— Não aspiro a viver entre os mundos felizes!…

Voltar a ver e acompanhar meu filho,

Sem qualquer empecilho,

É todo o Céu de minha longa espera.


O Mensageiro que lhe conhecia

Os tempos de doença e de agonia

Anotou com brandura:

— Irmã, descer da Altura Imensa

A fim de trabalhar sem recompensa

Em favor dessa ou daquela criatura

É conquistar maior merecimento…

Para estar com seu filho, em constante união,

Precisará viver

Sob o regime da reencarnação…

E, acaso, aceitará, por mãe a própria nora?


— Como não, anjo bom? — replicou a senhora

Se Deus me consentir, assim regressarei,

Creio que a luz do amor é o princípio da Lei;

Se tenho no meu filho a bênção que procuro,

Como menosprezar a jovem que ele adora?

Amá-lo-ei melhor por minha nora

De quem devo ser filha no futuro…

Hei de amá-la também, voltando a ser criança,

Sempre encontrei no amor divina maravilha,

Minha nora no lar me acolherá por filha,

Serei nos braços dela uma nova esperança…

Envolverei meu filho e ela em meu sorriso,

Todo berço na Terra aponta o Paraíso…


Cinco anos passaram sobre o Tempo…

Hoje anotei um trio encantador:

Ante a filhinha: — luz recém-nascida

Disse o pai ao beijá-la: “minha vida!…”

A criança sorriu no berço cor-de-rosa

E a mãezinha, a enfeitar-lhe o corpinho de flor,

Exclamou comovida e venturosa:

Deus te abençoe, meu anjo meu amor!…”




Maria Dolores
Francisco Cândido Xavier


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