Amar e Servir

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CAPÍTULO 3

CARTA PATERNAL

HERNANI

"Confie as preocupações obcecantes ao Senhor e espere, no trabalho do bem, como sempre, a passagem do nevoeiro.

Quem de nós, meu irmão, não terá atravessado a nuvem, suspirando pelo regresso à luz?

O seu espírito não viaja sozinho. Mãos intangíveis sustentam-no ao longo da caminhada. É preciso guardar a fé e esperar agindo sempre, no sentido da superação das nossas próprias fraquezas.

Compreendemos a extensão de sua luta interior e sabemos que o reacesso aos conflitos humanos, por vezes, é sumamente pesado ao coração.

Desajustado, aflito, inseguro, ansioso, o seu passo, nos úitimos dias, tem sede de orientação, de claridade, e de rumo. .

Entretanto, filho, é imprescindível nos voltemos para dentro. A periferia é ruidosa, dispersiva, enganadora. No íntimo aparece a estabilidade. É para lá, para esse país de sentimentos, a estender-se dentro de nossa própria alma, que necessitamos centralizar a visão, a fim de que os problemas se façam menos inquietantes e as dores morais menos rudes.

No centro, você ouvirá novamente as grandes vozes do seu destino, entenderá a atualidade com os seus enigmas e dscortinará o horizonte sublime, através do qual o seu pensamento ganhará novas e mais altas ascensões.

Então, adaptar-se-á ao espírito de renovação que nos induz à vanguarda redentora. Escutar-lhe-á os apelos e perceberá que as dificuldades são nossas próprias criações.

Há momentos em que a conciliação com a nossa própria alma é imperativo inevitável. Lá fora, no campo exterior, há sempre fantasias que prometem alegrias inexistentes, ilusões que sobrepairam apenas até o instante em que nos diponhamos à maior integração com a Verdade, sombras douradas que disfarçam padecimentos, ocultos na profundez do cálice da luta a que nos atiramos improficuamente. .

Por isso mesmo, as insinuações do campo exterior não atendem à nossa fome espiritual, quando nos habituamos ao pão vivo das realidades evangélicas.

Gradativamente, vamos reconhecendo que não existem paz e segurança, na relatividade do espaço e do tempo, além das obrigações que fomos chamados a cumprir.

Ao homem primitivo, incumbido de deslocar as pedras do solo, no preparo inicial da terra, para a verdadeira civilização, repugnaria o serviço da arte iluminativa, num palácio. E ao cristão, informado quanto à grandeza da vida e à elevação dos nossos destinos, ainda que a existência no mundo lhe seja continuada crucificação, não quadraria a suposta felicidade do ouro ou da aristocracia intelectual, pelo simples prazer do domínio provisório entre as criaturas.

Não fugiremos aos nossos próprios quadros internos.

Somos o que somos, com a herança do passado e a esperança no porvir.

Colocado pelas Forças Superiores, no Rio, para o desempenho de missão relevante, na formação espiritual das gerações novas, cremos que as suas atividades, fora de lá, não obstante respeitáveis em qualquer parte, serão movimento de subnível.

Não contrariaríamos, com a presente assertiva, a sua capacidade de autogoverno. Acentuamos, tãosomente, a necessidade de aproveitamento integral das oportunidades.

Não preciso dizer que os seus amigos são sempre os mesmos. Experientes, amadurecidos, responsáveis, abrirão braços e corações ao seu concurso amigo. Entretanto, é natural aguardarem as manifestações espontâneas de reajustamento, por parte de sua mocidade operosa e renovadora.

Compreendamos, filho meu, que as inteligências encarnadas para as diretrizes da nossa esfera de realizações, com o Espiritismo evangélico, não podem, realmente, navegar ao sabor de todos os ventos. Não se acham cristalizadas nos princípios, mas bem fundamentadas na obra que lhes compete.

E, por vezes, desencadeiam-se movimentos de condução difícil, no campo das ideias, que exigem ordem e harmonia em sua projeção para a Humanidade. E o aparente duelo sentimental surge, rápido, eliminando, quase sempre, sublimes florações de progresso, engrandecimento, prosperidade espiritual e luz divina.

Em Espiritismo, achamo-nos igualmente num lar, com o governo doméstico e expressões variadas de serviço, na especialização das tarefas compatíveis com as possibilidades de cada um.

É justo que os "filhos" cooperem com os "pais", embora saibamos que os mais jovens de hoje serão os mais velhos de amanhã, tanto quanto os maduros de agora desempenharão, muito breve, o papel de jovens do futuro.

Tudo é sequência na lei.

Assim, pois, disponhamo-nos, antes de tudo, a servir.

O seu pensamento é rio encachoeirado e largo, rico e abundante; mas, que será de seu trabalho, se você não amealhar suficiente serenidade para formar o leito imenso em que as suas águas correrão?

Recorde, filho amado, que as fontes sem direção cedo se transformam em zonas alagadiças, enquanto que o manancial, aparentemente perdido na floresta, sabendo imitar o pingo d’água, gradualmente se converte em regato, e, de leve corrente sobre a areia ou sobre o pedregulho do chão, quanto mais baixo se despenha na terra, mais imponente e caudaloso rio será, no reencontro com o mar.

Humildade! Humildade!

A natureza está cheia dessa divina virtude, induzindo-nos para Deus. O Sol brilha sem palavras, a flor perfuma sem exigências, o vento ajuda a sementeira, sem cobrar-lhe tributo, e a água limpa e humilde não se revolta, quando, ao invés de sossegar a sede de uma pomba, é absorvida pela garganta sangrenta de um chacal.

Afeiçoemo-nos à luz dessa fada divina e invisível. Por ela, o próprio Senhor aceitou a cruz e imolou-se; por ela, as possibilidades de paz não se perdem no Mundo, povoado de guerras multiseculares;

porque somente quando o homem compreende a beleza, ainda que parcial, da renúncia e do sacrifício, é que a harmonia retorna à paisagem da vida, para que a vida resplandeça, em suas finalidades gloriosas.

Você não se sentirá feliz, fora do seu plano de semeador da renovação da Humanidade, com o Cristo.

E, realmente, está muito mais desajustado que necessitado, reclamando a altura de serviço em que o seu coração se habituou a respirar.

Claro que a sua liberdade é inalienável. Você possui amplo direito à experiência, porque nós todos dispomos do direito de investigar e errar construtivamente, para melhor aprender com a sabedoria e com o amor, na edificação da própria felicidade; e, por isso mesmo, não nos abalançaríamos a indicar-lhe caminhos em desacordo com a sua vocação de crescer e prosperar nos interesses efetivos da alma.

Contudo, já que o seu pensamento nos procura, e a experiência nos torna credor de mais amplos conhecimentos da dor e da luta humana, antes de sua experimentação em outros setores, tente, quando estiver ao seu alcance, uma reaproximação com os seus e os nossos velhos companheiros da Instituição que nos é sumamente venerável. Não busque qualquer ângulo de orientação ou de comando. Abstenhamo-nos até mesmo de nossa vontade caprichosa, a fim de melhor penetrarmos o elevado sentimento da tarefa cometida aos nossos irmãos; e, se o ensejo de reintegração surgir, como esperamos, ajude, meu amigo, ajudemos sempre, cedamos, quanto possivel, de nós mesmos, de alma centralizada na Causa e não nas pessoas.

Conversemos com o nosso próprio suor, e com ele adquiriremos grandes lições, por entender os outros com mais clareza. E contamos que a harmonia renascerá, dentro de seu coração, mergulhado em problemas que reconhecemos complexos e dolorosos.

Trabalhemos, sem mágoa, sem protestos pessoais, sem exteriorizações da nossa personalidade, até que o Lapidário Divino nos julgue mais habilitados a cumprir mais alta missão.

De qualquer modo, não lhe faltará o apoio dos amigos desvelados que o acompanham desde o berço.

Renasçamos de novo, perdoando as circunstâncias por todas as arestas que nos feriram o ideal e a sensibilidade. Procuremos o Cristo, meu irmão, com o nosso pensamento, com o nosso coração e com os nossos braços, conjugando um só verbo -- SERVIR, porque dentro dele tudo receberemos, naquele "acréscimo de misericórdia" a que se reporta o Evangelho do Nosso Senhor.


E com Ele, dentro de nossas dificuldades e fraquezas, soletremos, enfim, a sublime lição que nos indica o maior no Céu, como sendo o abnegado servidor de todos. "

Emmanuel

(Mensagem recebida por Francisco Cândido Xavier, em Pedro Leopoldo, Minas Gerais, na tarde de 22 de abril de 1951, na residência do médium.)




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