Tempo e Amor
Versão para cópiaO poeta Augusto dos Anjos em Campos
Desolação. Terror e morticínio. O homem sôfrego e bruto, de ânsia em ânsia, Sofre agora a sinistra ressonância De sua inclinação para o extermínio. É o doloroso e trágico domínio Do “homo homini lupus” da ignorância, Exaltando a vaidade sem substância, Ídolo podre sobre o esterquilínio. Por toda a parte, escorre o sangue horrível, Ao crepitar de rúbidos incêndios, Sobre a ideia cristã medrando em germe. Em quase tudo, o pântano terrível, De lodo e lama, em sombra e vilipêndios, Atestando a vitória do homem-verme! |
CONFISSÃOTambém eu, mísero espectro das dores No escafandro das células cativas, Não encontrei a luz das forças vivas, Apesar de ingentíssimos labores. Bem distante das causas positivas, Na visão dos micróbios destruidores, Senti somente angústias e estertores No turbilhão das sombras negativas. Foi preciso “morrer” no campo inglório Para encontrar esse laboratório De beleza, verdade e transformismo! A Ciência sincera é grande e augusta, Mas só a Fé, na estrada eterna e justa, Tem a chave do Céu, vencendo o abismo!… |
ANOTAÇÕES
1 — Augusto dos Anjos — Augusto de Carvalho Rodrigues dos Anjos nasceu no Estado da Paraíba, no engenho do Pau-d’Arco, próximo à vila do Espírito Santo, a 20 de abril de 1884. Bacharelou-se em Direito na Faculdade de Recife. Lecionou Literatura em vários colégios, inclusive no antigo Ginásio Nacional (Colégio Pedro II). Em 1912, publica-se o Eu, seu livro famoso. Foi diretor do Grupo Escolar Ribeiro Junqueira, de Leopoldina. Nessa cidade mineira desencarna no dia 12 de novembro de 1914.
2 — O soneto “Homem-Verme” foi psicografado na noite de 25 de julho de 1940, em reunião pública na Escola Jesus Cristo, instituição espírita da Campos, quando da primeira visita do médium Xavier à Escola. Há pouco mais de dez meses se iniciara a II Guerra Mundial e o soneto de Augusto retrata admiravelmente o panorama de terror bélico que, em breve, envolveria todo o mundo. Era recente a invasão da Escandinávia e dos Países-Baixos e a “Blitzkrieg”; a guerra-relâmpago de Hitler, já havia lançado seus tentáculos sobre a Europa Ocidental. O soneto magnífico de Augusto dos Anjos nos fala dos quadros dantescos daqueles dias dolorosos, em contraste com o ambiente de beleza espiritual e de santa alegria que marcou a primeira das quatro presenças abençoadas de Francisco Cândido Xavier na Escola Jesus-Cristo.
3 — O soneto “Confissão” é uma palavra de adeus do amado poeta aos seus amigos da Escola, assinalando o último dia, o quarto (28.07.1
940) da presença do também querido médium em Campos. Foi psicografado em sessão pública, na manhã de domingo na Escola Jesus Cristo, havendo representado o mundo laico, à mesa da reunião, dois intelectuais campistas — o Dr. Norival Santos, médico, e o Dr. Amaro Almeida, advogado.
4 — Estes poemas de Augusto dos Anjos foram posteriormente incorporados ao Parnaso de Além-Túmulo, editado pela FEB.
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