Tesouro de alegria

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Capítulo X

Ausência e fé

Alma fraterna, um dia meditando

Na imensidão do amor, assim qual é,

Interroguei, no mundo, as vidas simples

De que modo aliar distância e fé.

Por que meios guardar a confiança

Quando o amargo da ausência nos invade?

Quando a falta dos entes mais queridos

É suplício com o nome de saudade?


Ouvi uma andorinha

Que se encontrava anônima e sozinha,

Sob antigo telhado:

— “Veja, irmã, o meu ninho desprezado!…”

Disse-me sem revolta e sem tristeza.

— “Tive filhos que amei com desvelo e ternura,

Entretanto, segundo a Natureza,

Quando se viram emplumados,

Procuraram altura,

Desenvoltos, felizes, fascinados

Ante o Infinito Azul que os atraía…

A princípio, sofri terrível agonia…

Depois, vim a saber

Que Deus, de quem vieram para mim,

O Pai de Imenso Amor e Compaixão sem fim,

Que pode avaliar a minha longa espera,

E quem me fará vê-los,

Para cercá-los com meus zelos

No brilho de futura primavera!…”


Entrevistei robusta laranjeira;

Ela clamou serena e conformada:

— “Irmã, tenho lutado a vida inteira

E estou sempre ferida ou despojada…

Sabe o Céu com que amor gero os meus frutos,

No entanto, a todos vejo arrebatados,

Sob torções cruéis e, a gestos brutos,

Para serem vendidos nos mercados.

Mas sei que Deus, nosso Pai, que nos ama e nos fez,

Quem conserva o pomar por troféu da lavoura,

Devolverá meus frutos, outra vez,

Na colheita vindoura…”


Busquei ouvir formoso jasmineiro.

Ele falou-me apenas: — “Minhas flores

São taladas sem meu consentimento

Por criaturas de instintos inferiores

Que nada sabem de meu sofrimento…

Uma certeza única, no entanto,

Resguarda as forças de que me levanto:

Deus, o Criador das Matas e Jardins

Dar-me-á novamente outros jasmins…”


Fui ver um manancial, a fim de ouvi-lo…

Ele aclarou tranquilo:

— “As fontes que me trocam pelo chão

São filhas de meu próprio coração!…

Dói-me notar que correm sobre a lama,

Auxiliando ao solo que as reclama…

A fé, porém, me anima e me acalenta…

Em abordando o Mar, o belo e imenso Mar que Deus sustenta,

Tornarão a voltar,

Primeiramente em forma de vapor,

Subindo ao firmamento…

No Alto, serão nuvens, contemplando

As minhas grandes mágoas

E voltarão a mim, entre chuvas em bando,

De novo enriquecendo as minhas próprias águas!…”


Reconheci, então, alma querida,

Que a saudade é esperança em nova vida,

Para o reencontro daqueles que nos são

Tesouros de alegria e de afeição,

A esperarem por nós no Mais Além…

Porque Deus que de amor nos fez o coração

Nunca nos deixa em solidão

Nem separa ninguém.



Maria Dolores
Francisco Cândido Xavier


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