Parentesco, muitas vezes,

Tem esta nota invulgar:

Por fora é paz, mas por dentro,

É guerra particular.

Por lei da reencarnação,

Sem que a verdade se torça,

O lar também é grilhão

Unindo as almas à força.

Por laço pesado ou leve,

Pelo tempo em que se empraza,

Cada um paga o que deve

Por dentro da própria casa.

Por mais abismo a transpor

E por mais dor arrecade,

O amor só persiste amor

Na bênção da afinidade.

Parente que te rodeia

De provações descabidas,

Não é parente, é um problema

Que te chega de outras vidas.

Dos Evangelhos que estudas,

Neste mundo tenho visto

Muitos parentes de Judas

Entre os parentes de Cristo.

De Jesus-Cristo, conheço

Adversários e amigos,

Mas não conheço os irmãos

Dos presos e dos mendigos.

A família regenera

Nesta lei que a simplifica:

Tanto quanto se tolera

Tanto mais sábio se fica.

Em amor, todo o meu drama

É ver, em termos gerais,

Que o lar é onde mais se ama

E onde se xinga mais.

Tanto a família é cadinho

De nosso aprimoramento

Que Jesus abriu caminho

Em festa de casamento.

Para ver o Cristo, à frente,

É preciso ser capaz

De aceitar primeiramente

A prole de Barrabás.

Na bênção da caridade

Que nos ampara e conduz

É que o homem principia

A ser irmão de Jesus.