Vida em vida

Versão para cópia
Capítulo XXIII

Tempos de hoje


Temas Relacionados:

Meus irmãos, filhos de Deus

Não pensem que sou maluco,

Sou apenas cantador

Do sertão de Pernambuco.


Convidado por amigos,

Minha voz se desemperra

No sentido de exaltar

A evolução que há na Terra.


O que eu devia falar

Usando de garbo e gosto

É que o mundo de hoje em dia

Subiu de rumo e de posto.


Mas já fui de meu recanto

A todos os continentes,

Não achei progresso algum

Só vi cousas diferentes.


Não sei se depois da morte

Sou mais burro por aqui,

Mas vou falar com franqueza

Do que eu via e do que eu vi.


Em minha casa de taipa

Levantada sobre o chão,

O teto tremia ao vento

Mas não se via ladrão.


O pessoal no roçado

Rezava e dormia cedo,

Agora, a noite do povo

É rua, polícia e enredo.


Qualquer palavra era dada

Com segurança e raiz,

Hoje, a dívida é cobrada

Com sentença de juiz.


Vestida dos pés ao coco

Era a pessoa de outrora,

Vê-se hoje muita gente

Com muitas peças de fora.


Nas praias então o assunto

Já se tornou cousa feia,

Encontra-se em qualquer parte

Gente pelada na areia.


Uns falam que é por moléstia

Que estão assim, a contendo,

E a gente lhes vê na cara

O riso do assanhamento.


Na capa dos semanários,

Vinha a flor, vinha a charrua,

Agora, em qualquer revista,

Aparece gente nua.


Hoje, muita mulher mãe

Mudou por fora e por dentro,

Se há promessa de criança,

Que vá baixar noutro centro.


Muitos Espíritos lindos,

Querem corpo no planeta,

Mas já vivem perguntando

Como nascer de proveta.


Os meninos do passado,

Tinham vida e mocotó,

Agora penso nos filhos

Das latas de leite em pó.


A carroça, algumas vezes,

Matava um nos gerais,

Hoje, a queda de avião

Mata cem e, às vezes, mais.


Alguém aprendia o mal

Quando estivesse em prisão,

Agora, o assunto está livre

Na luz da televisão.


Em verdade a Medicina

Progrediu muito no efeito;

Doentes são bem tratados,

Mas morrem do mesmo jeito.


Há tantos remédios novos!…

Não há lista que os resuma

E o livro nos cemitérios

Não aponta baixa alguma.


Grandeza dos tempos novos?

Procuro e não sei qual é,

Tempo antigo era mais duro

Mas contava com mais fé.


Progresso humano? Não sei

Se o mundo anda muito exato,

Tenho saudades do campo

De minha choça no mato.


Respeito a Terra de agora

E a evolução dos ateus,

Tudo existe para o bem

Pela Vontade de Deus.


Sei que de tantos empeços

Nos quais agora me movo,

Deus em tudo está criando

O brilho de um mundo novo.


Mas sou sincero. Se agora

Renascer é minha sina,

Quero um mundo sem motores,

Sem guerra e sem gasolina.




Leandro Gomes de Barros
Francisco Cândido Xavier


Acima, está sendo listado apenas o item do capítulo 23.
Para visualizar o capítulo 23 completo, clique no botão abaixo:

Ver 23 Capítulo Completo
Este texto está incorreto?