Cinquenta Anos Depois
Versão para cópiaA Visita ao Cárcere
A notícia desses acontecimentos repercutiu na residência de Helvídio Lucius, originando as mais tristes inquietações e angustiosas expectativas.
Apesar da fé que lhe fortalecia o coração, a jovem Célia sentiu-se tocada de profunda amargura e a sua única consolação era a possibilidade de ouvir o avô paterno, que, a esse tempo, já lia avidamente os Evangelhos e as Epístolas de Paulo, agasalhando no íntimo a mesma fé que iluminava já tantos heróis e mártires.
Ambos, horas a fio, em confidências cariciosas, deixavam-se ficar no terraço palaciano do Aventino, a observar a fita extensa e clara do Tibre, ou embevecendo-se na contemplação do céu. O venerando Cneio Lucius reconfortava-lhe o espírito abatido, com a sua palavra conceituosa e experiente. Citavam agora os mesmos textos evangélicos, exteriorizando, simultaneamente, análogas impressões.
Quanto a Alba Lucínia, depois de ouvir as mais enérgicas exprobrações do velho pai, concernentes às denúncias de Pausanias, sentia-se mais confortada com a certeza de que o marido regressaria breve e definitivamente ao lar, obedecendo a inesperadas ordens do Governo Imperial.
A pobre senhora atribuía esse júbilo às preces de Túlia e da filha, agradecendo ao novo deus, na intimidade de seu espírito, porquanto o regresso de Helvídio era um bálsamo para o seu coração atormentado.
Com efeito, decorridos poucos dias, o tribuno voltava aos penates com um suspiro de satisfação e de alívio, depois de cumprir integralmente todas as obrigações que o prendiam ao recanto das predileções do César.
Informado a respeito de Nestório e da sua atitude, o patrício se surpreendeu penosamente, desejando com sinceridade desviar o ex-cativo da situação delicada em que se encontrava; mas, logo que soube que era também o pai de Ciro, ressurgido em Roma para lhe agravar as preocupações morais, Helvídio Lucius fez um gesto de espanto e de incredulidade. Entretanto, ouviu, até ao fim, a narrativa do sogro, molestando-se profundamente com a conduta da esposa em permitir que a filha comparecesse a uma reunião condenável, ao seu ver.
Alba Lucínia, todavia, soube acatar todas as reprimendas com a humildade necessária à harmonia doméstica e, longe de o desgostar ainda mais com qualquer lamentação, calou as próprias mágoas, ocultando-lhe o procedimento odioso de Lólio Úrbico, bem como os seus receios a respeito de Cláudia Sabina, em vista das confidências de Túlia que lhe haviam ferido profundamente o coração. A
nobre senhora, nas suas elevadas qualidades de devotamento ao lar e de reflexão nos problemas gerais da vida, operou verdadeiros milagres de afeto e dedicação, para que a tranqüilidade espiritual voltasse ao íntimo do esposo amado.
No dia seguinte ao seu regresso, Helvídio Lucius tomou todas as providências para avistar-se com Nestório na Prisão Mamertina.
O aparecimento de Ciro, na Capital do Império, representava para ele um fato inverossímil. Não podia crer que o seu liberto de confiança, cujas atitudes lhe haviam conquistado a maior simpatia, pudesse ser o pai de um homem que o seu coração detestava. Queria, assim, certificar-se da verdade por si mesmo. Além do mais, se os acontecimentos não fossem verdadeiros, empenharia todo o seu prestígio pessoal junto do Imperador, a fim de evitar o martírio e a morte do prisioneiro.
A realidade, porém, haveria de contrariar esse intuito, sem resquícios de fantasia.
Chegado ao presídio, conseguiu de Sixto Plócio, oficial que superintendia o estabelecimento, uma licença incondicional, de modo a se avistar com o prisioneiro como bem entendesse.
Dentro em pouco, varava corredores e descia escadas subterrâneas, ladeando celas imundas, onde a luz era de uma escassez terrível e clamorosa, e não tardou a encontrar Nestório ao lado do filho. Ambos estavam magros, desfigurados, a tal ponto que o patrício, fosse pelo abatimento físico do rapaz, fosse pelas sombras que os cercavam, não reconheceu Ciro de pronto, dirigindo-se ao liberto nestes termos, que profundamente o comoveram:
– Nestório, já sei os motivos que te trouxeram ao cárcere, mas não hesitei em vir até aqui para ouvir-te pessoalmente, tal a estranheza que me causou a relação das ocorrências!
Havia nas suas palavras um tom de sensibilidade e de simpatia feridas, que o ex-escravo recebeu como bálsamo dulcificante para o seu coração.
– Senhor – respondeu respeitosamente –, agradeço do íntimo dalma o vosso impulso generoso... Nestas celas jazem também loucos e leprosos, e, contudo, não vacilastes em trazer ao vosso mísero escravo a palavra de exortação e de conforto!...
– Nestório – continuou Helvídio com generosa deferência –, meu sogro relatou-me, a teu respeito, certos fatos que me custa acreditar, a despeito de sua honorabilidade de homem público e do seu paternal interesse para comigo.
Nesse ínterim, pai e filho contemplavam, ansiosos, aquele de quem poderia depender a sua liberdade, notando-se que Ciro se encolhera a um canto, temendo a atitude de ansiedade suspeitosa com que Helvídio Lucius o observava.
O tribuno prosseguiu:
– Não pude aceitar, integralmente, o que me disseram é vim certificar-me, por mim mesmo, com o teu depoimento pessoal.
E, acentuando as palavras, perguntou, abruptamente:
– És de fato cristão?
– Sim, senhor – murmurou o interpelado, como se respondesse
constrangidamente, em face de tão grande generosidade. – Prometi a Jesus, no sacrário da consciência, que não renegaria a minha fé em tempo algum.
O tribuno esfregou o rosto, num gesto muito seu, quando contrariado, acrescentando em tom de mágoa:
– Nunca pensei que houvera colocado um cristão na intimidade do meu lar e, no entanto, vim até aqui sinceramente desejoso de pleitear a tua liberdade.
– Agradeço-vos, senhor, de todo o meu coração e jamais esquecerei o vosso alvitre – ajuntou Nestório com dolorosa serenidade.
– Interessando-me pela tua sorte – prosseguiu Helvídio constrangidamente –, procurei o senador Quirino Brutus, incumbido pela autoridade imperial da instrução do processo atinente aos agitadores do Cristianismo, vindo a saber, ainda ontem, que treze dos implicados receberam a sentença de banimento perpétuo e vinte e dois foram condenados à morte pelo suplício.
Apesar do seu fervor religioso, ambos os prisioneiros ficaram lívidos. Helvídio Lucius, porém, continuou imperturbável.
– Entre estes últimos, vi o teu nome e o de um rapaz que me disseram ser teu
filho. Que me dizes a tudo isso? Não desejarás, porventura, abjurar uma fé que nada te facultará a não ser a morte infamante pelos suplícios mais atrozes? E esse homem que te acompanha? Será de fato teu filho? Dize uma palavra que me esclareça ou me proporcione elementos para uma defesa justa...
– Senhor – acudiu o liberto invocando todas as suas energias para não fracassar no testemunho –, minha gratidão pelo vosso interesse generoso há de ser eterna! Vossas palavras me sensibilizam todas as fibras do coração!... Ouvindo- vos, sinto que deveria seguir vossos passos com humildade e submissão, através de todos os caminhos; mas, é também por amor que não posso ceder em minha fé, à própria tentação da liberdade!... Jesus exerce em mim um jugo divino e suave... Embora vos ame, senhor, não posso trair a Jesus nas atuais circunstâncias de minha vida... Se o Mestre de Nazaré deixou que o imolassem na cruz, puro e inocente, pela redenção de todos os pecadores deste mundo, porque me haveria de escusar ao sacrifício, quando me sinto cheio da lama do pecado? Jamais poderei, em consciência, abjurar uma fé que constituiu a luz de minhalma, por toda a
vida!... A morte não me atemoriza, porque, além do martírio e do sepulcro, esplende uma alvorada imortal para o nosso espírito!
Helvídio Lucius ouvia, surpreso, aquela demonstração de esperança numa vida espiritual, que sua mentalidade estava longe de compreender, enquanto Nestório continuava a falar, pousando, então, no rapaz que o acompanhava, os olhos úmidos e ternos:
– Entretanto, senhor, sou pai e, como pai, sou ainda muito humano! Não vos interesseis por mim, imprestável e doente, para quem a condenação à morte pela causa de Jesus deve representar uma bênção divina!... Mas, se vos for possível, salvai meu filho, de modo que ele viva para vos servir!...
Ciro acompanhava a atitude paterna com idêntico espírito de fervor e decisão, como que desejoso de protestar contra aquela rogativa, demonstrando também preferir o sacrifício; mas o liberto continuava entre lágrimas mal contidas, dirigindo-se ao tribuno, que o ouvia eminentemente impressionado:
– Agora, senhor, sei de todo o pretérito amargurado e doloroso e lamento o proceder de meu filho na vossa casa de Antipátris!... Mas peço-vos perdão para as inquietudes da sua mocidade!... Meu pobre Ciro obedeceu à impulsividade do coração, sem dar ouvidos ao raciocínio, com que se deveria aconselhar, mas, na amargura destas masmorras sombrias, deu-me a sua palavra de que, se volver à liberdade, nunca mais erguerá os olhos para a criança adorável, que é um arcanjo do céu no âmbito do vosso lar... Se assim o exigirdes, senhor, Ciro poderá sair de Roma para sempre, de maneira a nunca mais vos perturbar a felicidade doméstica!...
Helvídio Lucius, porém, fechara o semblante, em atitude de quem tomara implacável decisão.
Da generosidade mais pura, passara à negativa mais violenta, dada a presença do seu ex-cativo de Antipátris, a quem os seus princípios não poderiam tolerar, nunca.
– Nestório – exclamou em tom quase rude –, sabes da simpatia que sempre me inspiraste, mas, se nunca te supus cristão e conspirador, muito menos chegaria a pensar que pudesses ter engendrado um homem como esse. Como vês, não posso intervir a favor de ambos... Certas árvores morrem, às vezes, pelo apodrecimento dos galhos!... Vim aqui para socorrer-te, mas encontrei uma realidade intolerável para o meu espírito. Destarte, preferirei esquecê-los, antes de tudo.
– Senhor... – murmurou ainda o liberto, como se desejasse reter a sua amizade, pedindo-lhe perdão, para morrer com a certeza de que o tribuno lhe havia reconhecido o sincero agradecimento.
Helvídio Lucius, contudo, lançando a ambos um olhar contrafeito, ajustava a toga para retirar-se quanto antes, exclamando impulsivamente:
– É impossível!
Dito isso, deu costas aos prisioneiros e, chamando os dois guardas que o acompanhavam, retirou-se apressado, enquanto os dois condenados alongavam o olhar para fixar-lhe o porte firme e austero, e aguçavam o ouvido para escutar os seus derradeiros passos nas lajes da prisão, como se percebessem, pela última vez, a esperança que os poderia reconduzir à liberdade.
Nestório sentia-se sufocado, mas a nuvem de suas lágrimas, como que se rompera para atenuar-lhe as amarguras, enquanto Ciro se lhe lançava aos pés, beijando-lhe as mãos, a murmurar:
– Meu pai! Meu pai!...
Ambos desejavam retornar ao sol claro da vida, sentir as emoções da Natureza, mas o ambiente abafado do cárcere asfixiava.
Todavia, na tarde imediata, Sixto Plócio, recebendo as ordenações da justiça imperial, separava os treze prisioneiros destinados ao exílio perpétuo, reunindo os demais numa cela menos triste e largamente espaçosa.
Os dois libertos foram retirados do cubículo em que se encontravam, transportados para junto dos demais condenados.
A nova cela também demorava na parte subterrânea, mas, de um dos seus lados, podia ver-se o céu através de reforçadas grades.
Descera o crepúsculo, entornando sobre a cidade as suas tintas maravilhosas, mas todos aqueles corações atormentados contemplaram o casario e o horizonte, tomados de infinita alegria.
Ao longe, no firmamento, acendiam-se, na tela muito azul, as primeiras estrelas!...
Policarpo, o venerável pregador da Porta Nomentana, transportado do Esquilino para o Capitólio, a fim de reunir-se aos companheiros, traçou no ar uma cruz com a mão calosa e encarquilhada... Então, todos os irmãos de fé, em cujo número se contavam algumas mulheres, se prosternaram e, contemplando o céu romano, formoso e constelado, começaram a cantar hinos de devoção e de alegria. Esperanças versificadas, que deviam subir a Jesus, traduzindo o amor e a confiança daqueles corações resignados, que viviam embevecidos nas suaves promessas do seu Reino...
Aos poucos, as vozes se elevavam, harmoniosas e argentinas, nas estrofes de hosana e de esperança! Seres espirituais, imperceptíveis, ajoelhavam-se junto dos condenados, a cujos ouvidos chegavam os ecos suaves das cítaras do invisível...
Então, alguns pretorianos que lhes montavam guarda, escutando-lhes os cânticos de fé, compararam a voz daqueles corações angustiados a soluços de rouxinóis apunhalados em pleno luar, na vastidão do espaço.
Enquanto os prisioneiros aguardam o dia reservado ao sacrifício, acompanhemos nossas personagens no desdobramento de sua vida cotidiana.
Depois de uma visita a Tibur, Élio Adriano certificou-se do valioso concurso de Helvídio Lucius às suas caprichosas edificações, convidando-o a visitá-lo com a família, a fim de lhe testemunhar o seu reconhecimento.
No dia aprazado, com exceção de Célia, que não podia dissimular o seu abatimento, compareciam ao ágape, que o Imperador lhes oferecia, o tribuno e sua família, acompanhado de Caio Fabricius e Fábio Cornélio.
Adriano os recebeu com amabilidade extrema, versando as palestras da tarde sobre os mais variados assuntos atinentes à vida social e política do Império.
Em dado instante, após as libações habituais, Adriano dirigiu-se a Helvídio Lucius, nestes termos:
– Meu amigo, o principal escopo do meu convite é agradecer-te a preciosa colaboração prestada aos meus planos em Tibur. Francamente, as tuas realizações excederam a minha expectativa mais otimista!
– Obrigado, Augusto! – respondeu o patrício, emocionado e satisfeito.
E como se houvera transportado a sua palavra a objetivos diferentes, o Imperador obtemperou com evidente interesse:
– Quando se efetua o enlace de tua filha? Pretendo fazer uma viagem demorada pela Grécia, antes de me recolher a Tibur de modo definitivo, mas não desejaria partir sem contemplar a felicidade dos nubentes.
Designando Caio, que experimentava a maior alegria à vista do interesse imperial pela sua situação, Helvídio replicou:
– Augusto, muito nos honramos com a vossa generosa atenção. O enlace de minha filha depende tão-somente do noivo, que está aliciando a experiência da vida, antes de atender aos reclamos do amor.
– Que é isso, Caio? – perguntou o Imperador num largo sorriso. – Que esperas ainda? Se Vênus ainda não te bateu fortemente às portas da alma, não podes entreter com promessas o coração que te aguarda em primaveras de amor.
– Vossa palavra, ó César – respondeu o interpelado como um perfeito augustino –, conforta-me o espírito como os raios do Sol; entretanto, tendo de substituir Vênus por Juno em meu santuário doméstico, aguardo a oportunidade propícia à minha tranqüilidade futura.
Élio Adriano fez um gesto expressivo, fixando em Helvídio Lucius o seu olhar enigmático, e acrescentando:
– O ensejo esperado deve estar chegando agora. Afirmava a sabedoria dos antigos que melhor fala aos pais o bem que se faz aos filhos, razão por que tomo o dote da jovem Helvídia ao meu cuidado. Resolvi doar-lhe uma propriedade deliciosa nas imediações de Cápua, ao pé do Vulturno, onde o fruto das vinhas e das oliveiras bastaria para entreter a felicidade de uma família durante cem anos de existência, sem outras preocupações de ordem material.
Um sopro de alegria animou todos os semblantes, desenhando-se, com especialidade, nos de Helvídio Lucius e sua mulher, que se entreolharam felizes, tomados de sincero reconhecimento pela espontânea generosidade do Imperador, a quem Fábio Cornélio se dirigiu com a mais respeitosa cortesia, agradecendo em nome de todos a régia dádiva.
Caio Fabricius, não podendo conter a sua alegria, apertou as mãos da noiva, exclamando:
– Depois da palavra de Fábio, queremos confirmar nosso reconhecimento à vossa magnanimidade, ó Augusto! Vossa lembrança expressa a generosidade e o poder do senhor do mundo!... E já que depende de mim a fixação do matrimônio, marcá-lo-emos para o mês próximo, como vos apraz!... Todo o nosso desejo é que nos honreis com a vossa presença, porquanto, em face de vossa paternal proteção, sentimos que os deuses nos abençoam e guiam!...
– Sim – ponderou Adriano pensativo –, no mês vindouro pretendo realizar minha última viagem pela Itália e pela Grécia. Prometi aos amigos de Atenas que não me recolheria a Tibur antes de levar-lhes a minha visita derradeira! Antes de me ausentar, pretendo comemorar com festejos públicos a inauguração dos novos edifícios da cidade[1]. Aproveitaremos, então, a oportunidade para que se efetive a tua ventura.
Alba Lucínia tinha os olhos úmidos, abraçando a filha alegremente, e assim terminava o banquete com júbilo inexcedível.
No dia imediato, o Imperador ordenou todas as providências para a doação e, enquanto Helvídio Lucius e família se preparavam convenientemente para o evento familiar, Caio Fabricius dirigia-se à antiga “Terra da Lavoira”, a fim de conhecer a região em que ficava a sua futura vivenda.
Todavia, a par dos grandes júbilos, persistiam as graves preocupações e as grandes dores.
Helvídio e sua mulher não podiam forrar-se à contrariedade que os martirizava intimamente, ao verem que Célia definhava, apesar dos esforços que ela mesma fazia, mercê das energias poderosas da sua fé, a fim de não amargurar o coração dos genitores.
Comparando a filha a uma flor mirrada e triste, o tribuno aumentava o seu ódio às idéias cristãs, recordando Ciro com aversão e rancor. O doloroso contraste do destino de suas filhas era-lhe objeto de profundas meditações. Interessava-se por ambas, com o mesmo afeto; contudo, malgrado a boa intenção, a mais nova parecia afastada da sua devoção paternal. Não sabia freqüentar os ambientes sociais, nem se integrava convenientemente no ritmo doméstico, como fora de desejar. Seus olhos jamais haviam manifestado qualquer interesse pelas fantasias da juventude e, mergulhados em cismas constantes, pareciam fixar-se noutros rumos, que o seu espírito paternal jamais pudera definir com acerto. Ao seu conceito, ela era vítima de umas tantas fraquezas que, no seu zelo, atribuía à influência dos princípios cristãos, no convívio dos escravos, lá na Palestina... Ainda bem que Helvídia seria ditosa e isso, de algum modo, o consolava!... Quanto a Célia, ele e a esposa mais tarde levá-la-iam a terras estranhas, onde a sua sensibilidade doentia pudesse modificar-se a contento.
Enquanto o tribuno desenvolvia todos os esforços por dissimular tais conjeturas, multiplicavam-se no lar os júbilos festivos.
Mas, ao passo que aumentavam as esperanças e as alegrias familiares, Célia verificava que os seus padecimentos morais lhe superavam as próprias forças.
A notícia da condenação de Ciro, como conspirador, acabrunhava-lhe profundamente o coração. Além disso, bastaria uma palavra só, do Imperador, para que os terríveis suplícios se consumassem. Aquelas perspectivas angustiosas lhe anulavam todas as esperanças. Ao seu lado, o enxoval da irmãzinha cobria-se de pérolas e de flores! Por si, não lhe invejava a ventura, mas desejava conservar a vida do eleito do seu destino. Orava sempre, mas as suas preces estavam eivadas das angústias terrenas, sem a leveza suave de outros tempos, que as fazia ascenderem ao céu. Agora, as vibrações espirituais mesclavam-se de ansiedades amargas e dolorosas!... Desejava ver Ciro, ouvir-lhe a palavra, saber da sua boca que o seu coração continuava forte e resignado diante da morte, a fim de que a sua alma haurisse ânimo na coragem dele, mas não podia pensar nisso. Os pais não lho consentiriam nunca. Tão penosas reflexões foram-lhe invadindo o cérebro, enfraquecendo-o.
Em poucos dias, o organismo não se mantinha de pé. Todavia, Alba Lucínia, com o bom-senso que lhe caracterizava as iniciativas, lembrou a conveniência de transportá-la para o Aventino, onde se trataria convenientemente junto do velho avô e de Márcia, que a adoravam.
Aceito o alvitre, Cneio Lucius veio buscá-la pessoalmente, com paternal solicitude.
Em sua casa a jovem melhorara do estado febril que tanto a debilitava, mas o singular abatimento moral zombava de todos os cuidados do venerável ancião, que inventava mil modos de restabelecer a alegria da netinha adorável.
Certo dia, pondo em jogo os seus processos psicológicos cheios de ternura, acercou-se da neta, exclamando com profunda bondade:
– Célia, minha querida, pesa-me o coração ver-te assim abatida e doente, apesar de todos os esforços do nosso amor desvelado.
E como lhe visse as lágrimas brilhando à flor dos olhos, continuou carinhoso:
– Também eu, minha filha, no imo da consciência, sou hoje um adepto do Cristianismo, com todo o fervor do meu espírito! Conheço a essência dos Evangelhos, levado pelas afetuosas sugestões da tua alma cândida e generosa!... Para mim, não valem mais, agora, os sacrifícios aos nossos velhos deuses, silenciosos e frios, mas tão-somente as ofertas do nosso próprio coração àquele que vela por nossos destinos, do seu trono das Alturas! Mas ouve, filhinha: não sabes que Jesus não quer a morte do pecador? Não lhe conheces o ensinamento, cheio de vida e de alegria?
E como se adivinhasse as mágoas que laceravam aquele coração afetuoso e crente, tinha também os olhos úmidos.
A neta recebeu-lhe as palavras como se fossem um bálsamo suave, respondendo-o:
– Sim, compreendo tudo isso e rogo a Jesus me conceda forças, a fim de encontrar nos seus exemplos a razão da minha própria vida...
Essa resposta, porém, ficava a meio, uma onda de lágrimas invadia-lhe os olhos grandes, serenos, como se hesitasse em confessar ao venerando velhinho a sua preocupação dolorosa e incessante.
Cneio Lucius, contudo, abraçou-a ternamente, ao mesmo tempo que ela murmurava em voz súplice:
– Avozinho, prometo ter fé e triunfar de todos os sofrimentos, mas desejava ver Ciro antes da sua morte!
O respeitável ancião compreendeu quão difícil seria satisfazer tal desejo, mas respondeu sem pestanejar:
– Vê-lo-ás comigo, amanhã pela manhã. Falarei a teus pais, ainda hoje, a esse respeito.
A jovem lançou-lhe um olhar jubiloso e profundo, no qual se podia ler a mais terna de todas as alegrias, misto de amor e gratidão.
À tarde, uma liteira saía do Aventino, conduzindo o venerável patrício à casa do filho, que, ao lado da esposa, lhe recebeu a rogativa com o mais fundo
constrangimento a lhe transparecer no rosto.
Alba Lucínia, na sua sensibilidade de mulher, compreendeu de pronto que a
concessão aos desejos da filha era justa, convindo atender àquela súplica ansiosa. O tribuno, porém, relutava consigo mesmo e, se não opunha uma negativa formal, era tão-somente em atenção ao interventor, que, em lhe ser pai, era
também seu mestre e o melhor amigo de toda a vida.
– Mas, meu pai – obtemperou depois de longa meditação –, esse pedido
articulado pela sua boca me surpreende profundamente. Tal medida, posta em prática, atrairá sobre nossa casa e nome numerosos comentários e suspeitas. Que diriam os administradores do cárcere se vissem minha filha a interessar-se por um condenado?
– Filho – replicou Cneio Lucius imperturbável –, compreendo e justifico os teus escrúpulos, mas precisamos considerar que Célia pode piorar, fatalmente, se lhe recusarmos a satisfação desse desejo. Além disso, sou eu próprio que me proponho acompanhá-la. Quanto à nossa entrada na prisão, livre da curiosidade maledicente, já pensei no melhor meio de consegui-la. Levarei minha neta na qualidade de pupila da minha casa, como se fora filha de um sentenciado, pois bem sabemos que os prisioneiros não vão morrer como cristãos, mas como conspiradores e revolucionários. Com as prerrogativas de que disponho, penetrarei no cárcere em sua companhia, sem a presença importuna dos funcionários ou dos pretorianos, de modo que somente eu presenciarei o que venha a ocorrer entre ambos!
Helvídio ouvia-o, silencioso. Mas o venerável patrício, sem desistir dos seus propósitos, tomou-lhe as mãos entre as suas, murmurando humildemente:
– Concorda! Não negues à tua filha, enferma, a satisfação de um desejo tão justo!... Além disso, filho, recorda-te que se trata de um simples encontro pela última vez...
Ao espírito do tribuno repugnava a idéia de que a filha fosse visitar o servo odiado, com o seu consentimento; mas, havia tamanha ternura nas palavras paternas que o seu coração cedeu de chofre àquela atitude de carinho e de humildade.
Fixando o generoso velhinho, como se estivesse anuindo tão-só por consideração a ele, seu pai e maior amigo, murmurou um tanto contrafeito:
– Pois bem, meu pai, que se faça a sua vontade! Deixo a seu critério a solução do caso.
E dando a entender que o assunto lhe desagradava, falou de outras coisas, levando o ancião para o interior, onde se intensificavam os preparativos para os esponsais de Helvídia.
Cneio Lucius, que entendia a alma do filho desde pequeno, gabou-lhe todos os empreendimentos com bom humor e alegria, opinando com otimismo sobre todos os seus feitos e regozijando-se, simultaneamente, com as suas iniciativas, a evidenciar no semblante uma satisfação espontânea e sincera, como se nenhuma preocupação lhe povoasse a mente.
Nas primeiras horas do dia imediato, a liteira do venerável patrício estacionava junto à Prisão Mamertina, enquanto ele e a neta, que se disfarçara em trajes muito simples, dentro de um largo peplo que lhe dissimulava os próprios traços fisionômicos, entravam no tenebroso edifício, salientando-se que Sixto Plócio, previamente avisado, vinha receber Cneio Lucius e aquela que ele apresentava como filha adotiva de sua casa, facultando-lhes a máxima liberdade para tratar com os prisioneiros.
Na cela espaçosa onde se aglomeravam os vinte e dois sentenciados, penetravam os primeiros clarões do Sol como se fossem uma bênção.
Nestório e Ciro, reunidos aos demais, estavam profundamente desfigurados. A alimentação deficiente, as perspectivas angustiosas, os castigos aplicados no cárcere, tudo se conjugava para lhes abater as forças físicas. Todavia, nos olhos serenos de todos os condenados havia um clarão sublimado e ardente, exteriorizando energias misteriosas. Viviam da fé e pela fé, colocando todas as esperanças naquele Reino Divino que Jesus lhes prometera em cada ensinamento.
Volúsio e Lépido, dois pretorianos de plena confiança dos administradores do presídio, conduziram os visitantes ao apartamento dos condenados.
Um grito de júbilo escapou-se do peito de Ciro ao avistar a figura de Célia, que caminhava para ele com um sorriso carinhoso, embora amargo. Nestório não sabia expressar o reconhecimento que lhe inundava a alma, pois que, embora não se revelasse um companheiro de convicção, Cneio lhes estendia os braços generosos.
A princípio, a emoção e alegria emudeceu uns e outros; mas a jovem patrícia, num impulso natural e muito feminino, observando a penosa situação do bem-amado de sua alma, desatara em pranto convulsivo, enquanto o velho avô murmurava com benevolência e carinho:
– Chora, filha!... as lágrimas fazem-te bem ao coração!...
E, bondosamente, como se deferisse ao moço liberto a tarefa de consolá-la, afastou-se com Nestório para outro ângulo da cela, apresentando-lhe o ex-cativo os demais condenados.
Quase a sós, os dois jovens podiam trocar as suas impressões derradeiras.
– Célia, como te entregas ao sofrimento desse modo? – perguntou o mancebo invocando todas as suas forças para revelar coragem e serenidade. –
Não será melhor morrer pelo Mestre, a quem tanto amamos? Estou muito reconhecido a Jesus, ao receber tua visita nesta cela erma e triste. Desde que fui preso, tenho suplicado fervorosamente à sua misericórdia não me permitisse morrer sem consolar-te!...
Ainda esta noite, querida, sonhei que havia chegado ao Reino do Senhor, aí vendo muitas luzes e muitas flores... Chegando aos pórticos desses paraísos indefiníveis, lembrei-me do teu coração e senti uma saudade profunda!... Queria encontrar-te para penetrar no Céu, contigo... Sem a tua companhia, as moradas de luz me pareceram menos belas, mas um ser divino, desses a quem deveremos chamar anjos de Deus, acercou-se, esclarecendo-me com estas palavras: – Ciro, breve baterás a estas portas, livre de qualquer laço dos que ainda te prendem ao corpo perecível! Manifesta a tua gratidão a esse Pai de misericórdia que te concede tantas graças, mas não penses em repouso quando as lutas apenas começam! Terás de ressarcir, ainda, muitos séculos de erro e treva, de ingratidão e impenitência!... Reconforta o espírito abatido, na contemplação dos planos sublimados da Criação, para que possas amar a Terra com as suas experiências mais penosas, que valem também por divino aprendizado, na escola do amor de Deus!...
Então, querida, pedi àquela entidade pura e carinhosa que, depois da morte, me auxiliasse a renascer junto de ti, fosse com a responsabilidade das riquezas terrestres, ou na condição da maior miséria. E sei que Jesus, tão poderoso e tão bom, há de conceder-me essa graça. Não chores mais! desanuvia o coração nas promessas divinas do Evangelho!...
Suponhamos que vou fazer uma longa viagem, imposta pelas circunstâncias... mas, se Deus permitir, estarei de volta ao mundo, no dia imediato, a fim de nos encontrarmos novamente. Como será esse reencontro? Não importa sabê-lo, porque, de qualquer forma, sempre nos amamos pelo espírito, dentro de nossas realidades imortais!
Promete-me que serás alegre e forte, esperando a minha volta. Não permitas que energias destruidoras te maculem o coração!...
E presumindo que a jovem pudesse, mais tarde, enfarar-se do próprio destino, acentuou:
– Confio no teu valor, espero que jamais estranhes a posição social que o Senhor te haja concedido. Nas horas angustiadas da vida, recorda-te que, depois do amor de Deus, deveremos honrar pai e mãe acima de todas as coisas, sacrificando-nos por eles com a melhor das nossas energias!...
Ela deixara de chorar, mas uma névoa de tristeza lhe invadira os olhos desencantados. Contemplava-o à sua frente, com uma ternura que o coração não
saberia jamais definir. Noivo ou irmão? Por vezes, sentia no íntimo que ele deveria também ser filho. As almas gêmeas amam-se em curso de eternidade, confundindo-se na alternativa contingente dos elos do espírito. Aspiram a uma felicidade pura e imortal e só vivem felizes quando integradas na união eterna e indissolúvel.
Na fortaleza moral que lhe ocultava as mais dolorosas emoções, o mancebo continuava:
– Dize-me, Célia, que amarás sempre a vida, que terás muita fé e me esperarás, cheia de confiança. Quero enfrentar o sacrifício com a certeza de que prosseguirás, como sempre, forte na luta e conformada com os desígnios do Criador!...
– Sim – murmurou ela com uma cintilação de fé a lhe brilhar nos olhos –, por ti, nunca odiarei a vida! Através da minha confiança nas promessas do Cristo, rejubilarei quando chegares... tornarei a sentir a branda carícia da tua presença carinhosa, pois meu coração identificará o teu entre mil criaturas, porque te tenho amado como Jesus nos ensinou, com dedicação celestial.
– Assim, querida – murmurou o jovem confortado –, foi sempre assim que idealizei o teu coração humilde e generoso.
– Ciro – disse a donzela candidamente –, rogo a Jesus que nos conserve a fé nas angústias desta hora! Esperarei a tua volta, cheia de confiança em ti, sabendo que me quiseste sempre, tal como te amei!...
Depois de uma pausa, olhos umedecidos, continuou emocionada:
– Sabes? Lembro-me agora de nossa excursão ao lago de Antipátris... Recordas-te? Eu estava surpresa por te ver, quando a onda me colheu, impelida pelo vento... Hoje, pergunto se não seria melhor ter morrido. Aprenderia a amar a Jesus, fora de um mundo como este, e haveria de esperar-te na outra vida com o meu amor grande e santo!... Ainda sinto a emoção do minuto em que me salvaste, trazendo-me à tona!...
– É verdade – atalhou o rapaz fazendo o possível por não trair a emoção daquelas reminiscências –, mas, recordando tudo isso, não somos levados a crer que Jesus, desejava, como ainda deseja, a tua vida? Não fui eu quem te salvou, mas o Mestre Divino, que te queria na Terra.
– Sim – obtemperou comovida –, continuarei implorando a Jesus que te permita voltar, conforme prometes! O mundo, Ciro, é sempre um lago revolvido pelo vento das paixões e, no fundo das águas, há sempre vasa que sufoca as mais nobres aspirações do espírito. Que Jesus não me falte com a tua companhia no futuro, pois quero viver para servi-lo na claridade de tua memória, que honrarei em toda a vida!...
– Célia, não duvides do Senhor nem descreias da minha volta. Pensarei sempre em ti, como nunca te esqueço...
E para dissipar as amargas expectativas do momento, voltou-se para trás, revolvendo um colchão imundo, ali colocado à guisa de cama, de lá retirando um pedaço de pergaminho que ofereceu à jovem, acrescentando:
– Ainda anteontem escrevemos aqui um hino para glorificar o Mestre no dia do sacrifício. Lembrei que deveria sugerir aquela música que te ensinei, sob os cedros de tua casa, sendo aceita a minha idéia. Desde esse instante, querida, minha grande preocupação foi conseguir os recursos precisos para deixar-te uma cópia, pois tinha convicção de que Jesus me concederia a dita de reverte. Há aqui um pretoriano chamado Volúsio, bastante simpático ao Cristianismo, que me facultou os elementos precisos para a grafia destes versos.
Entregando-lhe o fragmento de pergaminho, acentuava:
– Guarda este hino que constitui a minha lembrança antes da partida! Todos nós colaboramos na formação do poema, mas, lembrando-me da nossa eterna afeição, encaixei aí algumas rimas, nas quais traduzi minhas esperanças. Dedico- as a ti, para confirmar-te a dedicação de todos os momentos!
– Deus te abençoe e te proteja! – exclamou a jovem patrícia, guardando a preciosa lembrança.
Ambos se entreolharam com a poderosa atração dos seus sentimentos purificados, mas Cneio Lucius, depois de haver conversado longamente com Nestório e seus companheiros, examinando todos os detalhes da prisão, aproximava-se com um sorriso complacente.
Conhecendo a sentimentalidade da neta, dirigiu-lhe a palavra nestes termos: – Filha, as horas voam, estou à tua disposição para quando desejes regressar. Ela acercou-se do respeitável ancião, que se fazia acompanhar pelo liberto
de seu filho, pousando em Nestório o olhar melancólico, mas o ex-cativo veio-lhe ao encontro com estas palavras:
– Célia, tua vinda a este cárcere representa para nós a visita de um anjo. Não te impressione a nossa condenação, que aos olhos de Deus deve ser útil e justa. Dizia a inspiração de Paulo que a morte é o nosso último inimigo. Venceremos, pois, mais essa etapa, com Jesus e por Jesus. Apesar disso, não te esqueças de que a dádiva da vida é um bem precioso que o Céu nos confia. Para a alma fervorosa, o melhor sacrifício ainda não é o da morte pelo martírio, ou pelo infamante opróbrio dos homens, mas aquele que se realiza com a vida inteira, pelo trabalho e pela abnegação sincera, suportando todas as lutas na renúncia de nós mesmos, para ganhar a vida eterna de que nos falava o Senhor em suas lições divinas!
Célia sentiu que a sua fé atingia um grau superior, mediante aquelas exortações amigas e carinhosas, e voltando-se para Ciro, que, com o olhar, parecia recomendar-lhe que as ouvisse, respondeu, comovida:
– Sim, guardarei tuas palavras com o respeitoso amor de uma filha.
Acercando-se do avô, pediu-lhe permissão para despedir-se de ambos os condenados, e, aproximando-se do jovem, que ocultava a comoção no imo dalma, guardou-lhe as mãos entre as suas por um momento, beijando-as levemente.
– Deus te proteja! – disse em voz baixa, quase imperceptível.
Em seguida, acercou-se de Nestório, a quem abraçou respeitosamente, depositando-lhe um ósculo na fronte.
Ambos os sentenciados desejavam agradecer, mas não o puderam. Uma força poderosa parecia embargar-lhes a voz. Ficaram imóveis, silenciosos, enquanto Cneio Lucius, tocado pela cena comovedora, se despedia com um leve aceno.
Contudo, até o fim, Ciro mostrava no rosto uma expressão de fortaleza, num sorriso carinhoso que consolava profundamente a alma gêmea da sua...
Mais um gesto de adeus naquele silêncio que as palavras profanariam, e a porta do cárcere rangeu de novo nos seus gonzos sinistros e terríveis.
Nesse instante, o sorriso do moço cristão desapareceu-lhe do rosto desfigurado. Dirigiu-se para as grades da prisão, agarrando-se aos varões como um pássaro sedento de luz e liberdade. Seus olhos ansiosos espraiaram-se pelo exterior, buscando ver, pela última vez, a liteira que deveria reconduzir a sua amada.
Mas, aos poucos, sua juventude inquieta voltava-se para Jesus, com todo o fervor de suas aspirações apaixonadas. Desprendeu-se dos varões rígidos e ajoelhou-se. A luz do Sol, que esplendia na manhã alta, banhou-lhe as faces e os cabelos. Orava, rogando a Jesus fortaleza e esperança. A claridade solar parecia inundar-lhe a fronte com as graças do Céu, mas, mesmo assim, deixando pender a cabeça, escondeu o rosto nas mãos emagrecidas, para chorar humildemente.
[1] Entre as numerosas edificações de Adriano, durante o seu reinado, conta-se, como das mais modernas, o famoso Castelo de Santo Ângelo. – Nota de Emmanuel
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Ezequiel 18:23
Desejaria eu, de qualquer maneira, a morte do ímpio? diz o Senhor Jeová: não desejo antes que se converta dos seus caminhos e viva?
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Habacuque 2:4
Eis que a sua alma se incha, não é reta nele; mas o justo pela sua fé viverá.
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I Coríntios 15:26
Ora o último inimigo que há de ser aniquilado é a morte.
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João 8:7
E, como insistissem, perguntando-lhe, endireitou-se, e disse-lhes: Aquele que dentre vós está sem pecado seja o primeiro que atire pedra contra ela.
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I Pedro 4:8
Mas, sobretudo, tende ardente caridade uns para com os outros; porque a caridade cobrirá a multidão de pecados.
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