Mensagem do Amor Imortal (A)

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CAPÍTULO 1

SOU UM HOMEM PECADOR. . .

Lucas 5:1-11

Cafarnaum era, então, uma aldeia de pescadores, camponeses, jornaleiros, transformando-se, lentamente, em uma cidade esfervilhante, que passaria à posteridade como sinônimo de balbúrdia, de desordem, que o evangelista Mateus terá ocasião de informar que era a Sua cidade. . .

Em face da sua localização geográfica, tornara-se importante encruzilhada de caminhos, entre os quais aquele que conduzia à importante Damasco, passando pela Itureia, levando ao rumo do mar. . .

Em consequência, muitos profissionais vinham de diferentes lugares a fim de exercerem as suas habilidades, ali fincando raízes.

Por outro lado, progredia o intercâmbio de moedas das diferentes regiões, num comércio rico de possibilidades de crescimento.

Simultaneamente, aventureiros de todo porte chegavam à cidade ávidos de prazeres e negócios escusos, na expectativa de conseguir fortuna fácil.

Espraiando-se pelas margens frescas do mar da Galileia, beneficiava-se das suas aragens agradáveis, ao tempo em que se renovava na arquitetura, nos jogos e festas dedicados à futilidade.

Caracterizada pelo seu povo gentil, especialmente generoso e simples, as pessoas contentavam-se com os recursos de que dispunham, sem deixar-se contaminar pelas paixões pervertidas das grandes urbes, que eram trazidas pelos recém-chegados.

Quando Jesus apareceu, foi acolhido gentilmente com carinho e sem despertar as suspeitas habituais, como se fosse um deles.

Aos sábados, na sinagoga oblonga e sem vida, vítimada pela rotina e indiferença dos seus sacerdotes, quando Ele se apresentava, verdadeiras multidões acorriam ávidas de conhecimentos, a fim de ouvi-lO dissertar sobre os profetas e a Lei, de maneira inusitada, rica de poesia e beleza, que a todos fascinava.

As velhas palavras adquiriam significado novo, emoldurando as vidas com esperança e alegria existencial.

O verbo, ora doce e suave, logo depois, enérgico e nobre, penetrava o âmago dos corações e insculpia-se nas mentes que renovavam os conceitos em torno da vida e dos relacionamentos humanos.

Ao abrir os rolos dos pergaminhos antigos, ao acaso, lia um texto de Isaías ou Jeremias, ou de outro sábio israelita, invariavelmente da Lei, trazendo à atualidade a conceituação que parecia perdida no tempo, podendo ser aplicada no quotidiano existencial.

Como consequência, a Sua fama percorreu as aldeias circunjacentes, alcançando outros centros urbanos como Dalmanuta, Magdala, Corazim, que mais tarde se transformariam em pérolas com que Ele comporia o belo colar em volta do lago de Tiberíades, piscoso e abençoado.

Todos desejavam ouvi-lO, vê-lO, tocá-lO, encantando-se com a Sua majestade singela e incomum.

Nazareno, identificava-se pela cabeleira longa, partida ao meio e pela barba que lhe descia da face aureolada por seráfica beleza.

Dantes, jamais se ouvira algo semelhante ao que Ele enunciava.

Ninguém ficava indiferente à Sua palavra, inclusive aqueles que nunca se haviam interessado pelos rabinos e seus talentos, sempre malvistos, embora temidos e respeitados.

Não se sabia exatamente nada a respeito da Sua procedência e realmente não se interessavam por informar-se.

Caminhando pela praia, fazia-se acompanhar por muitos daqueles que se haviam sensibilizado com os Seus comentários. . .

Acercando-se, oportunamente, da barca de Simão bar Jonas, nela adentrou-se e propôs ao conhecido pescador que remasse na direção do mar, a fim de se afastarem das pessoas curiosas.

Durante o breve percurso confortou aqueles que nela se encontravam, desalentados, falando-lhes sobre a alegria de viver, e porque fosse informado que nada haviam pescado, pediu-lhes que atirassem as redes às águas levemente eriçadas.


Simão, algo frustrado, respondeu-Lhe:

— Senhor, tenho trabalhado toda a noite, nada apanhamos;

porém, sob tua palavra, lançarei as redes.

Ao fazê-lo, estremeceu, porque logo se deu conta de que, ao puxá-las, encontravam-se refertas, como nunca anteriormente, quase se rompendo. O deslumbramento foi de tal maneira, que todos gritaram, chamando os companheiros de outra barca, para que os viessem ajudar. A pesca houvera sido tão frutuosa, que as barcas pareciam afundar ao peso dos peixes recolhidos. . .


Simão, diante do acontecimento, tomado de súbita emoção e de horror, arrojou-se-Lhe aos pés, ajoelhando-se, e disse-Lhe:
— Retira-te de mim, Senhor

> porque sou um homem pecador.


Penetrando-o com o dúlcido olhar, que também se estendeu aos demais que se encontravam na barca, Tiago e João, filhos de Zebedeu, que eram sócios de Simão, Ele redarguiu, com nobreza:

— Não temas. De agora em diante serás pescador de homens.

De retorno à praia, eles deixaram as barcas e O seguiram.

Iniciava-se o ministério de que eles não tinham qualquer ideia.

Era o entusiasmo, o amor espontâneo que lhes brotara na alma, seguindo-O, sem dimensão da responsabilidade, da grandeza do compromisso.

Preparado o solo dos corações, Ele começou a distribuir as sementes abençoadas do Reino de Deus.

Reuniu-os em uma nova família, ao arrancá-los dos lares, convocando-os para a edificação de um mundo de amor como nunca houvera até então.

Ele era pobre, porque se fizera igual àqueles para os quais viera, de modo que não houvesse distância de qualquer natureza entre eles, exceto a que defluía da Sua realeza espiritual.

Desse modo, convocava os ricos a que se fizessem pobres, considerando a fortuna como um perigo para a alma, em face do uso que dela fosse feito.

Os fartos encontravam-se saciados, não necessitando de mais nada, pelo menos do ponto de vista material.

Era necessário ser pobre de avareza, de orgulho e de prepotência, esses tesouros ignóbeis que acompanham as posses, envilecendo-as.

Era simples, porque assim se tornara, embora detentor do poder espiritual, que desvelaria suavemente, a fim de não os assustar, despreparados como ainda se encontravam.

Elegera-os, porque representavam a massa desprezada pelos governantes e exploradores, lentamente equipando-os com os sublimes instrumentos e informações para o futuro.

Sabia-os fracos, porém, confiava nas suas forças bem mais tarde, quando fossem convocados ao testemunho.

Conhecia-os a todos, desde há muito. . . Eles não se recordavam, mas sentiam algo estranho, inexplicável, junto a Ele.

Os Seus combatentes seriam treinados para a vitória sobre si mesmos de início, e, logo depois, para mudarem o rumo da História.

Tratava-se de uma empreitada surpreendente, que nunca fora tentada.

Nem eles se apercebiam do que lhes estava acontecendo, nem era necessário.

Emoção, encanto, eram as forças que os dominavam naqueles dias, logo se surpreendendo com os acontecimentos pouco festivos e muito afligentes, as perseguições sistemáticas, enquanto Ele alterava as estruturas sociais e morais vigentes.

Quando chegassem os tormentosos dias, eles seriam temperados como os metais nas labaredas do ódio dos outros, nas chamas do medo, no braseiro das dúvidas, para, logo depois, estarem habilitados para a batalha, o grande confronto com o mundo em decadência, onde colocariam os alicerces da Era Nova.

Era Cafarnaum. . .

Era um homem pecador. . .

E dali, com ele e os outros, Jesus empreendeu a mais fascinante saga da Humanidade, alterando o ritmo sociomoral do Planeta e instalando no imo dos seres os contornos do Reino de Deus nos corações.

—Na minha barca - dissera Pedro - não pode estar um homem santo como Tu.

E Jesus dele fez pescador de homens na imensa barca terrestre sob o Seu comando sublime.

O antigo mar restrito ampliou-se, desde aqueles dias, para além das praias de Cafarnaum, enquanto as multidões aflitas encontram-se nas suas margens, ainda hoje, aguardando os modernos pescadores de almas. . .


Centro Espírita Caminho da Redenção

Salvador-BA, em 28. 01. 2008.


AMÉLIA RODRIGUES




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Lucas 5:10

E, de igual modo, também de Tiago e João, filhos de Zebedeu, que eram companheiros de Simão. E disse Jesus a Simão: Não temas: de agora em diante serás pescador de homens.

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Lucas 5:1

E ACONTECEU que, apertando-o a multidão, para ouvir a palavra de Deus, estava ele junto ao lago de Genesaré;

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Lucas 5:2

E viu estar dois barcos junto à praia do lago; e os pescadores, havendo descido deles, estavam lavando as redes.

lc 5:2
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Lucas 5:3

E, entrando num dos barcos, que era o de Simão, pediu-lhe que o afastasse um pouco da terra; e, assentando-se, ensinava do barco a multidão.

lc 5:3
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Lucas 5:4

E, quando acabou de falar, disse a Simão: Faze-te ao mar alto, e lançai as vossas redes para pescar.

lc 5:4
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Lucas 5:5

E, respondendo Simão, disse-lhe: Mestre, havendo trabalhado toda a noite, nada apanhamos; mas, sobre tua palavra, lançarei a rede.

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Lucas 5:6

E, fazendo assim, colheram uma grande quantidade de peixes, e rompia-se-lhes a rede.

lc 5:6
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Lucas 5:7

E fizeram sinal aos companheiros que estavam no outro barco, para que os fossem ajudar. E foram, e encheram ambos os barcos, de maneira tal que quase iam a pique.

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Lucas 5:8

E, vendo isto Simão Pedro, prostrou-se aos pés de Jesus, dizendo: Senhor, ausenta-te de mim, que sou um homem pecador.

lc 5:8
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Lucas 5:9

Pois que o espanto se apoderara dele, e de todos os que com ele estavam, por causa da pesca de peixe que haviam feito;

lc 5:9
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Lucas 5:11

E, levando os barcos para terra, deixaram tudo, e o seguiram.

lc 5:11
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