Mensagem do Amor Imortal (A)

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CAPÍTULO 11

A CRISE MAIS SEVERA

As reuniões noturnas, na residência de Pedro, quando o Mestre se encontrava em Cafarnaum, constituíam-se como verdadeiros encontros educativos para os valiosos esclarecimentos a respeito do futuro dos candidatos ao Reino de Deus.

Enquanto o céu se recamava de astros fulgurantes e a brisa corria na amplidão da praia, carreada com os suaves perfumes da Natureza em festa, os discípulos acercavam-se do Sublime Educador, ora na ampla área lateral da casa de Simão Pedro, outras vezes, na barca ancorada na areia do mar, e crivavam-nO de perguntas, oportunas umas, infantis outras, dominados por compreensível curiosidade ou interessados em melhor penetrarem nos meandros do apostola- do que iniciavam sem quase nenhuma segurança.

Paciente e misericordioso, Jesus sempre os atendia, explicando com cuidado as questões indagadas, ao tempo em que lhes ampliava a capacidade de entendimento em torno do ministério a que se deveriam dedicar com entrega total, considerando-se a magnitude da empresa a atender.

As notícias da Mensagem corriam de bocas a ouvidos, não apenas pela região ribeirinha, mas também atravessaram algumas das tetrarquias do país, atraindo curiosos e infelizes sempre ansiosos por milagres e feitos surpreendentes.

Simultaneamente, aos êxitos inegáveis da pregação e dos atos do Mestre, surgiam as primeiras reações dos opositores habituais, profissionais que se fizeram da negação e da suspeita, fâmulos dos interesses sórdidos das autoridades constituídas de quem recebiam migalhas como retribuição à conduta vil que se permitiam.

Ainda não se tinha a exata dimensão da missão de Jesus, o que mais espicaçava a curiosidade farisaica, tanto de religiosos inescrupulosos como de indivíduos insanos.

—Afinal, - perguntavam-se - que pretendia, realmente, o filho do carpinteiro de Nazaré? Por que as Suas palavras velavam os acontecimentos ou eram mais profundas do que podiam penetrar?

Estaria Ele a soldo de interesses estrangeiros, para desestabilizar o governo de Israel, ou o que aguardava, anunciando-se como Filho de Deus?

Muitas vezes, doestos e escarnecimentos eram-Lhe dirigidos, seja na Sinagoga, onde comparecia uma que outra vez, ou mesmo nas ruas por onde transitava, sem que respondesse a qualquer pergunta que aclarasse a situação.

A verdade é que Jesus pairava acima das misérias da sordidez humana, não dispondo de tempo hábil para as suas mesquinharias.

Considerava os seus antagonistas como enfermos do Espírito, mais credores de compaixão do que de combate.

E porque parecesse aumentar o número desses adversários cínicos, num dos encontros, na larga sala da casa de pedra onde morava Simão Pedro, Tiago resolveu interrogar o Amigo.

Tiago era algo taciturno e severo no cumprimento das leis, sejam as de natureza religiosa, que emanavam do Templo de Jerusalém, ou daquelas outras que eram estabelecidas pela Torre Antônia, sempre fiel às tradições mosaicas e aos Livros sagrados que continham a história do seu povo. . .

Quase sempre refletia sobre a magnitude da oportunidade de convivência com o Rabi, da profundidade dos Seus ensinamentos que nem todos absorviam devidamente, chegando a comover-se ante as perspectivas que se lhe desenhavam na mente em relação ao futuro.

Naquele momento, porém, era imperioso informar- -se mais, compreender o programa que estava sendo apresentado e equipar-se dos instrumentos próprios para a desincumbência das tarefas.


Desse modo, não titubeou, quando o Mestre, após entretecer considerações demoradas sobre o comportamento das criaturas que O buscavam, sempre aguardando imerecidas bênçãos e soluções para os problemas do dia a dia, interrogando-O:

—Senhor! Indubitavelmente vivemos uma hora de crises complicadas em toda parte. Roma esmaga Israel com impostos pesados, ameaçando-nos a todos com as suas legiões que se aquartelam em Jerusalém, em Cafarnaum, em Cesareia de Filipe. . . A miséria econômica e social dizima os menos resistentes e vivemos transitando entre crises que se repetem. Qual, afinal, a pior delas, será alguma que ainda virá?


Jesus relanceou o olhar compassivo sobre o grupo de amigos, pareceu perscrutar o Infinito, e após um silêncio significativo, respondeu com sabedoria:

—A pior crise que existe, Tiago, é a de caráter moral do homem, que responde por todas as demais expressões em que se manifesta. O ser humano está destinado à Imarcescível Luz, no entanto, ainda se compraz em deambular pelas sombras da ignorância, atado às paixões que o dominam e infelicitam. Meu Pai não deseja que o pecador desapareça, senão que o pecado que nele vive seja diluído.


Para esse resultado, porém, faz-se-lhe imprescindível o esforço de transformação moral para melhor continuamente. "Na raiz dessa crise cruel encontra-se o egoísmo que trabalha em favor de si mesmo, a prejuízo do seu próximo. Na falta, portanto, de solidariedade somente existem ambição e loucura, perturbação e desastre. As criaturas existem para que aprendam a conviver em paz, ajudando-se reciprocamente e crescendo juntas. "As heranças do seu primarismo, todavia, isolam-nas na presunção, nas ilusões do poder, de raça, de casta, de fé religiosa, política e social, trabalhando pela sua própria desdita. "Como efeito infeliz, as enfermidades e os problemas surgem, a fim de contribuírem em favor do despertamento do ser profundo a respeito da sua imortalidade e do seu destino futuro depois da morte, de que ninguém conseguirá evadir-se. "Por essa e outras razões, é que o Reino de Deus será instalado primeiro no mundo íntimo de cada um sobre os alicerces do amor incondicional e da caridade sem limites, de onde se espraiará para as dimensões externas, implantando-se definitivamente na sociedade. " Calou-se, de forma a proporcionar ao discípulo, cujos olhos brilhavam de felicidade, ampliar as interrogações, o que logo aconteceu, dando prosseguimento:

— Trata-se de uma batalha silenciosa, que deve ser travada por cada um de nós, não podendo ser realizada sem grande esforço pessoal. Ninguém a poderá executar por nós, não é verdade?


O Mestre anuiu com a cabeça em leve movimento afirmativo e ampliou o raciocínio do amigo:

-São inimigos da evolução do espírito, a avareza, o ódio, o ciúme, a inveja, a prepotência, a intriga, a perversidade, todos eles filhos espúrios das paixões primitivas que permanecem no âmago do ser, impedindo-lhe o avanço moral. Indispensável, desse modo, que aquele que se encontra em despertamento para alcançar a plenitude, capacite-se dos recursos valiosos da amizade em relação ao seu próximo, mas também da tolerância para com as suas deficiências, a todos muito comuns, ampliando a sua capacidade de entendimento e de compaixão, sem os quais se lhe torna impossivel a entronização do amor no tabernáculo dos sentimentos. "Não é muito fácil o empreendimento, em face dos exemplos ignóbeis que enxameiam em toda parte, conclamando ao revide, à luta competitiva, à agressão e à violência. . . No entanto, o amor é semelhante a um bálsamo perfumado que impregna deixando sinais da sua presença. Quando se começa a amar, mais necessidade se tem de amar, porque o amor se transforma em alimento vivo que sacia a fome pessoal daquele que o oferta, tanto quanto do outro que o recebe. . . "A severa crise destes dias é a mesma desde o início dos tempos e se prolongará ainda por um largo período na sociedade terrestre.

Nada obstante, aqueles que estão convidados para a construção do Mundo Novo deverão doar-se ao amor, de forma que os seus atos valham mais do que as suas palavras e todos os reconheçam pela qualidade de entendimento e de fraternidade que exista entre eles. "Os fenômenos físicos, denominados sinais do Messias, os chamados milagres, logo serão esquecidos, porque novas enfermidades surgirão nos recuperados, e em face das exigências de outros mais complicados e contínuos, no entanto, o amor será a identificação mais segura entre aqueles que estarão no mundo, mas sem pertencerem ao mundo. "No futuro, que não tardará, as crises existenciais, regionais, políticas e morais cederão lugar ao entendimento entre todos, sob os auspícios do amor, porque estará resolvida a mais severa crise no ser humano, que é a de valores morais. " Novamente Ele fez silêncio, enquanto Tiago procurou absorver os Seus ensinamentos, insculpindo-os no caráter, para o enfrentamento que lhe estava reservado, no futuro, quando deveria dar a vida em favor do seu amor à Verdade e à Mensagem, conforme lhe aconteceu. . .


Paramirim-BA, em 15. 07. 2006.


AMÉLIA RODRIGUES




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