Mensagem do Amor Imortal (A)

Versão para cópia
CAPÍTULO 13

A SINFONIA PATÉTICA

Mateus 5:38-42

Ainda perpassava no ar ameno a melodia excelsa das bem-aventuranças.

As promessas consoladoras balsamizavam as mentes e os corações aflitos.

As esperanças dominavam todos os sentimentos e pairava uma psicosfera de enternecimento entre as criaturas.

A Natureza era um hino de luz e cor, perfume e harmonia, emoldurando o sublime cântico do excelso Poeta.

Aquela multidão amorfa, espalhada pelo imenso platô da montanha fronteiriça ao mar-espelho, via-se realmente por primeira vez. . .

Eram estranhos uns, mas outros não. No entanto, aquela voz que enunciara a canção de felicidade unira-os, preenchera as distâncias que os separavam, e eles agora se viam de maneira especial, como jamais ocorrera no passado.

Os lábios entreabriam-se em um sorriso gentil, expressando a amizade em desabrochamento.

Nunca lhes sucedera nada igual àquelas emoções que lhes dominavam as paisagens íntimas.

Muitos vieram de longe, sem saberem de nada, e um sublime sortilégio unira-os naquele momento mágico, inesquecível.

O silêncio cortado levemente pela brisa agradável que chegava do mar, insculpia nos corações a incomparável melodia, a fim de que nunca mais fosse esquecida.

Repentinamente, a sinfonia inicial pareceu-lhes ser o exórdio do que logo viria, referindo-se aos enfrentamentos, às dificuldades, às lutas acérrimas que chegariam a seguir. . .

As dádivas distribuídas eram muitas e as concessões haviam-se feito abundantes.

A voz d’Ele adquirira diferente musicalidade, mais vigor e energia naquele momento.

Transfigurara-se novamente à frente do Sol que Lhe fulgia às costas como uma moldura de incomum beleza, ornando-O de luz.

O doce Amigo transformara-se em seguro condutor de vidas, em guia incomum que ministrava as instruções complementares às melodias de carinho.

Todos os ouvidos pareceram ampliar a capacidade de escutar e penetrar-Lhe os conteúdos profundos.

Todos se encontravam extáticos, ligados às Suas palavras em outra sinfonia, porém, de sabor patético.

— Tendes ouvido o que vos foi dito: — começou Ele a esclarece r — Olho por olho, e dente por dente. Eu, porém, vos digo: não resistais ao que é mal; mas a qualquer que vos bater na face direita, voltai-lhe também a outra; ao que quer demandar convosco e tirar-vos a túnica, largai-lhe também a capa; e quem vos obrigar a andar mil passos, ide com ele dois mil.

Silenciou, por breves momentos, e atingiu o clímax ao informar que somente o amor, sem qualquer restrição, é suficiente para os enfrentamentos com o mal e os maus, nunca o revide, a ofensa, o ressentimento, o desejo de vingança. . .

Uma exclamação de desapontamento explodiu no ar, saída de todos eles, que não esperavam uma sinfonia patética de tal intensidade, fazendo-os voltar à realidade terrena, chocados, surpreendidos.

Reflexionaram, de imediato: como ceder sempre? Nesse caso, onde a justiça e a responsabilidade da autodefesa? Como permitir que o violento agrida impune, seguindo adiante com a sua perversidade?

Sem dúvida, era trágico demais!

Todavia, essa contramão da Ética constitui a grandeza do Seu ensinamento.

É certo que se não deverá permitir que a agressividade e a violência tomem conta da Terra, e os fracos se transformem em bestas de carga dos fortes.

De alguma forma, esse ultraje ao ser humano sempre existiu, graças à escravidão, às necessidades econômicas, às injunções políticas. . .

A nova ordem, porém, é um convite à paz, um repúdio à violência, uma proposta vigorosa à coragem de não revidar mal por mal, de não devolver a hediondez, mesmo que haja oportunidade de fazê-lo.

O discípulo de Jesus é pacífico e pacificador, é manso e compreensivo, é ordeiro e confiante na Divina Justiça.

Ante uma agressão é normal que se experimente uma das três seguintes reações: o revide automático, a fuga para liberar-se de males maiores ou, por fim, oferecer-se a outra face. . .

Quando ocorre o revide, a contenda e a luta prosseguem ferozes.

Aquele que reage, nivela-se ao agressor, vinga-se dele. Nem mesmo a morte anula as consequências do ato insano, em razão dos prejuízos que produz.

A fuga transfere o clima de ódio para outra oportunidade, denota fraqueza moral que vitaliza o violento e estimula-o a manter a atitude perversa.

A única alternativa, certamente, é a mais difícil: oferecer-lhe a outra face, o outro lado, que significa o perdão.

Diante do inesperado, o covarde agressor titubeia, dá- -se conta do primarismo em que se encontra diante do outro que o enfrenta sem as chamas do ódio nos olhos, nem a baba peçonhenta do desequilíbrio nos lábios. . .

Se, por acaso, se atreve a uma nova agressão, a consciência irá queimá-lo e requeimá-lo em remorso tardio, originando tormentos da mesma qualidade que lhe tipifica a mesquinhez moral.

Inferiorizado, foge da sua vítima, tomba em desequilíbrio, reencarna-se para esquecer e recuperar-se.

Não revideis mal por mal, equivale exortar a fazer-se todo o bem possivel e um pouco mais.

E certo que Jesus utilizou-se de uma figura de linguagem forte, porque não poderia estimular e aceitar a ferocidade humana, legalizar a injustiça, de forma a permitir aos violentos a ousadia de destruir impunemente, de infelicitar sem termo.

A patética sinfônica transformou-se em poema de exaltação da não violência.

A violência começava a morrer asfixiada no algodão da paz que envolve aquele que ama.

Não há quem possa vencer um homem ou uma mulher que sejam pacíficos.

Ninguém fere a quem possui a paz e desapega-se da manta e da capa, tem paciência e caminha mais do que lhe é solicitado ao lado daquele que lhe impõe o esforço.

A ação de amor produz prazer, jamais sacrifício.

A não violência é toda uma sinfonia de bênçãos que Ele gravou nas delicadas cordas da citara emocional da alma humana.

(. . .) Tratava-se do prelúdio das novas mensagens sérias e definidoras de rumo para todos quantos O quisessem seguir.

Não somente bem-aventuranças antecipadas, mas resistência moral no bem para diluir o mal, após o que a promessa torna-se realidade.

Não resistais ao mal. . .

Enfrentamentos com os maus significam preservação da maldade e da loucura da violência.

Na contramão da conduta ancestral, o amor, em cânticos de perdão, constitui a sinfonia patética a transformar para a canção da liberdade.

(. .) Dai a outra face.

Jamais alguém tivera a coragem de propor tal comportamento.

Ele o fez, porque iria demonstrar que é possivel essa conduta, quando convidado ao holocausto da própria vida por amor.

Bem-aventurados, pois, todos os pacíficos. . .


Salvador-BA, em 10. 12. 2007.


AMÉLIA RODRIGUES




Acima, está sendo listado apenas o item do capítulo 13.
Para visualizar o capítulo 13 completo, clique no botão abaixo:

Ver 13 Capítulo Completo
Este texto está incorreto?

Veja mais em...

Mateus 5:38

Ouvistes que foi dito: Olho por olho, e dente por dente.

mt 5:38
Detalhes Capítulo Completo Perícope Completa

Mateus 5:39

Eu, porém, vos digo que não resistais ao mal; mas, se qualquer te bater na face direita, oferece-lhe também a outra;

mt 5:39
Detalhes Capítulo Completo Perícope Completa

Mateus 5:40

E ao que quiser pleitear contigo, e tirar-te o vestido, larga-lhe também a capa;

mt 5:40
Detalhes Capítulo Completo Perícope Completa

Mateus 5:41

E, se qualquer te obrigar a caminhar uma milha, vai com ele duas.

mt 5:41
Detalhes Capítulo Completo Perícope Completa

Mateus 5:42

Dá a quem te pedir, e não te desvies daquele que quiser que lhe emprestes.

mt 5:42
Detalhes Capítulo Completo Perícope Completa