Mensagem do Amor Imortal (A)

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CAPÍTULO 19

OS JULGAMENTOS

A orquestração para a tragédia encontrava-se melhor os músicos insensatos, que ensaiaram habilmente a farsa tétrica.

Era-lhes habitual esse tipo de comportamento.

Vivendo dos ressaibos das intrigas, perfídias e traições, e acumulando o azedume que se derivava da insegurança política, uniam-se contra qualquer sombra que supunham pudesse ameaçar-lhes a estabilidade no poder sempre instável.

Qualquer insurreição era sempre afogada em sangue através das armas da impiedade, a fim de atemorizar futuros nacionalistas ou fanáticos de ocasião.

Aquele Homem era-lhes mais do que uma ameaça. Intemerato e intimorato, realizava uma revolução arriscada para os seus padrões de covardia, tornando-se, a cada dia, um perigo maior. A Sua força era a Sua fraqueza terrena: sem dinheiro, sem prestígio social, sem destaque na comunidade. . . No entanto, o Seu fascínio arrastava as multidões, o que fora constatado quando da Sua entrada em Jerusalém, fazia pouco, ovacionado e recebido com as palmas da esperança e da vitória. . .

Era necessário silenciá-lO quanto antes. . .

Jerusalém, naqueles dias, regurgitava com dezenas de milhares de peregrinos que vieram de toda parte para as celebrações da Páscoa.

Uma faísca descuidada, no rastilho de pólvora dos problemas humanos ali expostos, e desencadearia um incêndio de proporções imprevisíveis. . .

Era necessário agir nas sombras, no silêncio da noite, aves de rapina que eram, piores do que os falcões e os abutres. . .

O prisioneiro foi conduzido à presença de Anás, o astuto ex-Sumo Sacerdote, que vivia em luxuoso palácio próximo ao Templo que explorava.

Na mesma suntuosa residência, vivia o seu genro Caifás, tão soberbo e cruel, quanto o seu símile e modelo.

Anás era filho de Seth, que também exercera o honroso cargo durante mais de um decênio, havendo sido apeado do poder, quando Tibério César iniciara o domínio sobre o Império. Era, no entanto, a personalidade mais influente do Judaísmo.

Saduceu, portanto, materialista, governava toda uma geração de membros religiosos, mantendo a supremacia por intermédio de Caifás, que o atendia servilmente, a troco do poder e das migalhas que lhe caíam das mãos avaras. . .

Desse homem dominador, um filho com o seu mesmo nome, posteriormente assassinaria Tiago, o discípulo de Jesus, no local de lapidação no Templo.

Será esse ignóbil ser quem julgará Jesus pela primeira vez.

Idoso, passara a noite praticamente acordado, esperando o resultado do plano terrível.

Os dois se fitaram por primeira vez. O passado apodrecido das religiões e a esperança, o futuro da religiosidade espiritual.

A pompa de mentira e a verdade desnuda.

Com empáfia e astúcia desejava saber se Ele era realmente o Messias, e qual era a Sua Doutrina.


Sem qualquer perturbação, ao ser interrogado, o Filho de Deus redarguiu:

— Eu tenho falado abertamente ao mundo; eu ensinei continuamente nas sinagogas e no templo, onde se reúnem todos os judeus, e nada falei ocultamente. Porque me interrogas? Pergunta aos meus ouvintes o que lhes falei; eles sabem o que eu disse. . .


João 18:20-21 Era o Senhor que se não perturbava ante a loucura dos servos ingratos.

(. . .) E porque nada houvesse conseguido, mandou-o a Caifás.

Caifás governava o poder religioso como Sumo Sacerdote, e a sua era a história de um farsante aproveitador. Chamava-se José. O seu sobrenome Caifás, também é Cefas, que significa pedra. O atormentado José Pedra recebeu a Doçura para o Seu julgamento, insensível.

Fariseu, primava pela hipocrisia, exaltando a aparência em detrimento da realidade.

Alcançara o poder absoluto, por ser genro de Anás, que o antecedera no cargo, igualmente servil e odiento, como já referido.

Através da compra de consciências com as moedas recolhidas nas infames negociações do Templo, podia manter o esplendor no palácio suntuoso em que fossava o comportamento infeliz.

A sua soberba era conhecida, a sua hostilidade a tudo e a todos — a Roma, que o submetia, às demais províncias, que detestava e a grande parte do Sinédrio, que temia - era típica do usurpador infame.

Foi ele quem novamente julgou a vítima sem crime, nesse momento manietado por ordem de Anás.

A longa noite de aflições cedia as sombras lentamente ao dia em vitória de luz.

Nem mesmo os representantes do Sinédrio puderam alterar-Lhe a calma, intimidá-lO.

Nada encontrando que justificasse a punição de morte que planejava, Anás O enviou ao representante de César, Pôncio Pilatos.

Os hipócritas e pérfidos que O conduziram não entraram no Pretório, a fim de não se contaminarem com as impurezas, pois que, do contrário, não poderiam celebrar a Páscoa.

Mentir e excruciar aquela vítima indefesa, não os tornavam impuros, mas sim, a sordidez supersticiosa das suas crendices.

Pilatos era um biltre, que se fizera Procurador, representando Tibério César, na Judeia, provavelmente havendo sido um liberto ou seu descendente, tornando-se odiado pelos judeus desde a sua chegada.

Alcançara o poder, graças à sua mulher Cláudia Prócula, que provinha de família distinta em Roma, o que lhe facultara acompanhar o marido àquela conturbada região, o que nem sempre era permitido às mulheres.

Durante dez anos exercera o cargo de maneira inescrupulosa, terminando por cometer graves erros que obrigaram o governador da Síria, Lúcio Vitélio, enviá-lo a Roma, a fim de justificar-se e desculpar-se perante o Imperador, pela maneira hedionda como se comportava. Infelizmente, quando chegou à capital do Império, Tíbério houvera morrido e fora substituído por Calígula, que o mandou para o exílio nas Gálias, onde terminou por suicidar-se.

Odiava os judeus, que também o detestavam.

Por duas vezes tentara impor a imagem do Imperador próxima ao Templo e por duas vezes tivera que recuar, pela força das intrigas judaicas encaminhadas a Roma.

Sentira-se humilhado e nunca perdoaria a afronta.


Surpreendido com a malta perversa e o inocente, logo percebeu a trama odienta de fundo religioso, de ciúmes e de crimes de que eram capazes, indagando:

— Que acusação trazeis contra este Homem?

— Se ele não fosse malfeitor, não o entregaríamos — responderam, cínicos e hipócritas.

A farsa se ampliava, mas ficaria inconclusa, mesmo depois que os infames triunfassem na mentira e na ilusão. . .

Pilatos percebeu a trama e mandou que eles mesmos O julgassem segundo a sua própria lei.

Acuado, porém, pela astúcia sórdida dos perseguidores, não teve como fugir à penosa injunção. No íntimo, desejava conhecê-lO, pois que ouvira d’Ele falar. No entanto, a Sua aparência desolada, os hematomas e as marcas das agressões sofridas, a face pálida e dorida, inspiraram desconforto no representante de César, até mesmo certo desprezo, pois que ele primava pelo luxo, pelo excesso das prerrogativas que se permitia.

Mas Ele, no entanto, viera para aqueles terríveis momentos.

Preparara-se, pois sabia que o Seu destino estava selado pelo Amor.

Julgado por Anás e Caifás, somente lhes respondera o indispensável. Eles não tinham condições para conhecer a verdade, tampouco o desejavam. . .

O Seu silêncio e nobreza perturbaram-nos.

Diante do servo de Tibério, igualmente não lhe concedeu a consideração untuosa que ele se permitia.

A Sua nobreza, entre os trapos e as rosas rubras de sangue, era a condecoração que O engrandecia.

Após algumas considerações o herege n’Ele não encontrou culpa.

Aturdido, sentindo a pressão da malta programada para matá-lO, desejou libertá-lO.

As hienas humanas, porém, desejavam os Seus despojos para banquetearem-se, e por isso, pediram a Sua morte.

Cláudia Prócula, que acompanhava de longe o arbitrário julgamento, mandou informar ao marido que não se envolvesse naquele processo, porque aquele Homem durante toda a noite a fizera sofrer. . .

Ele também sentiu-Lhe o poder.


Subitamente, perguntou-Lhe:

— Es Tu o rei dos Judeus?


Jesus, serenamente, respondeu:

— Dizes tu, isso, por ti mesmo, ou foram outros que te disseram de mim?


Zombeteiro, o Procurador respondeu, indagando:

— Porventura sou eu judeu? A Tua própria nação e os principais dos sacerdotes entregaram-Te nas minhas mãos. Que fizeste?

Houve um grande silêncio no imenso recinto tumultuado pela alucinação generalizada.


Com soberania e majestade, Ele redarguiu:

— O Meu Reino não é deste mundo; se o Meu Reino fosse deste mundo, os meus súditos pelejariam, para não ser eu entregue aos judeus; mas, agora, o Meu Reino não é daqui.


O diálogo prosseguiu surpreendente:

— Logo, Tu és rei? — Indagou, Pilatos.


E Jesus, compassivo, elucidou:

— Tu dizes que sou rei. Eu para isso nasci, e para isso vim ao mundo, a fim de dar testemunho da Verdade. Todo aquele que é da Verdade, ouve a minha voz.


Dominado pelo Seu magnetismo, o Procurador voltou a interrogar:

— O que é a verdade?

Ele nada respondeu. Não havia como explicar ao réprobo, ao enganado e enganador, o que é a verdade.

Pilatos informou, então, que nEle não via qualquer culpa. Apelou para a razão, justificando que: Por ocasião da Páscoa, seja solto alguém, referindo-se a Jesus, ante o bandido Barrabás.


A massa, inflamada pelo ódio e obsidiada pelas forças do mal, bradou:

— Não a este, mas a Barrabás. . .

O Procurador perturbou-se, e tentou negociar, informando que O mandaria açoitar, punindo-O, e após, libertando-O.

Era um pusilânime, que não tinha força moral para enfrentar os inimigos de todos, inclusive dele, pois que o odiavam. . .


Após o vergonhoso flagício, um soldado impôs-lhe uma ridícula e espinhosa coroa de urze sobre a cabeça, em deboche, gritando:

— Salve, rei dos judeus! — Dando-lhe bofetadas.


Arrastado, ferido, quase desfalecente, foi apresentado:

— Eis o Homem, ou o que dEle restai O crime que lhe atribuíam era religioso e ao Procurador não competia puni-lO por essa razão.

Pôncio Pilatos detestava-lhes a religião fanática e cruel, não podendo, nem desejando imiscuir-se nessa prebenda revoltante.


A massa ensandecida, no entanto, não se contentava, e gritava frenética:

— Crucifica-O! Crucifica-O!


Respondeu, aturdido, Pilatos:

— Tomai-O vós mesmos e crucificai-o; porque eu não acho nEle crime.


Furiosos, responderam, em coro:

— Nós temos uma Lei, e segundo a nossa Lei ele deve morrer, porque se fez Filho de Deus. . .


Mais assustado, Pilatos voltou a inquiri-lO:

— Donde és?


Ante o silêncio profundo, insistiu:

— Não me falas? Não sabes que tenho poder para Te soltar e poder para Te crucificar?


A musicalidade sublime da Sua voz ergueu-se, e Ele respondeu:

— Não terias sobre mim poder algum, se ele te não fosse dado lá de cima; por isso o que me entregou a ti, tem maior poder.

Era o clímax da coragem e de auto definição como Filho de Deus.


Pilatos temeu muito mais e pensou em libertá-lO, mas os Seus inimigos, habilmente, encontraram a fórmula final para perdê-lO:

— Se soltares esse Homem, não és amigo de César; todo aquele que se faz rei, opõe-se a César. . .


João 11:1-16 Pilatos não podia ignorar a acusação. Se silenciasse era sedicioso, estava traindo o Imperador.

Todos aqueles que odiavam Roma, inesperadamente tornaram-se seus defensores, do maldito Império que os esmagava, conforme o consideravam.

A astúcia cruel era aplicada de maneira hábil e inconfessável.


Não havia outra alternativa, e o pústula humano vendeu a alma, declarando:

— Eis o vosso rei!


Os assassinos clamaram:

— Não temos rei, senão César.

Estava tudo consumado!


Pilatos pediu água, e mergulhando as mãos, para lavá-las, exclamou:

— Sou inocente desse sangue; isso é lá convosco.


Mateus 27:24-26 Os bárbaros, então, gritaram:

— O sangue d’Ele caia sobre nós e sobre nossos filhos; conforme aconteceu através dos muitos séculos, que vieram depois da maquinação hedionda.

Pilatos prosseguiu lavando as mãos. . . até sucumbir pelo suicídio.

A hedionda patética culminou em altissonante sinfonia de vida para o Justo sem mácula.

As figuras truanescas de Anás, Caifás e Pilatos permanecem ainda insculpidas nas sociedades de todos os tempos desde aquele tempo.

(. . .) E Jesus, negado, traído, condenado e crucificado, prossegue vivo, amparando e convidando em silêncio a Humanidade ao amor e à justiça, à paz e ao arrependimento.

Os julgamentos injustos, infames prosseguem, no mundo, mas também a misericórdia espraia-se anunciando a vitória da Verdade.


Salvador-BA, em 26. 12. 2007.


AMÉLIA RODRIGUES




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Mateus 27:57

E, vinda já a tarde, chegou um homem rico de Arimateia, por nome José, que também era discípulo de Jesus.

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João 18:21

Para que me perguntas a mim? pergunta aos que ouviram o que é que lhes ensinei; eis que eles sabem o que eu lhes tenho dito.

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João 19:7

Responderam-lhe os judeus: Nós temos uma lei, e, segundo a nossa lei, deve morrer, porque se fez Filho de Deus.

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João 19:10

Disse-lhe pois Pilatos: Não me falas a mim? não sabes tu que tenho poder para te crucificar e tenho poder para te soltar?

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João 18:20

Jesus lhe respondeu: Eu falei abertamente ao mundo; eu sempre ensinei na sinagoga e no templo, onde todos os judeus se ajuntam, e nada disse em oculto.

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João 11:1

ESTAVA então enfermo um certo Lázaro, de Betânia, aldeia de Maria e de sua irmã Marta.

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João 11:2

E Maria era aquela que tinha ungido o Senhor com unguento, e lhe tinha enxugado os pés com os seus cabelos; cujo irmão Lázaro estava enfermo.

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João 11:3

Mandaram-lhe pois suas irmãs dizer: Senhor, eis que está enfermo aquele que tu amas.

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João 11:4

E Jesus, ouvindo isto, disse: Esta enfermidade não é para morte, mas para glória de Deus; para que o Filho de Deus seja glorificado por ela.

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João 11:5

Ora Jesus amava a Marta, e a sua irmã, e a Lázaro.

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João 11:6

Ouvindo pois que estava enfermo ficou ainda dois dias no lugar onde estava.

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João 11:7

Depois disto, disse aos seus discípulos: Vamos outra vez para a Judeia.

jo 11:7
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João 11:8

Disseram-lhe os discípulos: Rabi, ainda agora os judeus procuravam apedrejar-te, e tornas para lá?

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João 11:9

Jesus respondeu: Não há doze horas no dia? Se alguém andar de dia, não tropeça, porque vê a luz deste mundo:

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João 11:10

Mas, se andar de noite, tropeça, porque nele não há luz.

jo 11:10
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João 11:11

Assim falou; e depois disse-lhes: Lázaro, o nosso amigo, dorme, mas vou despertá-lo do sono.

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João 11:12

Disseram pois os seus discípulos: Senhor, se dorme, estará salvo.

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João 11:13

Mas Jesus dizia isto da sua morte; eles, porém, cuidavam que falava do repouso do sono.

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João 11:14

Então Jesus disse-lhes claramente: Lázaro está morto;

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João 11:15

E folgo, por amor de vós, de que eu lá não estivesse, para que acrediteis: mas vamos ter com ele.

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João 11:16

Disse pois Tomé, chamado Dídimo, aos condiscípulos: Vamos nós também, para morrermos com ele.

jo 11:16
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Mateus 27:24

Então Pilatos, vendo que nada aproveitava, antes o tumulto crescia, tomando água, lavou as mãos diante da multidão, dizendo: Estou inocente do sangue deste justo: considerai isso.

mt 27:24
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Mateus 27:25

E, respondendo todo o povo, disse: O seu sangue caia sobre nós e sobre nossos filhos.

mt 27:25
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Mateus 27:26

Então soltou-lhes Barrabás, e, tendo mandado açoitar a Jesus, entregou-o para ser crucificado.

mt 27:26
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