Mensagem do Amor Imortal (A)

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CAPÍTULO 23

SUBLIMES TESTEMUNHOS

Mateus 13:1-37

Um ministério daquele porte conforme apresentado por Jesus, é de incomparável significado, exigindo abnegação que se transforma em sacrifício, quando necessário, da própria existência física.

A construção de um reino de amor e de plenitude, no deserto dos sentimentos, assim como no charco das paixões, é de invulgar esforço, impondo luta contínua e denodo incessante.

Ao trabalho de transformação interior para melhor, superando as más inclinações que remanescem dos vícios profundamente arraigados no Espírito, há o enfrentamento com a dissolução dos costumes e o acumpliciamento com as perversas maquinações do egoísmo e da crueldade.

O Mestre, com a Sua visão especial, penetrando no futuro da Humanidade, sabia dos exaustivos labores que se reservavam a todos quantos Lhe fossem fiéis, irrigando a aridez do terreno moral com o próprio sangue, muito do agrado dos primitivos e incréus adversários da harmonia.

Desse modo, seguindo-Lhe as pegadas, os nobres discípulos do Seu colégio de amor, cada um a seu turno, foram chamados à confirmação dos seus elevados propósitos, sendo sacrificados através de bárbaros mecanismos pelos alucinados dominadores da ilusão, que também foram devorados pela morte em situações deploráveis, prosseguindo mais enlouquecidos além do túmulo. . .

Estêvão, o mártir, foi o primeiro a experimentar o apedrejamento até a morte, pelo crime de ser fiel servidor de Jesus e atender aos infelizes que nada possuíam na Casa do Caminho.

Logo após, desencadeadas as perseguições insanas pelo atormentado rabino Saulo de Tarso, os sofrimentos experimentados pelos servidores do Evangelho não tiveram limite.

Era inevitável que os discípulos também experimentassem os rudes padecimentos, as cruas injunções das forças do Mal.

No governo infame de Agripa recrudesceram as perseguições.

Um pouco antes, porque vivenciassem o Evangelho na infeliz Jerusalém, assassina dos profetas e hedionda criminosa na sua infame perseguição e morte de Jesus, os discípulos Pedro e João, cuja sombra caindo sobre os enfermos curava-os, foram aprisionados, e porque não lhes fossem encontradas culpas, como se isso fosse importante, conseguiram a liberdade. Essa, no entanto, foi de efêmera duração, porquanto novamente foram presos e, dessa vez, flagelados, experimentando a agonia das chibatadas, e sendo-lhes imposto que abandonassem os labores, o que seguramente não atenderam. . .

No ano 42, o herdeiro de Herodes mandou ceifar a vida de Tiago (Maior) o devotado irmão de João, o futuro evangelista, a golpes de espada, conforme se refere Flávio Josefo e os amigos testemunharam. De imediato, Pedro foi conduzido ao cárcere, mais uma vez, em face da sua rebeldia por não se submeter aos absurdos impositivos dos devassos.

Posteriormente, no ano de 62, o outro Tiago, cognominado o justo, foi atirado de um terraço do Templo e assassinado a pedradas, ante a algazarra dos lobos humanos famélicos de desgraças.

Alongou-se a temerária perseguição, agora na capital do Império, quando Cláudio, o devasso e louco, no ano 50, mandou ao exílio, expulsando de Roma, todos os judeus cristãos.

As desconcertantes perseguições aumentaram, infelizes, como reação às conversões de patrícios e nobres romanos, qual ocorrera com Pompônia Grecina.

Durante a governança hedionda de Domício Nero, o matricida, uxoricida e assassino comum, após o incêndio da cidade, transferiu a responsabilidade do crime inominável aos discípulos de Jesus, e tiveram início sistemático as crudelíssimas perseguições com toda a fúria da plebe miserável e do patriciado indiferente aos destinos humanos.

Especializaram-se em técnicas de morte, desde os bárbaros espetáculos no circo em que os cristãos eram atirados às feras, ou costurados em peles de animais, a fim de serem devorados pelos cães, aos postes untados de breu, logo incendiados, para iluminarem as avenidas da cidade pecadora, por onde passeavam os indigitados, aos mais perversos processos elaborados pela loucura. . .

Enquanto aumentavam as conversões em toda parte no Império, mais terríveis faziam-se as vinganças, inúteis, porém, se desejavam silenciar a verdade, transformando o martírio em desejo incontido por aqueles que se entregavam a Jesus.

Seguindo a triste trajetória histórica, Pedro foi crucificado de cabeça para baixo, nos pântanos vaticanos, enquanto Paulo era decapitado nas águas salvianas. . .

Nas paisagens gloriosas da existência do apóstolo das gentes, podem-se anotar todos os testemunhos que padeceu, desde as flagelações impostas pelos judeus por cinco vezes diferentes, às aplicadas pelos romanos através de virgas dilaceradoras. Foi levado ao cárcere cerca de sete vezes, sofreu três naufrágios, e, na cidade de Listra, onde adquiriu inimigos poderosos na Sinagoga, experimentou o apedreja- mento até ser considerado morto. . .

Os demais discípulos, todos eles experimentaram os dolorosos testemunhos à fé que se tornou imbatível, atravessando dois milênios e permanecendo como base estrutural para uma futura sociedade justa e digna.

Tomé, o homem que duvidava e teve a coragem de entregar-se-Lhe em totalidade, morreu sob flechadas na índia, André foi também crucificado em Patras, assim como crucificados Simeão Zelota e Matias, não escapando Bartolomeu, igualmente pendurado numa cruz na Armênia. . .

João, no entanto, que não deveria provar de morte bárbara, ficou para denunciar os crimes, para narrar-Lhe a vida incomparável, enfrentar e desmascarar os mistificadores que vieram depois d’Ele, despertar as consciências adormecidas em Éfeso e em Patmos, símbolo vivo e testemunha incomparável. . .

Seu legado à posteridade é dos mais preciosos documentos da veracidade dos Seus feitos e da Sua vida.

Jesus, porém, falara da desolação, informando, no Sermão profético, como seriam os dias trágicos porvindouros à Sua morte e ressurreição, quando no Templo não ficaria pedra sobre pedra que não fosse derribada, assim como da transitoriedade do Império e da perversidade de Israel. . .

Céstio Galo, em 66, comandando quarenta mil homens sitiou Jerusalém, e encontrando resistência imprevista retirou-se, quando, então, Vespasiano, o conquistador, viajando a Roma para assumir a governança imperial delegou a seu filho Tito, a tarefa de exterminar Jerusalém. O impiedoso e audaz guerreiro, a partir de 67 conquistou a Galileia, prosseguindo em contínuas batalhas até acercar-se de Jerusalém, sitiá-la e reconquistar a Torre Antônia, anteriormente quartel das tropas romanas. As lutas fizeram-se tirânicas mesmo entre os zelotes que se entredevoravam na ânsia do poder, especialmente João de Giscala, que ocupava o Templo e Simão de Geraza, que dominava a cidade baixa, em incompreensível alucinação. A fome e o horror dizimavam as vidas, enquanto aqueles que podiam fugir buscavam refúgio fora da cidade, até que, no dia 10 de agosto de 70, o Templo foi tomado, incendiado, depois de destruídos os seus tesouros e profanado o seu santuário pela soldadesca enlouquecida. A rendição total aconteceu um pouco mais tarde, em setembro. . .

Foi então decretada a Diáspora. . . . Alguns sobreviventes foram levados a Roma para os espetáculos do circo, como espólios vivos da vitória retumbante, outros foram vendidos como escravos, outros crucificados. . .

Israel, ingrata e injusta, experimentou nas carnes da alma a desolação e o efeito da sua perversidade. . .

A sublime profecia do Mestre, porém, prosseguiu, iniciando-se, quando a célebre paz de Augusto foi interrompida a partir do imperador Nero, após a vitória dos bretões que derrotaram os romanos. A seguir, partos, armênios, siríacos, gauleses sublevaram-se e ameaçaram o então invencível Império romano.

As legiões enfurecidas nomearam Galba imperador e avançaram para Roma, exigindo a fuga de Nero, que terminou por suicidar-se, enquanto o seu substituto trouxe a espada destruidora.

Em diversas partes do mundo as legiões elegeram os seus comandantes, à revelia do Senado e do povo; os assassinatos multiplicaram-se e Otão, depois do assassinato de Galba, assumiu o poder, por pouco tempo, porém, logo se suicidando.

As tragédias não cessaram. . . . As invasões repetiram-se, e o Império cambaleou, estourando guerras em toda parte, assumindo o poder os loucos terríveis, quais Calígula, o desvairado, logo sucedido por Cláudio, o insano e devasso.

Fenômenos sísmicos e calamidades espraiaram-se incontroláveis por todo o Império em dissolução, culminando nos terríveis terremotos, erupções vulcânicas, quais as do Vesúvio que soterrou cidades inteiras. . .

O sublime vaticínio de Jesus cumpriu-se até a última letra, antes mesmo que passasse a Sua geração, conforme o profetizara.

Mas não se limitou apenas àquele período, estendendo-se pelos tempos além do tempo, até o momento da implantação do Seu Evangelho de amor nos corações e a fraternidade entre as criaturas da Terra.

Ainda hoje sucedem, e a geração de Espíritos que então se encontrava reencarnada e agora retorna, acompanha, expectante, os acontecimentos anunciadores da Era nova.

De igual maneira, todos aqueles que O desejam servir e foram convocados para a disseminação do Seu Evangelho, ainda hoje, não se poderão furtar aos nobres testemunhos de amor, em forma do sacrifício das paixões inferiores, da superação das tendências perversas e insanas, das lutas íntimas, de modo a suportar os enfrentamentos que agora se apresentam de maneira diversa, não, porém, menos severos.

E natural que assim aconteça, porque o Reino de Deus, não vindo com expressões exteriores, instala-se no âmago do ser, iluminando-o e libertando-o de todas as amarras que o retêm no jugo da inferioridade.

— Não passará esta geração, sem que todas essas coisas aconteçam - Ele afirmou sereno e profundo.

Vinte séculos depois, os Neros, Cláudios, Galbas, O toes sucedem-se no mundo das ambições devorados pela própria insânia, enquanto os fiéis discípulos da Verdade oferecem testemunho e suportam enfrentamentos, felizes e confiantes no futuro que os espera além da forma física. . .


Salvador-BA, em 01. 02. 2008.


AMÉLIA RODRIGUES




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