Mensagem do Amor Imortal (A)

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CAPÍTULO 24

JOSÉ DE ARIMATEIA: O AMIGO DISTANTE

O Sinédrio, ao tempo de Jesus, era a mais alta corte de Israel, onde se administrava a Justiça, baseada no conhecimento e na interpretação da Torá, constituída pelos cinco livros básicos do Mosaísmo, também conhecidos como a Lei de Moisés. Essa Lei era escrita ou fazia parte da tradição oral, simbolizando a herança de todo o povo hebreu, naquela ocasião representando os seus valores mais elevados ante a dominação romana.

Era constituído por 71 membros, seguindo a tradição de que Moisés governara o povo no deserto, auxiliado por 70 anciãos.

Representava, então, durante o período mosaico e posteriormente a eleição de representantes da nobreza clerical, bem como das famílias mais valorosas, especialmente durante o período denominado persa, mais ou menos entre os séculos 5 e IV a. C., o poder soberano da raça judia.

Anteriormente, era conhecido como gerousia ou conselho dos anciãos, passando a ter a denominação atual a partir de Hircano II, que o presidira, sendo igualmente sumo sacerdote, embora de origem asmoneia.

Era também conhecido como Sanhedrin em hebraico ou Synedrion, em grego, significando assembleia sentada ou conselho, porém constituído por apenas 23 juízes, que deveria existir em cada cidade, sendo o mais importante, o Grande Sinhedrin, o de Jerusalém com os seus 71 membros.

Invariavelmente, os seus integrantes sentavam-se em semicírculo para ouvir e tomar decisões, sempre as mais importantes.

Quando da ascensão de Herodes, o Grande, que também não era judeu, mas asmoneu, em face da sua prepotência, censurado por essa corte, para demonstrar o seu poder, mandou matar quarenta e cinco dos seus membros, que foram substituídos por outros que se lhe serviam como bajuladores, perdendo algo da dignidade tradicional.

No período da dominação romana, manteve, quanto possivel, as suas características de referência ao julgamento das funções civis e religiosas, na Judeia, embora houvesse ódios recíprocos entre os conquistadores e os conquistados, não possuindo o direito legal de decretar a pena capital, honra tão somente atribuída ao governador indicado por César, igualmente romano, denominado prefectus.

Por essa razão, Jesus teve que passar por esse tribunal, antes de ser encaminhado a Pôncio Pilatos, a quem se exigiu fosse-Lhe aplicada a pena de morte. . .

Dissolvido por volta do ano 358 d. C., somente foi reconstituído a partir de outubro de 2004, quando um excelente grupo de rabinos e sacerdotes das diversas comunidades israelitas conseguiram reestruturá-lo.


* * *

José, nascido em Arimateia, era juiz, pertencia ao Sinédrio, participara do julgamento de Jesus, embora fosse contra as acusações que Lhe imputaram, mas não se atreveu a defendê-lO.

Diversas vezes é citado nos Evangelhos, como Seu discípulo, porém, discreto, distante, embora afetuoso.

Formado nos moldes vigentes, era portador de um caráter reto e grave, mantendo-se algo indiferente à degradação moral, que tomara conta da alta corte e refletia-se no Templo, onde funcionou por largo período, que perdera a singularidade de santuário para transformar-se em rendoso comércio de negócios cambiais e de animais para os holocaustos. . .

Portador de fortuna expressiva, era pai zeloso, ambicionando para o filho a continuação dos seus encargos e do cargo na administração dos bens, das massas e do país, depois que se libertasse do Império romano.

Residia em faustosa mansão nas cercanias do Templo e desfrutava de respeito, de consideração pelos seus pares.

À semelhança de Nicodemos, que também amava Jesus e a quem o Mestre concedera extraordinária entrevista, interessava-se honestamente pelas leis, que observava com escrúpulos, aguardando, como todos os judeus, a chegada do Messias, do Libertador do seu povo. . .

O silêncio celeste que pairava sobre Israel já durava quase cinco séculos, fazendo-se demasiadamente longo para um povo acostumado às comunicações espirituais.

Notícias desencontradas, no entanto, ora fornecidas por astrólogos que consultavam os sinais celestes e vaticina- vam acontecimentos buscando interpretá-los, informavam que o Enviado já se encontrava entre eles. . .

Por outro lado, informações apresentadas por estrangeiros que visitaram o país procurando pelo Grande Rei, durante o período de Herodes, o Grande, que receando ser substituído no trono, motivara a terrível matança de todos os meninos com menos de dois anos de idade, em cuja carnificina perecera o seu próprio filho, sugeriam acontecimentos dantes jamais vistos, desse modo, iniciando a Grande Era do Messias. . .

José de Arimateia acreditava, anelava por encontrá-lO.

Quando Jesus, aos doze anos, confundira os doutores do Sinédrio, num dos átrios do Templo, em Jerusalém, ele estava lá, interrogando-se, se aquele jovem não seria o Esperado?!

A sabedoria que Ele revelava, confundindo alguns dos mais hábeis e ardilosos sofistas, impressionara-o profundamente.

Ele guardou, por longos anos, as impressões daquele dia inesquecível, e de alguma forma, desde então, O amou.

Posteriormente, quando as informações trazidas pelos espiões do Sinédrio, que se multiplicavam em toda parte como aves de rapina odientas, falavam sobre os prodígios realizados por aquele Rabi galileu, de quem o Batista dizia ser apenas o preparador dos caminhos e não ter dignidade sequer de amarrar-Lhe as correias das sandálias, anelando diminuir, para que Ele crescesse, o rabino de Arimateia ficou vigilante e buscou conhecê-lO, fascinando-se com a Sua grandeza moral e sabedoria ímpar.

As ocorrências que O envolviam, os procedimentos que executava, através das curas prodigiosas, das revelações extraordinárias, dos comportamentos incomuns, comprovavam-lhe estar diante do Messias.

Escutou-Lhe os ensinamentos, sensibilizou-se com as Suas palavras e ficou fascinado pela maneira como Ele atraía as multidões e as conduzia com sabedoria e bondade.

Não pôde deixar de O amar!

Tornou-se-Lhe discípulo, porém, secretamente; porque tinha medo dos judeus. (João 19:38.) Mas não era único, conforme acentua o discípulo amado, pois que: Ainda assim, muitos líderes dos judeus creram n´Ele. Mas, por causa dos fariseus, não confessavam a sua fé, com medo de serem expulsos da sinagoga; pois preferiam a aprovação dos homens à aprovação de Deus. (João 12:42-43.) Quando tomou conhecimento dos ignóbeis planos do Sinédrio, após a expulsão dos vendilhões do Templo por Jesus, que irritara os fariseus e sacerdotes, levando-os ao paroxismo do ódio, com medo de perderem os fabulosos lucros que mais os enriqueciam, e agora Lhe desejavam a morte, simplesmente ficou estarrecido.

A medida que os acontecimentos se precipitaram, culminando com a traição de um amigo e o julgamento sumário a que Ele fora submetido no Sinédrio, ele, embora votando contra, nada mais pôde fazer para defendê-lO. Conhecia aquelas víboras humanas e temia-as, preferindo observar os acontecimentos e acompanhá-lO a distância. . .

O Seu destino estava selado desde muito antes e Ele o sabia.

Toda a trama fora organizada para o terrível desfecho através do pusilânime Pilatos, que lhe decretaria a morte infamante, embora tentasse evitá-la. . .

Quando se consumou a tragédia, ele não trepidou em solicitar a Pilatos que lhe permitisse tirar o corpo de Jesus da cruz, o que lhe foi permitido, acolitado por Nicodemos, aquele que anteriormente viera ter com Jesus à noite, e que foi, levando cerca de cem libras de um composto de mirra e aloés. Tomaram, pois, o corpo de Jesus, e o envolveram em lençóis (que ele levara), com aromas, como é de uso entre os judeus na preparação para o sepulcro. No lugar onde Jesus fora crucificado, havia um jardim, e neste um sepulcro novo, no qual ninguém tinha sido ainda posto. Ali, pois, por causa da preparação dos judeus, e por estar perto o túmulo, depositaram o corpo de Jesus. (João 19:38-42.) Enquanto os amigos fugiram com medo, aqueles discípulos discretos e distantes apareceram e assumiram as responsabilidades, aceitaram os desafios, correram os riscos. . .

Como era uma sexta-feira, havia o grave perigo de o corpo do Mestre ficar exposto na cruz, a partir do início do shabbath, somente sendo retirado ao terminar o dia do repouso, já em decomposição.

Outrossim, era comum deixarem os corpos crucificados expostos às intempéries, aos abutres e aos chacais, e isto não poderia suceder com Aquele que é a Luz do mundo.

José de Arimateia despojou-se de uma das grandes honrarias da tradição, que era o sepulcro novo, que ofereceu ao Mestre, qual interrogou João 19:4, oferecendo-lhe um sepulcro novo no qual ninguém tinha sido ainda posto?, concedendo-lhe um enterro digno, e, conforme profetizara Isaías 33:9, que Ele estivesse com o rico. . .

na Sua morte.

Nessa conjuntura, cumpria-se o que fora escrito antes d’Ele, anunciando-O como o Messias.

José de Arimateia não fruiu a grandeza do convívio com o Mestre, enquanto os Seus outros discípulos sim, no entanto, quando todos O abandonaram ele acercou-se e desfrutou da felicidade de sepultá-lO com dignidade. Não lutou para que Ele fosse poupado, mas defendeu-Lhe a memória concedendo-Lhe a máxima honraria no rumo da imortalidade.

Ainda hoje existem muitos Josés de Arimateia, que preferem Jesus morto, a fim de homenageá-lo, ao incomparável Rabi vivo e triunfante!


Salvador-BA, em 11. 02. 2008.


AMÉLIA RODRIGUES




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João 19:39

E foi também Nicodemos (aquele que anteriormente se dirigira de noite a Jesus), levando quase cem arráteis dum composto de mirra e aloés.

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João 19:42

Ali pois (por causa da preparação dos judeus, e por estar perto aquele sepulcro), puseram a Jesus.

jo 19:42
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João 12:42

Apesar de tudo, até muitos dos principais creram nele; mas não o confessavam por causa dos fariseus, para não serem expulsos da sinagoga.

jo 12:42
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João 12:43

Porque amavam mais a glória dos homens do que a glória de Deus.

jo 12:43
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João 19:38

Depois disto, José de Arimateia (o que era discípulo de Jesus, mas oculto, por medo dos judeus) rogou a Pilatos que lhe permitisse tirar o corpo de Jesus. E Pilatos lho permitiu. Então foi e tirou o corpo de Jesus.

jo 19:38
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João 19:40

Tomaram pois o corpo de Jesus e o envolveram em lençóis com as especiarias, como os judeus costumam fazer, na preparação para o sepulcro.

jo 19:40
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João 19:41

E havia um horto naquele lugar onde fora crucificado, e no horto um sepulcro novo, em que ainda ninguém havia sido posto.

jo 19:41
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Isaías 33:9

A terra geme e pranteia, o Líbano se envergonha e se murcha: Sarom se tornou como um deserto; e Basã e Carmelo foram sacudidos.

is 33:9
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