Mensagem do Amor Imortal (A)

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CAPÍTULO 27

RENÚNCIA E CONQUISTA

As anêmonas e as coreópsis desabrochavam em gargalhadas coloridas e perfumadas no formoso mês de nisan, em dias emoldurados de luz suave e encantadora, aguardando o verbo sublime que encantava as multidões entusiasmadas que seguiam o estranho Poeta galileu.

Havia um encantamento em a Natureza como dantes jamais houvera acontecido, convidando à reflexão.

Embora a atmosfera de desencanto e de sofrimento que se respirava em toda parte, especialmente na Judeia, onde se concentravam os poderes políticos e religiosos, os interesses mesquinhos que infelicitam as criaturas, os ódios recíprocos entre governantes e povo, assim como reciprocamente entre judeus e romanos, na Galileia humilde com as suas gentes simples, havia expectativas de paz e fraternidade, raramente perturbadas pelos incansáveis cobradores de impostos e intrigantes de ocasião.

A ingenuidade das pessoas trabalhadoras era compensada pelas singelas alegrias do cotidiano, da pesca, da colheita, do pastoreio, das vindimas, das esperanças em melhores dias.

Somente os espectros das enfermidades dilaceradoras, dos distúrbios mentais e dos transtornos de comportamento os afligiam, marcando, de maneira rude, muitas vidas que estorcegavam nas suas tenazes vigorosas.

As notícias, desencontradas umas, seguras outras, falavam a respeito desse suave Rabi-cantor dos sofrimentos, que apaziguava as aflições e dulcificava com a Sua voz e mensagem a amargura dos que haviam perdido a alegria de viver e de sonhar, passavam de bocas a ouvidos e constituíam motivos de comentários em toda parte.

Falavam de um diferente Reino a que Ele se referia, onde não havia dor nem desencanto, e que estava ao alcance de todos quantos se dispusessem a renunciar aos haveres e paixões do momento, entregando-se-Lhe em regime de totalidade.

Em cada entardecer, nas praias formosas ou nas praças das cidades que margeavam o lago generoso, os sofredores apareciam, ansiosos, buscando-O, ouvindo-O e fascinando-se. E certo que os seus eram interesses mundanos, imediatos, pois que não entendiam exatamente o que Ele falava, reconhecendo que ninguém nunca se expressara como Ele o fazia, o que produzia encantamento e alegria.

Nada obstante, eram as suas dores que exigiam renovação e bem-estar, já quase desconhecidos, fazendo que a mole humana fosse cada dia mais abundante e inquieta.

Estranhamente, nem todos conseguiam a bênção da recuperação, mas sentiam que algo estranho lhes penetrava desde o momento em que O ouviam, reconhecendo que algo se modificava no seu mundo interior.

Diante dos comentários, exagerados uns, suspeitosos outros, também apareciam os sacerdotes que viviam espoliando as viúvas e ignorando os necessitados, os fariseus detestados que se mordiscavam de inveja e de ira ante a popularidade de que Ele desfrutava, procurando motivo para espezinhá-lO.

Ele jamais lhes deu importância, no começo, enfrentando-os com serenidade e paz interior. . .

Nunca se preocupava com os inimigos, que passou a ter entre aqueles mesquinhos negociantes das tradições e biltres a serviço dos governantes indignos sediados em Jerusalém, que tinham olhos e ouvidos em toda parte, para preservarem o falso poder que os mantinha no pódio da ilusão. . .

Naqueles dias em especial, os Seus sermões eram austeros e a Sua face, invariavelmente suave-doce, tornava-se preocupada, em face da profundidade de que se revestia.

Os poemas de ternura e de alegria convertiam-se em convites para a reflexão, projetando as almas no futuro que as aguardava.

Nem todos podiam compreendê-lO então.

Convidando as pessoas a se voltarem para dentro de si mesmas e fazerem uma análise grave da existência, apresentava considerações em torno da brevidade da vida corporal e da imortalidade do ser.

Não eram habituais, naquelas mentes desacostumadas a esse tipo de reflexão, os pensamentos de tal qualidade, mas parecia uma necessidade inadiável de estabelecer-se parâmetros para que se pudessem mensurar os objetivos existenciais.

Como passavam celeremente os dias e as estações, também os anos corriam, e com eles o tempo de cada pessoa aproximando-a da morte inexorável, à medida que viam transcorrer as vidas daqueles que eram mais idosos, sucumbindo, uma após a outra, era necessário pensar-se no que viria depois. . . Tudo se diluía ante o impacto do tempo, alterando a escala de valores que todos estabeleciam para si mesmos.

O grupo que O seguia por toda parte comentava os Seus ditos e os Seus feitos com especial emoção e referiam-se ao Seu programa em relação ao futuro, não apenas de Israel, mas também de todas as gentes, esclarecendo ser de muita importância, não podendo ficar ignorado pelas multidões, assim tentando esclarecer o que significava acompanhá-lO. Mas eles mesmos experimentavam dúvidas e tinham dificuldades em apreender o significado das Suas palavras, quando dirigidas a muitos entre aqueles que O buscavam.


Oportunamente, em face dos Seus esclarecimentos sobre os chamados e os escolhidos, perguntou-Lhe Pedro:

—Quanto a nós, vês que tudo deixamos, e te seguimos.

Jesus lhe observou: — Digo-vos, em verdade, que ninguém deixará pelo Reino de Deus, sua casa, ou seu pai, ou sua mãe, ou os seus irmãos, ou sua mulher, ou seus filhos, que não receba, já neste mundo, muito mais, e no século vindouro a vida eterna.


Lucas 18:28-30 A canção de doçura apresentava, agora, a musicalidade especial de uma sinfonia de responsabilidades que não podiam ser adiadas.

As alegrias deveriam transformar-se em doações de amor, em sacrifícios e renúncias, de forma a experiênciar-se novas expressões de felicidade que viriam somente após o testemunho da fidelidade ao compromisso abraçado.

Não se tratava de um festival de sorrisos, mas de uma definição de comportamento, de um compromisso consigo mesmo em relação ao futuro. Ninguém poderia aspirar a uma colheita em gleba que não houvesse cuidado, revolvendo-a, ensementando-a, erradicando as ervas daninhas e cuidando das plântulas nas diferentes ocasiões.

Tratava-se de eleger o campo de ação e o preço a pagar.

Certamente, quando se escolhe um ideal, o júbilo não se apresenta somente quando o mesmo é vitorioso, mas durante toda a sua vigência, na renhida luta e nos silêncios impostos pela necessidade dos esforços aplicados.

Tendo em vista a rapidez com que passa o carreiro carnal, é necessário pensar-se na imortalidade.

A família carnal é campo experimental para a universal. Preferir a vida em detrimento da existência rápida, optar pela família universal, enquanto se ama a biológica, eis o que se fazia importante naquele momento para Simão Pedro e os seus companheiros, bem como para toda a Humanidade do futuro.

A pequena renúncia já era compensada pela imensa alegria de estar construindo a solidariedade junto a todos aqueles que não tinham família. Esse sentimento de amor generalizado já constituía uma alegria, porque nele estava embutida a afeição pelos que eram aparentemente preteridos, permanecendo preferidos no coração.

Ainda hoje a resposta do Mestre permanece confortando aqueles que tiverem a coragem de optar por Ele em momentâneo detrimento em relação aos outros, que são também Seus. . .


Havana-Cuba, em 23. 04. 2008.


AMÉLIA RODRIGUES




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