Mensagem do Amor Imortal (A)

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CAPÍTULO 28

JESUS ENTRE OS ESSÊNIOS

Situada entre o vale do Jordão ao Norte, o planalto dos Moabitas a Leste, os montes da Judeia a Oeste e o Deserto de Arabá, encontra-se a maior depressão do globo terrestre, em quase quatrocentos e trinta metros abaixo do nível do Mar Mediterrâneo.

Ali não há vida, os ventos são sempre quentes e vêm do Sul — do deserto — tornando-se uma terrível fornalha. Essa ardência produz vapores nas águas paradas do mar, plúmbeas, pesadas pelo sal acumulado, razão pela qual é chamado de morto. . .

A aridez e as temperaturas altas queimam e requeimam as aspirações, as energias, os sentimentos do ser, como se produzissem a sublimação das paixões humanas, exaltando o espiritual, o transcendente, o impalpável. . .

Naquela região terrível, nas montanhas de arenito, situava-se Qumran, comunidade especial onde se refugiavam os essênios.

Esse povo peculiar pertencera anteriormente à tradição do Sinédrio em Jerusalém. Os seus membros acompanharam, porém, a perversão que começou a tomar conta dos representantes da Lei de Moisés e dos Profetas, assim como a profanação natural que foi sendo introduzida nos hábitos, costumes e comportamentos religiosos, impostos pelos dominadores e aceitos pela pusilanimidade dos representantes da fé. . .

Compreendendo a defecção dos sacerdotes que se entregavam à luxúria, ao poder e ao gozo terrestre, mais preocupados com a aparência e o cumprimento exterior dos códigos religiosos, afastaram-se da sua convivência, resistindo às influências das culturas greco-romanas, da imposição do deus Baal, observando, escandalizados, que, mesmo nos lares muito fiéis à tradição, encontravam-se amuletos, estatuetas e imagens de estranhas personagens deificadas pela ignorância. . .

Assumiram, então, uma postura severa na observância dos deveres espirituais e na interpretação da Lei, admitindo somente Jeová, imitando a incorruptibilidade do rei Davi na sua fidelidade aos estatutos ancestrais.

Isolando-se, passaram a sofrer medo e angústia, receio da vingança de Jeová, assumindo comportamentos profundamente severos para consigo mesmos e para com o seu próximo.

Mantendo-se castos, celibatários, alimentavam-se, quase sempre, de gafanhotos, obedecendo à prática ritual de não os cozer, de mel silvestre. . .

Bastava-lhes a ocorrência de pensamentos negativos em relação ao seu irmão, e logo se refugiavam no conforto da oração, preservando a pureza dos sentimentos.

Criaram regras para ingressar-se na comunidade com exigências vigorosas, inclusive, após a aceitação dos códigos, a oferta dos bens materiais para atendimento de todos.

Compreenderam que a oração é de fundamental importância para a vida espiritual e, por isso, oravam regularmente três vezes ao dia — e muito mais! — De modo a estarem em comunhão tranquila com Deus. Mesmo à noite, despertavam exclusivamente para orar, preservando o sábado com toda austeridade imaginável. As exigências chegavam ao máximo de tomarem um banho ao pôr do Sol, ao que o iniciante era exigido de imediato, logo vestindo uma túnica branca tecida com uma única costura, participando nas refeições comunitárias, na meditação e no silêncio. . .

Acreditando nos múltiplos renascimentos corporais, admitiam a conquista da perfeição através do rigor e da abnegação.

Exigiam beleza física e proporções harmoniosas nos seus candidatos, assim como o gozo de saúde, por acreditarem que o físico reflete o espiritual e que as anomalias constituem imposições reparadoras, verdadeiros castigos infligidos aos antigos déspotas e criminosos. . .

Anteriormente viveram em Qumran, aguardando a explosão da cólera de Deus, quando ocorreu o terremoto que lhes destruiu a cidadela, obrigando-os a buscar refúgio no deserto e noutras terras. . .

Passado o terror, alguns volveram às origens e reconstruíram o absolutamente necessário para a sua sublimação, naquela região quase insuportável para viver.

Desprezavam o Templo de Jerusalém e os hierosolimitanos, acreditando-se credenciados para o cumprimento da Promessa. . .

Despertaram ódios e simpatias. Fariseus e saduceus, em desvantagem moral, apegados ao comércio e à venda dos animais para os sacrifícios, passaram a detestá-los, por sentir-se vigiados e censurados pela má conduta que se permitiam. As demais pessoas, que lhes observavam a conduta e a disciplina religiosa, amavam-nos, respeitando-lhes a maneira de ser e de viver.

Todos exerciam uma profissão manual, jamais exploradora, na condição de camponeses, de oleiros, de tecelões, de pedreiros, de carpinteiros, distanciados da riqueza e do poder. O seu poder, porém, era o sentimento de nobreza haurido na oração e na ação digna.

O seu mentor era chamado o Mestre da Justiça. Alexandre IV Janeu, rei de Israel, invejoso do prestígio desse Mestre, apesar de ser o dia do perdão, o Yom Kippur, mandou prendê-lo, torturá-lo e matá-lo. Em consequência, passou a ser chamado pelos essênios como Mau sacerdote. Nunca foi perdoado pela insuportável crueldade de que dera mostras.

Os essênios passaram, então, a aguardar a chegada do Messias de Aarão e de Israel. A Nova Aliança, como permitiram denominar o surgimento da sua Ordem, deveria nutrir-se do amor e sorver a água viva da verdade. . .

O seu nome essênio provinha da expressão aramaica El Hâsin, os piedosos, ou talvez de El Cenuim, os castos.


* * *

Jesus jamais convivera com eles, embora os conhecesse desde antes. . .

No entanto, sentindo chegado o momento, às vésperas de dar início ao Seu ministério, às margens formosas do Mar da Galileia, entre os asfôdelos e as violetas perfumadas, sob o canto dos rouxinóis e das toutinegras em permanente festa, optou por visitá-los em Qumran, a fim de informá-los que aquele era o momento dolorosamente aguardado.

A viagem era penosa, partindo-se da Galileia romântica e terna até a região do Mar Morto e de Qumran, entre as labaredas terríveis do calor. . .

Solitário e entregue a Deus, o Rabi nazareno venceu a distância e alcançou o altiplano onde viviam esses homens de Jeová. . .

Como se houvesse sido anunciado, foi recebido com carinho e respeito.

Jonram, que representava o grupo, recebeu-O e introduziu-O no modesto recinto que Lhe serviria de cômodo durante a sua estada.

Naquele mesmo dia, quando as pesadas sombras da noite desabaram sobre a região febril, reunido o grupo que não ultrapassava cento e cinquenta membros, Jonram apresentou o recém-chegado e deixou-O livre para as Suas considerações.

A mágica e dúlcida figura de Jesus impressionava pela perfeição das suas linhas, a nobreza do Seu porte e a majestade de que dava mostras.


Respeitando os hábitos locais, após a invocação a Deus através de uma prece profunda, elucidou:

-Aquele de quem falam as Escrituras está agora entre vós. . .

Houve um silêncio respeitoso, cheio de surpresas sem indagações.

—Foi necessário que o cálice de dor transbordasse e as aberrações atingissem o seu mais alto nível, para que o silêncio do Altíssimo fosse rompido e enviado o Seu Mensageiro, este que vos fala. . .

Novamente ocorreu uma longa pausa.

-Vossos ouvidos e vossos corações escutarão as primeiras palavras da Era Nova, porque tendes sido fiéis ao Pai até aqui, e O aguardais atemorizados, insatisfeitos. "A Era que se inicia traz o amor para sublimar a Lei e substituir os preconceitos. A união de todos em torno do Genitor Divino será a maneira de reunir o imenso rebanho espalhado pela Terra, para iniciar a grande transformação que se dará oportunamente, quando serão superados a dor e o sofrimento, as angústias e os tormentos da alma. "Lutas encarniçadas serão travadas, mas o sentimento da solidariedade em nome do Amor triunfará, mesmo que muitos campos fiquem juncados de cadáveres daqueles que permaneceram fiéis ao compromisso. Este foi assumido antes da investidura carnal, quando eram preparados para este momento, conforme o fostes muitos de vós. "Preservastes a Lei de Moisés e os Estatutos dos Profetas, para que sejam cumpridos todos os anúncios e se materializem todas as promessas em mim, Eu que vos falo. . . "Permanecereis em vossos redutos de sabedoria, preservando os valores antigos e a Tradição, espalhados por muitas cidades como já os encontrais, de forma que os novos servidores tenham modelo próximo de austeridade e de honradez para seguir, encontrando em mim o Guia de segurança para chegarem ao porto de salvação. . . "Nunca vos deixeis fraquejar, embora a aspereza das vossas decisões, pois tendes a coragem de porfiar quando outros desistem. "Meu Pai vos honra com a esperança em vez do pavor, exornando-vos de bênçãos para que concluais a vossa trajetória em paz e elevação espiritual. "Ouvireis novos cantos, acompanhareis novos fenômenos, tomareis conhecimento da revolução do amor e sereis chamados à confirmação de tudo isso. Pende tento, para não serdes iludidos, confundidos pelos maus e astutos. "O vosso mestre vive e inspira-vos em Meu nome, a fim de que a Humanidade encontre a nau e o rumo no tormentoso mar das ambições momentâneas. "Alongar-se-á este ministério até um pouco mais no tempo e no espaço, mas ele alcançará os resultados programados. "Quando soar o clarim do amor, ponde-vos de pé e cantai aleluias, amando e servindo a todos. Estará sendo iniciada a Era para a qual surgiu a Nova Aliança, que vem preparando os caminhos para esse acontecimento. " No silêncio natural que se fez, ouviam-se as pulsações das almas e os ritmos dos corações ansiosos e felizes.

Impregnados pela presença de Jesus, não tiveram necessidade de fazer-Lhe perguntas, de proporem preocupações.

O ar transformara-se sob o magnetismo do amor in- comum do Mestre.

Era possivel ver-se uma ou outra estrela, o que era inabitual na região pesada e infeliz.

Aquele colóquio modificava a paisagem, demonstrando que, mesmo no inferno da aflição, os céus da ternura fazem-se presentes. . .

No dia seguinte, Jesus desceu, desceu para iniciar o Seu ministério.

Muitas vezes, mais tarde, seria confundido por essênio, conforme sucedia com João, o batista.

Muitos deles O acompanharam durante as Suas pregações, defenderam-nO, respeitaram-nO e O amaram.


Salvador-BA, em 05. 05. 2008.


AMÉLIA RODRIGUES




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