Mensagem do Amor Imortal (A)

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CAPÍTULO 29

TRANSFORMAÇÕES, E NÃO FENÔMENOS

As enfermidades procedem do Espírito, cujas feridas morais são de cicatrização difícil.

Resultados da imprevidência e da ignorância, as ações infelizes dilaceram as fibras delicadas do corpo perispiritual, nelas imprimindo as mazelas e as necessidades evolutivas de reparação.

Crepúsculos emocionais, colapsos do caráter agressivo que ofende e que magoa, vérmina interior, o mal que predomina e se expressa nos seres humanos dão lugar aos largos comprometimentos afligentes que os atormentam e vergastam através do tempo.

Noite tempestuosa que estruge em pavor, acalma-se mediante a purificação espiritual através dos renascimentos que favorecem o encontro com a paz, mediante a retificação dos erros, a corrigenda inadiável dos gravames, a iluminação interna pelas claridades miríficas do amor.

Sem a consciência lúcida a respeito das ocorrências inditosas que desencadearam as aflições, as criaturas correm atrás dos taumaturgos e curandeiros de toda espécie, buscando, a qualquer preço, a cura, a paz, sem que se deem conta de que é necessário o esforço pelo bem interior, pela transformação moral para melhor.

A busca alucinada por milagres faz parte da sua agenda existencial, numa sofreguidão angustiante, ao tempo em que atropelam os deveres e geram novos infortúnios para si mesmas, em face da revolta, da insatisfação com a existência física e diante dos anseios de prazer e de poder desenfreados.

Distantes da humildade e da submissão aos Soberanos Códigos, investem com violência contra os sofrimentos de que são portadoras, quando se deveriam compenetrar da sua utilidade, sem a qual os Céus não as assinalariam.

Ao tempo de Jesus não era diferente essa conduta. Consideremos ser ainda mais grave, tendo-se em vista a ignorância das Leis Divinas, as informações religiosas precárias, o utilitarismo, as injustiças de todo porte, a brevidade do carreiro carnal.

Ao mesmo tempo, a busca por fenômenos externos, o deslumbramento que esses causavam, e ainda causam, eram o rastilho de pólvora para a aceitação de qualquer mensagem superior, quando o espetáculo definia e qualificava o mensageiro.

Todos os fenômenos, no entanto, são efêmeros, por se tratar de efeitos, de estardalhaço.

A pirotecnia própria para a fantasia mental das massas apresentava-se com frequência, arrebanhando os incautos, seduzindo os desocupados, deslumbrando os ingênuos. Invariavelmente, realizada por hábeis charlatães que lhes conheciam as fraquezas do entendimento e a expressiva ignorância, produzia fascinação dando lugar às superstições em torno dos mistérios que acreditavam proceder de Deus.

Por essa razão, é normal encontrar-se em todo o Evangelho, o populacho como o sacerdócio em Israel, aguardando sinais, prodígios, sempre insatisfeitos e atordoados.

Jesus evitava produzir fenômenos, porque, para Ele, o maior fenômeno que pode acontecer em uma vida é o da sua modificação moral para melhor, o fortalecimento dos valores espirituais, a capacidade de entrega ao bem, o trabalho autoiluminativo.

As massas, não obstante, sofriam e, por compaixão, não poucas vezes, Ele as atendeu, despertando-lhes o interesse externo para a conquista dos tesouros interiores.

Experimentando a infelicidade sem discernir a razão do padecimento, o Mestre de amor socorria-lhes as necessidades orgânicas e emocionais, os tormentos de todo jaez, para ensejar-lhes o conhecimento da verdade, a identificação da melhor trilha a percorrer em benefício da futura conquista de harmonia.

Aqueles, porém, perversos e insensatos, que Lhe pediam sinais que O identificassem como o Messias, Ele os negava, porque não viera para divertir os frívolos e ociosos, mas sim despertá-los para as responsabilidades perante a vida.

A Sua palavra iluminada, libertadora como um punhal que rasga os tecidos apodrecidos, para que permitam o surgimento da saúde, toda rica de amor e de paz, era o sinal legítimo caso houvesse interesse naqueles que a ouviam, porquanto logo perceberiam a sua procedência. O desejo, porém, não era de compreensão da vida, pois que eram burlões dos valores legítimos, mas sim, de dificultar-Lhe a expansão do Reino que viera implantar na Terra.

Mas Ele, pairando acima das circunstâncias, não lhes atendia aos caprichos, permanecendo fiel ao que viera fazer.

Quando desejaram que Ele fizesse sinais em Nazaré, no Gethsemani, para salvar a própria vida, manteve-se em silêncio hercúleo e deixou-se arrastar ao matadouro como ovelha mansa, não reagindo nem se defendendo.

Oportunamente pediram-Lhe um sinal do Céu e Ele redarguiu: Esta geração má e adúltera pede um prodígio, mas nenhum prodígio lhe será dado, exceto o prodígio do profeta Jonas.

Tratava-se de um paralelo entre os contemporâneos e os caldeus de Nínive, que aceitaram a palavra de Jonas, sem que ele lhes desse quaisquer sinais identificadores da sua elevação.

O conteúdo dos seus ensinamentos bastou-lhes para a conversão, para a certeza da imortalidade, para a ressurreição após a morte.

As Suas lições eram mais profundas do que as do profeta Jonas, e o Seu era o desejo de que acreditassem n’Ele, não pelos feitos miraculosos que podia realizar, mas pela invitação direta e profunda à transformação interior para a conquista do Reino de Deus.

Não escutaram Moisés, mesmo depois de tantos fenômenos que testemunharam, em verdade, não desejavam milagres, mas se utilizavam da exigência descabida para evadir-se da responsabilidade pessoal para a iluminação.

Por isso, referiu-se com profunda melancolia a Tiro e a Sídon, que se renovariam com os feitos que foram presenciados em Corazim e em Betsaida, lamentando-as, porque não se sensibilizaram os seus habitantes, continuando com suas tricas e lutas mesquinhas, distantes da compaixão, da solidariedade, do amor. . .

Multiplicavam-se, nos Seus dias, os milagreiros de ocasião, que enganavam o povo e o exploravam sem nenhum pudor.

Psicólogo sublime, conhecia o Seu rebanho, suas mazelas e imperfeições, por isso mesmo não se lhe submetia às paixões doentias, buscando sempre aplicar-lhe a terapia superior para a saúde integral.

Nada obstante, quando os tristes e desalentados, os sofredores reais e necessitados de misericórdia O buscavam, carentes e desamparados, após o longo périplo de purificação pelo sofrimento, Ele distendia-lhes o conforto da recuperação dos males que os dilaceravam, ensejando-lhes compreender a bênção do bem-estar e a consciência do terrível prejuízo ao perdê-lo.

Noutras vezes, nem mesmo esperava que Lhe solicitassem o socorro, porque, tomado de compaixão, ofertava a Sua inefável bondade, modificando-lhes as estruturas do comportamento.

Jesus é incomparável!

Reconhecendo, embora, que a saúde do corpo é consequência da saúde da alma, melhorava os enfermos, a fim de que pudessem, por sua vez, realizar a recuperação profunda.

Desse modo, compadecia-se das tormentosas obsessões, das exulcerações físicas da maquinaria fisiológica apodrecida, das mentes aturdidas, dos olhos apagados, dos ouvidos tapados, das bocas fechadas, dos movimentos impedidos, distendendo-lhes a Sua infinita compaixão em incessante sinfonia de amor.

Jamais, porém, para atender aos caprichos dos soezes exploradores do povo, dos religiosos desonestos, das autoridades sórdidas.

A sua era a luta contra o mal e a libertação dos que o padeciam, não a sua punição, o seu abandono.

Os poderosos, quando honestos e dignos, que O buscavam, d’Ele recebiam a mesma quota de carinho que era ofertada aos menos favorecidos, porque a dor não escolhe a quem ferir, e quando se instala, seja em quem for, magoa com intensidade.

Desse modo, atendeu ao centurião que O buscou, a Nicodemos, que era príncipe e sacerdote, a Zaqueu e a outros anônimos, todos carentes de condolência, com o mesmo altruísmo e gentileza.

(. . .) Todos morreram, porém, porque a vida física é breve e enganosa, ficando com os mesmos as lições inabordáveis do Seu amor, que os guiou além do sepulcro, renascendo em condição diferente ao largo dos tempos, exaltando-Lhe a Doutrina e procurando vivenciá-la.

O mais extraordinário fenômeno, portanto, da fé em Jesus, é o significativo esforço que se deve fazer para conquistar a harmonia que d’Ele se exterioriza e servi-lO na Humanidade de todos os tempos, que sofre.


Paramirim-BA, em 22. 07. 2008.


AMÉLIA RODRIGUES




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