Mensagem do Amor Imortal (A)

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CAPÍTULO 6

OS ADVERSÁRIOS CRUÉIS

Jamais silenciaria a balada incomparável do Sermão da Montanha.

As dúlcidas vibrações que emanaram do Mestre, à medida que cantava o poema das bem-aventuranças, impregnaram a Natureza para todo o sempre e envolveram os ouvintes emocionados, preparando-os para as refregas do futuro.

Nunca mais seria ouvida musicalidade similar. Divisor das águas e dos tempos, a Canção de Esperança abriu perspectivas dantes jamais conhecidas para entender-se o Reino de Deus.

Até então, os conceitos pragmáticos da Lei eram constituídos pela violência e impiedade, entretecidos com os interesses malsãos da criatura humana, colocando de relevo o poder da força, a presunção, a aparência, a habilidade sórdida das conquistas imediatas.

Jesus, naquele momento, alterou em definitivo a conceituação de felicidade, estabelecendo os parâmetros por meio dos quais seria possivel consegui-la.

Numa sociedade imediatista, assinalada pela hipocrisia e pela audácia do poder temporal, seria temeridade inverter a ordem conceituai a respeito de quem merece amor e é digno de ser considerado como bem-aventurado.

As multidões que O ouviram permaneceram inebriadas, porque, além de Ele haver exalçado a humildade, a pobreza em espírito, a fidelidade, o apoio à Justiça e à Verdade, também propusera o novo código que deveria viger no porvir da Humanidade.

O amor deveria ocupar lugar de destaque nos códigos do futuro, mas não o amor interesseiro e servil, ou o direcionado àqueles que o merecem e retribuem com afeição correspondente, mas sim, quando oferecido aos que se fizeram difíceis de ser amados, aos ingratos, aos egoístas, porque esses são realmente os necessitados do sentimento libertador, embora não se deem conta disso.

Mesclando-se com as vibrações dulcíssimas da Mensagem, as virações que chegavam do Mar da Galileia acariciavam os magotes daqueles que retornavam aos seus lares após os momentos incomuns da Canção que ouviram.

Haviam sido testemunhas da elaboração da Carta Magna para a Humanidade de todos os tempos porvindouros.

Lentamente, sob a carícia da noite bordada de astros luminosos, houve um silêncio que permaneceu como símbolo daquela ocasião.


* * *

Jesus e os discípulos também desceram a Cafarnaum, onde prosseguiriam com o ministério libertador. Agora não haveria mais quietude, nem cautela. Era necessário dizer aos ouvidos dos íntimos o que teriam de repetir em altos brados a todas as gentes: chegara a hora de preparar o Reino de Deus nos corações. Não havia outra alternativa.

Ao entardecer do dia seguinte, entre aqueles que Lhe buscaram o concurso orientador, um homem de aspecto varonil e nobre se acercou, rogando-Lhe uma entrevista.

O Senhor, que se encontrava à sombra de vetusta árvore que se espraiava sobre as areias marrons, coalhadas de seixos e conchas, recebeu o desconhecido com bonomia e compaixão, conforme o fazia em relação a todos que d’Ele se acercavam.


Após a saudação convencional e sem maior delonga, o estranho identificou-se:

— Chamo-me Bartolomeu bar Eliazar e resido em Dalmanuta, pequena cidade que se localiza também às margens deste mesmo mar. . .


Silenciou e, após pigarrear com timidez, prosseguiu:

— Ouvi falar da vossa missão no monte, quando estabelecestes os paradigmas de ordem moral para a conquista do Reino Eterno. Não posso negar que jamais ouvi alguém dizer o que dissestes, falar como falastes. Sou cultor das belas letras clássicas e das tradições de Israel, trabalhando- -me para compreender a finalidade existencial da vida.

Ninguém, porém, me penetrou tão profundamente o ser como vós o fizestes. Continuo ouvindo sem parar o vosso verbo brando e sábio, cantando-me na acústica da alma e delineando-me roteiros fascinantes.


Novamente aquietou-se, mas estimulado pela doce expressão de ternura do Mestre, continuou:

— Atormento-me, procurando identificar quais são os piores adversários do ser humano. Tenho agora o estatuto de conduta conforme apresentado no vosso discurso. Onde se travará a terrível batalha contra esses inimigos e quais as armas de que poderemos dispor para a luta?

—Bartolomeu, rogo ao Pai que te abençoe as conquistas e as expectativas que acalentas. Interrogas quais são os maiores e mais perversos adversários do ser humano, e como, onde combatê-los?! Eu te direi que todos eles se encontram no imo do ser e trabalham ali pela sua infelicidade. Todos os indivíduos apontam-nos fora deles mesmos, supondo que as aflições que produzem vêm do exterior, de outras pessoas, e, por consequência, tornam-se inamistosos, rebeldes, vingativos. Isso ocorre, porém, porque vigem nas paisagens da alma esses insaciáveis perturbadores da paz e de todos os seres humanos.


Escondendo-se e mascarando-se, mudam de atitude e a forma de crueldade, permanecendo inatingidos no seu reino secreto, que é o coração. O mais impiedoso entre todos é o egoísmo, monstro devorador das alegrias alheias, que termina por autodestruir-se também, quando já tem a quem se impor. E o responsável pela existência de todos os demais que lhe fazem corte. "Logo depois, apresenta-se voluptuoso, com privilégios e honrarias que não se fazem justificáveis. Da mesma forma, a arrogância que humilha os demais e se considera digna de destaque, constitui arbitrário déspota que espalha desditas e sofrimentos contínuos. "Simultaneamente, os apegos doentios a pessoas e a coisas, propiciando à avareza amealhar tudo quanto é possivel de reter, em detrimento dos demais, esmagados como se encontram pelas necessidades prementes. O avaro é prepotente e vingador, caracterizando-se pelo despotismo e pela indiferença em relação ao seu próximo. " O Mestre silenciou por um pouco, dando ensejo a que o interessado absorvesse o ensinamento, depois do que, deu curso à resposta:

—A inveja, a maledicência, o ódio, o ciúme, a ambição desmedida, o ressentimento são tiranos da alma que impedem o avanço do ser pela estrada da evolução, gerando tormentos inomináveis. Porque originários do mundo interno, a luta para vencê-los deve ser travada no campo da consciência, mediante a transformação das tendências inferiores e dos sentimentos para a adoção da conduta rica de misericórdia, de compaixão, de entendimento fraternal, de caridade. . . "O homem e a mulher que pretendem ser realmente felizes e anelam por conquistar a Terra, devem superar esses algozes impenitentes que vivem no mundo íntimo, e que são desafiadores e renitentes. " Não disse mais nada. Aquietou-se.

A brisa marinha cantava nos braços do arvoredo.

Bartolomeu compreendeu quais eram os grandes adversários do ser humano, onde se homiziavam e como poderiam e deveriam ser combatidos.

A noite prosseguiu nos seus anseios pelo amanhecer.

O Mestre levantou-se e voltou à intimidade doméstica onde O aguardavam outros necessitados de orientação.

Até hoje o Código soberano exarado no monte em frente ao Mar da Galileia, permanece como diretriz de segurança para todos aqueles que anelam pela felicidade real.


Érico Cardoso-BA, em 03. 07. 2003.


AMÉLIA RODRIGUES




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