Mensagem do Amor Imortal (A)

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CAPÍTULO 8

A MENSAGEM INTERROMPIDA

Àquela hora, o mar se encontrava como um espelho transparente que refletia o céu profundo, de azul turquesa, sem nuvem alguma.

Muito suave brisa corria sobre as suas águas tranquilas em quase calmaria.

Poucas velas brancas marchetavam o cenário grandioso. Nas praias, a movimentação começava junto aos velhos barcos cansados de deslizar sobre o leito aquoso, que favorecia com alimento as cidades circunvizinhas.

Piscoso e romanesco, aquele mar gentil era a fonte produtora de vida para milhares de pessoas que dele dependiam.

Aldeias e cidades foram erguidas à sua orla, a fim de beneficiar-se dos ventos generosos nos dias ardentes de verão.

Tudo ali parecia programado com sabedoria e generosidade.

As aldeias sucediam-se com álacre mobilidade, separadas por pequenos trechos de terras, plantadas umas enquanto outras permaneciam aguardando arroteamento.

Não eram searas ricas de grãos nem pastos de abundante alimento para os animais. Tratava-se de montículos e depressões serpenteantes que albergavam choupanas e casas modestas onde se refugiavam as necessidades e os sofrimentos a que os seus habitantes se houveram acostumado.

Naquela região não havia lugar para tricas farisaicas, nem para debates políticos injustificáveis.

Jerusalém distante, representava a sede do poder e a cidade onde se erguia o Templo de Salomão, orgulho de todo judeu, ignorante ou sábio, poderoso ou simplório.

As lições em torno da fé eram ali repetidas automaticamente desde a infância, muitas vezes sem que fosse conhecido realmente o conteúdo.

Tudo transpirava simplicidade, na acomodação fatalista daqueles que não têm alternativa senão submeter-se ao quotidiano repetitivo, sem ocorrências que interessem.

O parco alimento, a pobre indumentária feita à mão, na roca doméstica, as expectativas em torno das variações climáticas, uma e outra ansiedade, logo ultrapassada, e eis a paisagem humana emoldurada pela Natureza quase virgem.


* * *

Aqueles eram, portanto, acontecimentos inusitados, chocantes, que deslumbravam.

Ninguém antes, praticamente, jamais se recordara daqueles galileus tidos por ignorantes e destituídos de consideração.

Muitas vezes, eram ironizados nas outras tetrarquias e, de tal forma acostumaram-se com o seu destino que, por sua vez, desprezavam os seus antagonistas, que eram tidos por inimigos sociais.

A presença de Jesus foi semelhante à da luz, quando submete a treva, dominadora e fascinante.

Mesmo quem não tivera contato direto com Ele, sentira-O de forma especial, qual se percebesse um perfume delicado e penetrante, desconhecendo a sua origem e procedência.

Sucede que a psicosfera do planeta se alterara e a da região tornara-se superior em face da Sua existência.

De um para outro momento, como o som forte do trovão, a Sua mensagem passou a ser comentada, os Seus feitos tornaram-se disputados, a Sua voz fez-se guia das necessidades gerais e, de toda parte, as multidões acorriam esfaimadas de paz e ansiosas por saúde.

A caravana ininterrupta dos sofredores de todo jaez aumentava e, no começo, às margens do mar amigo Ele falava, dali iniciando a ofensiva libertadora de consciências que anelavam por outra realidade. Logo depois, seria Ele quem seguiria na busca do sofrimento, visitando as pequenas povoações e as cidades agitadas. . .

Cumpriam-se, por fim, as profecias que anunciavam o Messias e a Era da transformação.

Os infelizes podiam participar do Novo Reino, os abandonados tinham oportunidade de ser reencontrados, os padecentes experimentariam a reabilitação, os deserdados da Terra iriam receber o legado dos Céus. . .

Era natural, portanto, que incomum alegria tomasse conta das massas desprezadas, que nunca haviam experimentado qualquer distinção, exceto o repúdio e a total indiferença da sociedade perversa.

Ele viera exatamente para esses, que ninguém respeitava, mas que também eram filhos de Deus, que embora desdenhados, participavam do rebanho de Israel, à semelhança de outros que, não obstante estivessem fora da grei elegida, igualmente mereciam ser convidados para o imenso banquete que Ele oferecia a quantos se Lhe acercassem.


* * *

Os meses transcorriam sinfônicos, sucessivos, ricos de novidades por onde Ele passava.

Já não era desconhecido. A Sua doce e enérgica voz havia retumbado em todo o país. Os Seus feitos atemorizaram os hipócritas, que embora relutantes, n’Ele reconheciam o Enviado, que amavam e detestavam.

O Seu poder arrebanhara todos quantos tiveram ensejo de ouvi-lO, ou simplesmente de vê-lO, a distância que fosse.

Ninguém Lhe resistia à atração sublime, isto é, ninguém ficava-Lhe indiferente ao magnetismo que exteriorizava: amavam-nO ou detestavam-nO.

À medida que se aproximavam os acontecimentos culminantes, a Sua mensagem crescia e fascinava as mentes e os corações.

As parábolas eram prenhes de lições especiais. Os feitos eram perturbadores. Os ditos penetravam os refolhos das almas.

Um homem era pai de dois filhos — Ele comentara —, um era gentil, dedicado e fiel, sempre cuidadoso com o genitor. O outro era soberbo, ingrato, explorador, indiferente ao destino dos seus familiares.

Quando a morte arrebatou o progenitor, o filho mais amado foi menos contemplado, enquanto o outro recebeu maior soma de consideração.

Isto porque o justo e honesto já se encontrava aquinhoado com o tesouro da honradez e da consciência tranquila, enquanto o outro, infeliz e dilapidador, embora perdido, era quem necessitava de oportunidade para a reabilitação.

Assim faz o pastor, deixando em risco as ovelhas mansas, a fim de resgatar a rebelde que fugiu do rebanho.

Uma dedicada mãe de dois filhos, sabendo que havia chegado o Reino dos Céus à Terra e que os seus descendentes haviam sido convidados para a sua instalação, correu precipite e solicitou ao Príncipe anunciador da notícia que, no momento do triunfo, colocasse à sua direita e à sua esquerda aqueles que eram retalhos do seu coração.


Ele a ouviu generosamente e propôs, por Sua vez:

— Observemos se eles sorverão a minha taça de amargura quando a hora chegar. Assim mesmo, não me cabe eleger quem se sentará junto a mim, senão ao Rei que governa o Universo.

Um jovem, que por Ele se deixou fascinar, desejou segui-lO, mas tinha obrigação de sepultar o próprio pai. Na dúvida do que fazer primeiro, solicitou-Lhe permissão para ir atender ao dever filial, que parecia mais justo.

Ele, porém, respondeu que o seu era um reino de vivos e que os mortos, aqueles que se cadaverizavam nas paixões e nos interesses do imediatismo, esses sim, deveriam sepultar os outros, que lhes eram semelhantes.

E o jovem não O seguiu, porque era também um cadáver que respirava.

Um outro queria participar da revolução do amor. Mas era jovem e ambicioso. Fazia tempo que planejava vencer os romanos em uma corrida que teria lugar no dia seguinte. Necessitava atender ao ideal pelo qual vivia, mas agora encontrara uma razão maior para existir.

Sem saber o que fazer, propôs-se a conquistar as duas ambições: vencer na corrida e dedicar-se à construção da Nova Era.

Ele não concordou, porque ninguém serve bem a dois senhores, sendo constrangido a escolher aquele que melhor lhe atenda.

O jovem foi, aturdido, em dúvida, optando pela primeira aspiração. E não pôde retornar para atender a segunda, porque o anjo da morte arrebatou-o em plena área da corrida. . .


Ele narrou, comovido:

— Eu tenho muitas coisas ainda para dizer-vos, mas não as podeis suportar, não tendes condições por enquanto.

No porvir, os meus ditos e os meus feitos serão confundidos, os meus sentimentos serão apresentados de maneira insidiosa e interesseira, dificultando o entendimento da minha vida e do meu amor. Mas eu não vos deixarei órfãos e intercederei junto a meu Pai em vosso favor. A Mensagem ficará interrompida até que chegue o Consolador. . .

Uma mulher equivocada sentiu-Lhe o coração amoroso.

Havia perdido tudo no jogo da ilusão, sem que houvesse malbaratado a esperança.

Candidatou-se a segui-lO e optou pela renúncia, pelo sacrifício, sofrendo todo tipo de humilhação.

No entanto, após a Sua morte e sepultamento, foi a ela a quem primeiro Ele apareceu.

Assim, por longos séculos a Sua Mensagem ficou incompreendida, subalterna às dominações dos poderosos de um momento e derrotados dos tempos, até que novamente esplendeu, como naqueles dias, não mais às margens de um mar ou no murmúrio das aldeias, mas numa sinfonia incomparável que toma conta de toda a Terra lentamente, fincando as bases do Reino nos corações para sempre. Chegou o Consolador!


Paramirim-BA, em 26. 07. 2004.


AMÉLIA RODRIGUES




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