Mensagem do Amor Imortal (A)

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CAPÍTULO 9

ENSINA-NOS A AMAR

A sinfonia de bênçãos pairava no ar, mesmo após encerrada a sua execução.

O Sermão da Montanha jamais silenciaria a sublime voz do Cantor Celeste, musicando a Humanidade e direcionando-lhe os passos no rumo da perfeição.

Jamais alguém dissera ditos indizíveis como aqueles. A ostentação e o vício sempre haviam elegido o poder e a dominação, a fim de permanecerem em triunfo, o que era comum e repetitivo.

A ilusão dourada, em todos os tempos, havia entorpecido o entendimento das pessoas de tal forma, que felicidade e ambição arrimavam-se uma à outra na façanha de conquistar o maior número de aficionados.

A inferioridade latente no ser humano permanecia em franco desenvolvimento, impedindo o surgimento das faculdades nobres, em face das concepções equivocadas em torno da existência terrestre.

As diretrizes religiosas que deveriam libertar as mentes e os sentimentos jaziam asfixiadas nas fórmulas e extravagâncias dos cultos externos que a hipocrisia dos sacerdotes sabia preservar.

As massas volumosas e sofredoras jornadeavam a esmo, sem roteiro nem conhecimento do próprio destino.

Submetiam-se, inermes, aos poderosos, assimilando-lhes as torpezas e mesquinharias, imitando-lhes as condutas reprocháveis.

O predomínio do instinto criara a ética do vitorioso sobre o vencido, do senhor sobre o escravo, mais confundindo a conduta moral subserviente e interesseira a serviço do dominador.

Jesus, porém, veio, e fez-se o Libertador.

Entoou o hino da fraternidade, unindo todos os seres humanos, enquanto abraçava o sofrimento em rudes triunfos em toda parte, esmagando uns, submetendo outros, vítimando a sociedade. . .

Arrebentou os grilhões da hipocrisia e desnudou a crueldade disfarçada como justiça infeliz, estabelecida pela cegueira da força.

Inspirou ternura e inaugurou o período desconhecido do amor.

Acostumadas à dureza da Lei antiga e do Decálogo, as pessoas estorcegavam sob as chibatadas da impiedade severa para os pobres e os fracos, benigna para os que se refestelavam na abundância e no poder de mentira.

Enquanto Ele, porém, sofria a suspeita dos maus e a desconfiança dos hipócritas, as Suas ações confirmavam-Lhe a ascendência moral e a procedência espiritual.

Esmagados pela miséria de toda sorte - moral, econômica, social, orgânica, espiritual — experimentaram a grandeza dos Seus recursos ante as enfermidades, as provações e expiações mais rudes que se Lhe submetiam ao comando, modificando-se totalmente.

Mesmo os Espíritos desditosos e perversos, ignorantes e déspotas, despertavam ante o Seu verbo sublime, obedecendo-Lhe as determinações libertadoras e felizes.

Apesar de todos esses valores, foi, porém, naquele inolvidável sermão que Ele reverteu a ordem vigente, quando estabeleceu o esquema dos reais significados que transcenderam ao estabelecido.

Propôs, então, a mudança das hierarquias poderosas e vigentes, qualificando os indivíduos pelo seu despojamento e não pelas cargas de coisas nenhumas, pela sua realidade moral e não em razão da posição social temporária, tendo em vista o interior desconhecido em detrimento do exterior tumultuado. . .

Naquele momento, que nunca mais voltaria a acontecer, no pentagrama que se fez sinfonia, as notas musicais foram diferentes: os pobres em espírito, os puros e simples de coração, os misericordiosos, os humildes e humilhados, os perseguidos por amor da Justiça, os esquecidos do mundo. . .

Foi uma explosão de bênçãos que aturdiu, logo cedendo lugar aos júbilos inefáveis do coração, que jamais haviam experimentado anteriormente.

Foi-se a nuvem pressaga de desgraças, surgindo a claridade da esperança em forma de incomparável alegria.

Jamais será esquecido aquele dia, nunca mais se repetirá o que aconteceu naquelas horas, fazendo que o mundo e as criaturas se tornassem diferentes, direcionando os destinos em outro rumo, modificando as expectativas em face das promessas dantes nunca apresentadas.


A multidão que a recebeu - a música penetrante que a invadiu -

saiu inebriada e somente no futuro, num futuro mais distante repetiria as estrofes, os cânticos imortais.

Reencarnar-se-iam muitas vezes, aquelas testemunhas, até que o alimento absorvido, nutriente, se exteriorizasse, ressurgindo nas eras sucessivas, felicitando os demais indivíduos que ali não estiveram presentes.

(. . .) E até hoje, aquela melodia balsâmica e reconfortante, vem alcançando os ouvidos cerrados dos homens e das mulheres fascinados pela mentira e pela ilusão, tentando despertá-los.


* * *

Em a noite, porém, daquele dia incomum, quando o zimbório celeste luzia de astros diamantinos e a brisa carreava os perfumes da Natureza em festa, fixando os ditos nos arcanos do tempo, num momento em que o Mestre apresentava-se aureolado pela incomum ternura e compaixão pelas criaturas, Simão Pedro, emocionado e hesitante, acercou-se-Lhe, e interrogou-O:
— Amigo, na minha modesta existência e pobreza moral de homem do mar, jamais imaginei quanto grandioso é o amor. "As necessidades do imediato e constante ganha-pão, a falta de conhecimento e de tempo para reflexões, faziam que me bastassem os usos legais e as ações sem vida pertencentes às recomendações da sinagoga, que raramente visito. . . "A criatura humana sempre significou para mim o seu próprio destino de poderosa ou desgraçada, conforme determinada pelo Pai Criador. "Avesso às tricas e às disputas, somente considerei importante o cumprimento dos deveres estabelecidos. . . No entanto, diante das lamentáveis maldades e traições, enfrentando competições perversas de outros companheiros ingratos e as calúnias de inimigos gratuitos, sou dominado pela inveja dos ricos e felizes enquanto a mágoa decorrente das perseguições sofridas me leva à animosidade e ao desejo de desforço. . . " Silenciou, por um pouco, como que envergonhado da própria confissão, da constatação da pequenez moral, logo prosseguindo:

-Desde quando surgiste na minha e na vida dos amigos — Sol em noite escura e tormentosa! — Alteraram-se-me os sentimentos, e hoje, ante a magnitude das Tuas lições, acontece-me uma revolução interior musicada pela felicidade que desconhecia, enquanto uma dor pungente também me invade, por não saber o que ou como fazer a partir de agora. "Ajuda-me, dizendo-me qual o primeiro passo que deverei dar na conquista do novo caminho";


O Amigo incomparável relanceou o dúlcido olhar pelo arquipelago de estrelas e deteve-o na face do pescador orvalhada por lágrimas e suores de emoção, logo lhe respondendo:
-Ama, Simão, em qualquer circunstância e situação, por mais adversas se te apresentem. O amor é o primeiro e o último passo de quem busca a perfeição e ruma na direção do Excelso Pai. "Nunca te detenhas no exame do mal de qualquer procedência que gera sombras, perturbando-te. Nem acuses a sombra, que é portadora de peculiar magia, porque a sombra é a luz oculta. Isto é: somente quando ela triunfa é que surge a claridade que estava escondida noutra claridade maior. . . . Observa as constelações cintilantes e constatarás que somente as vês por causa da sombra dominante, embora lá sempre estivessem mesmo durante o dia. "De forma equivalente, o mal é a ausência do bem, e a sua sombra é o próprio bem. Os maus, todos aqueles que aos outros crucificam, que aos demais caluniam e perseguem, estão enfermos e, em vez do ressentimento ou do ódio que inspiram, necessitam do remédio da compaixão, essa formosa filha do amor. "Ademais, guarda na mente e no coração que tudo quanto te acontecer tem uma razão de ser, embora não o saibas, não te exaltando no triunfo nem te desesperando na dor. . . "Preserva a tua paz no vasilhame da consciência honrada, mesmo quando erres e te excrucies, porque ela é a base para a tua felicidade futura, mediante a tranquilidade dos teus sentimentos nobres. "Nunca revides mal por mal, confiando em nosso Pai e entregando-te a Ele sem reservas nem receios, porque Ele cuidará de ti, investindo os mais preciosos recursos da inspiração e dando-te resistência para os enfrentamentos necessários ao teu processo de evolução. " No silêncio musicado pelas onomatopeias da noite festiva, que se fez natural, o discípulo, visivelmente emocionado e com a voz embargada, explicitou:

-Ensina-nos a amar, a mim e a todos aqueles que Te seguimos.


Com inefável ternura, Ele expôs:

-Perdoa sempre e sempre a tudo e a todos, até mesmo àquilo e àquele que aparentemente não mereçam perdão. O braço da Divina Justiça utiliza-se, às vezes, da aparente injustiça para corrigir e educar os infratores das Soberanas Leis. Ninguém vive no corpo apenas uma vez.

E os delitos que foram na carne praticados, hoje ou mais tarde nela serão resgatados. "Nunca te permitas dúvidas a respeito da Lei de Causa e Efeito.

Conforme a tua semeadura, assim se te apresentará a colheita.

Ninguém passa no mundo indene ao sofrimento no seu processo de depuração das tendências inferiores, lapidando as arestas morais e espirituais do ser humano. "Desse modo, tudo possui uma razão própria de ser. Quanto a ti, porém, faze sempre o bem, o melhor que estiver ao teu alcance, não esperando aplauso, nem temendo reproche. "(. . .) E já estarás amando. . . " O luar espraiava sobre os montes e toda a paisagem o seu delicado véu, realçando o brilho dos demais astros.


Rompendo o silêncio quase mágico do instante inolvidável, Jesus concluiu:

—Bem-aventurado sejas, Simão, filho de Jonas, quando passares a amar!


* * *

A excelsa orquestração daquele dia alcança estes dias, repetindo a eloquência do amor, ao convidar: Bem-aventurados, pois, sejam todos aqueles que se apequenam, que se humilham, que preservam puro o coração, que se tornam misericordiosos, para que Jesus ressurja e os tome nos braços conduzindo-os a Deus.


Paramirim-BA, em 23. 07. 2005.


AMÉLIA RODRIGUES




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Mateus 5:3

Bem-aventurados os pobres de espírito, porque deles é o reino dos céus;

mt 5:3
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