Dias Venturosos

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CAPÍTULO 1

O ministério de luz

As horas passavam rápidas e o momento se acercava. As bases da grande revolução iriam ser colocadas na Terra.

 

A voz de João silenciara e o Batista fora levado ao cárcere no Palácio de Herodes, na Pereia.

 

Parecia que a claridade meridiana que, por momentos, iluminara Israel, apagara-se de repente.

 

O Pregador houvera dito muitas vezes que ele não era digno de retirar o pó das sandálias daquele que viria depois: O Messias!

 

Ele somente acertava o caminho, corrigia as veredas, para que os pés andarilhos do outro as percorressem aplainadas.

 

O seu ministério se encerrava, a fim de que se iniciasse o verdadeiro, aquele para cujo anúncio ele viera.

 

O seu batismo era com água, simbolicamente limpando as imperfeições, essas mazelas que maculam a alma. Mas, o do Senhor, seria mediante as chamas do testemunho, que as fazem arder interiormente.

 

Aquele povo, sem conhecimento mais aprimorado, ser-lhe-ia o grande desafio, porquanto os seus eram os interesses do cotidiano, do pão, da indumentária, das necessidades mais imediatas. Não obstante, por isso mesmo, havia sido eleito para participar do colossal banquete do reino de Deus, em razão da sua ingenuidade, sua falta de astúcia, esse morbo que sempre caracteriza os ambiciosos. Aparentemente satisfeitos, eles encontrariam o Líder que os conduziria até os confins do mundo.

 

A Galileia pertencia à Tetrarquia de Herodes Ântipas e suas terras abrangiam a grande área entre o Mediterrâneo e o Mar ou Lago de Genesaré, que lhe permitia clima temperado, especial. A sua capital era Tiberíades, cidade próspera, de negócios e jogos de paixões.

 

A noroeste do lago, situava-se Cafarnaum, onde residiam aqueles que lhe seriam discípulos afetuosos, aos quais convidara pessoalmente, um a um, a fim de que se candidatassem ao plano audacioso de conquistar o Céu, modificando as estruturas da Terra.

 

Na tradição bíblica, Cafarnaum era famosa, como comenta Mateus, situada na região de Zabulão, e Neftali, caminho do mar, além do Jordão, onde uma grande luz seria vista pelo povo que jazia nas trevas, região da morte - assim profetizara Isaías - e a buscaria para sempre, a fim de que não mais voltasse a haver trevas.

 

Foi dessa maneira que, encerrado o movimento que João iniciara em Bethabara, Jesus deixou Nazaré, onde viviam os seus, e veio para a Galileia, onde instalaria a sua base de ação.

 

A Sua voz começou a proclamar: Arrependei-vos, porque está próximo o reino dos céus.

 

O arrependimento é o primeiro passo para a mudança do comportamento humano.

 

Enquanto se está em conflito, sitiado pelo prazer e encharcado pelo gozo exaustivo, se experimenta grande alegria, que sempre é substituída pelo tédio, sem maiores aspirações. O apego às questões que agradam favorece mentirosa sensação de felicidade, cujo sabor é mais carregado de vinagre do que de licor.

 

Todos quantos se afeiçoam a essa conduta, aparentemente sentem-se bem, não desejando mais conhecer outra alternativa: aquela que pode preencher os vazios do coração e da razão.

 

Desejando mudança real, faz-se indispensável a experiência renovadora, que leva ao arrependimento dos hábitos doentios até então cultivados, a fim de prosseguir-se com equipamentos novos para a ação.

 

Desse modo, a proposta inicial de Jesus concitava a um auto-exame, de como cada um era, do que desejava e quais as alterações que se deveriam propor, ante a promessa de um novo amanhã, mais feliz e sem tropeços.

 

O israelita houvera sofrido muito através dos tempos. A escravidão que o povo penou, ora na Babilônia, ora no Egito, havia minado o caráter de quase todos os seus descendentes.

 

A escravidão é ato de hediondez, porque não somente submete o ser humano à situação de alimária de carga, como lhe rouba a dignidade, destroçando a alma. O escravo da guerra perde a liberdade de movimentos e de ações, para depois ser privado da própria vida, que se verga à indiferen- ça, à descrença, ao desrespeito por si mesma. . .

 

O povo, desse modo, anelava por um Messias violento, que lhe restituísse o status perdido há muito tempo. O seu orgulho ancestral, aquele de pertencer a Deus, conforme as profecias, não podia ceder indefinidamente às conjunturas vergonhosas. Agora, sob a dominação romana, tinha novamente a sua liberdade tomada, o seu culto vigiado, os seus passos controlados.

 

Quando Jesus deu início à sua pregação, era natural que a suspeita e o descrédito fizessem parte do comportamento de todos que O buscavam.

 

Imediatistas, necessitavam ver para crer. Apresentaram-se tantos falsos Messias no passado, que o povo se tornara armado contra os aventureiros, aqueles que desejassem explorá-lo em nome de Deus, utilizar-se da sua credulidade para retirar proveito e destaque.

 

Seria por isso, certamente, que o Mestre defrontaria sempre a dúvida soez e as hábeis ciladas dos fariseus que, de alguma forma, eram os intelectuais do seu tempo, tentando dificultar-lhe o ministério.

 

Incomparável conhecedor do ser humano e dos seus conflitos, por poder penetrar-lhe o imo com a visão profunda, mantinha-se paciente e benigno com frequência ante as propostas mais descabidas, desmascarando os hipócritas e orientando os que se encontravam aturdidos no turbilhão de si mesmos.

 

Desse modo, após o primeiro anúncio, Ele saiu a formar o seu colégio de aprendizes e colaboradores, convocando-os verbalmente, Ele que os conhecia e sabia onde se encontravam.

 

Aquele labor se iniciara muito antes do momento em que tomava corpo. Fora preparado com antecedência incomum, e os planos haviam sido elaborados de forma que ocorressem no tempo próprio.

 

Mais de uma vez, Espíritos perturbadores que O identificaram tentaram apresentá-lo, mas Ele os proibia, porquanto ainda não se fazia chegado o seu momento, o da eterna claridade.

 

Aqueles que receberam a invitação pareciam aguardá-la e conhecê-lO, a seu turno, embora não soubessem de onde, porquanto abandonaram as suas profissões, seus lares e famílias, e, sem qualquer garantia aparente, puseram-se a segui-lO.

 

Ele era um verdadeiro pastor reunindo as ovelhas, que O identificavam facilmente. Ninguém se lhe recusou à convocação, apesar de não saberem exatamente o de que se tratava, nem para onde iriam a partir do momento da chamada.

 

Assim mesmo, seguiram-nO, quase sempre emocionados e confiantes.

 

A música da esperança cantava na região da Galileia a melodia abençoada feita de saúde e de paz.

 

Ele saiu com os seus a percorrer as aldeias e cidades à margem do mar e a falar sobre o reino de Deus, modificando, a partir dali, os destinos de todos quantos lhe escutavam a voz.

 

O seu ministério ficaria inesquecível, perpetuando-se na memória dos tempos futuros.

 

Como as doenças e desenganos constituem a pesada carga que exaure a Humanidade, apareceram enfermos chegados de toda parte e portadores de doenças as mais complexas, a fim de que Ele, tocando-os, os curasse, o que sucedia diante de todos.

 

As patologias graves da época podiam ser vistas no desfile das misérias orgânicas e morais que assinalavam a multidão que lhe seguia empós. Tratava-se de cegos, surdos, mudos, aleijados, paralíticos, lunáticos, leprosos, além dos que eram enfermos da alma: obsidiados, revoltados, ciumentos, perversos, inseguros, negligentes, viciados. . .

 

A todos Ele atendia compassivamente, sem qualquer reclamação, sem apresentar cansaço, recomendando, porém, que não voltassem a pecar, a fim de que não lhes acontecesse nada de pior. . .

 

Era assim que demonstrava ser o Filho de Deus, aquele que vinha modificar a Terra, reunir os mansos e pacíficos, criar a nova sociedade, a fim de oferecer-lhes a plenitude, caso fossem fiéis até o fim.

 

A notícia da sua presença trouxe peregrinos e necessitados da Decápole, de toda a Galileia, de Jerusalém, da Judeia e de além Jordão.

 

A partir daquele momento, a música da sua voz jamais silenciaria na Terra, e a misericórdia do seu amor permaneceria para sempre.

 

Iniciavam-se, então, as Boas Novas! Começava o ministério de luz.

 



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Mateus 4:13

E, deixando Nazaré, foi habitar em Capernaum, cidade marítima, nos confins de Zabulom e Naftali;

mt 4:13
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Mateus 4:14

Para que se cumprisse o que foi dito pelo profeta Isaías, que diz:

mt 4:14
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Mateus 4:15

A terra de Zabulom, e a terra de Naftali, junto ao caminho do mar, além do Jordão, a Galileia das nações;

mt 4:15
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Mateus 4:16

O povo, que estava assentado em trevas, viu uma grande luz; e aos que estavam assentados na região e sombra da morte a luz raiou.

mt 4:16
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