Dias Venturosos

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CAPÍTULO 21

Nem prata nem Ouro, mas...

Pairavam na memória dos discípulos de Jesus o doce encantamento das experiências ao seu lado e as cruas quão dilacerantes cenas da tragédia.

 

Reconfortados pela sua ressurreição, cantavam-lhes nas almas as festivas reminiscências dos reencontros com o amigo redivivo, em exuberante vitalidade, que nunca mais desapareceria das suas existências.

 

O palco imenso da rude e ingrata Jerusalém, onde se desenrolaram os acontecimentos quase inexplicáveis, que o Gólgota exibira em hediondez e o túmulo não silenciara em sombras, agora era novo cenário, no qual ocorrências diferentes e multiplicadas aconteciam.

 

As notícias do retorno do Mestre produziram diferentes reações, como seria de esperar-se: alegria e curiosidade nas massas, medo e perversidade nos culpados.

 

Desejando silenciar a voz da verdade, tornaram-na mais potente; pretendendo matar o Cantor, fizeram-nO mais vivo, e objetivando anular-lhe a mensagem, abriram mais amplo espaço para fazê-la ouvida.


Uma sucessão de eventos ditosos impediu que o esquecimento geral sepultasse a melodia de libertação do Conquistador Celeste, o que sacudia continuamente a opinião nas praças e

assustava os habitantes soezes dos palácios e dominadores do Templo.

 

Jesus prosseguia vivo na memória geral e atuante em toda parte.

 

Fora visto em diferentes lugares, e os testemunhos eram insuspeitos.

 

Uma aragem perfumada espraiava-se pelas diferentes regiões e nelas Ele retornava, dialogando, cumprindo o anúncio da sobrevivência.

 

Ninguém, nem nada, pudera detê-lO.

 

O ódio, que envilece, também cega; igualmente intoxica e alucina.

 

O assassinato do Justo não bastara para os criminosos, que, desejando fazê-lO um traidor, criaram um mártir; planejando maculá-lO, desnudaram-lhe a pureza, e crendo aniquilá-lO, abriram-lhe as portas fantásticas da imortalidade com que confirmava todos os ditos e feitos.

 

A orgulhosa e fria Jerusalém fora erguida com pompa, e o seu Templo sobre o monte Moriá constituía o máximo da glória de Israel, que se ufanava do Deus único, embora subjugada pela águia romana, em cujas garras o mundo conhecido se debatia e estertorava.

 

A política vil e a ganância arbitrária se misturavam nas disputas governamentais dos poderes civil e militar, entregues aos romanos e religiosos, nas mãos hábeis dos sacerdotes, na sua maioria inescrupulosos.

 

O poder e a miséria mesclavam-se, trocavam de lugar, qual ocorre ainda hoje.

 

Os átrios e a entrada do Templo suntuoso, desafiador, majestoso e extravagante por Zorobabel, e posterior destruição, permaneciam repletos de miséria: a moral - dos cambistas e vendedores; a mental - dos alucinados; a orgânica - dos enfermos; a econômica - dos pobres; a ociosa - dos desocupados e aventureiros.

 

No seu interior, entre liturgias e cerimoniais, a face gelada da religião formal confundia o temor a Deus e o ódio aos romanos, a indiferença pelas criaturas e a astúcia para manter o domínio sobre as consciências adormecidas.

 

Os perfumes rituais exalavam dos incensórios e trípodes espalhados por todos os lados, confundindo-se com a sudorese do poviléu e suas chagas abertas.

 

O país, porém, e a cidade acorriam com a assiduidade exigida aos cultos que ali se celebravam, conforme o calendário estabelecido. Além dos dias festivos, que celebravam o cativeiro ou a libertação, o sofrimento no deserto ou as concessões divinas, também se apresentavam os ofícios habituais expostos pela Lei.


Foi num dia comum, igual a outro qualquer, ante as atividades da cidade febril e a monotonia da realização religiosa, que Pedro e João, dando prosseguimento à obediência exigida pela tradição, subiram ao Templo para a oração da hora nona. (*

*) Esfervilhavam nas suas mentes as recordações de Jesus, e a sinfonia das suas palavras marcava os movimentos e o pulsar dos sentidos e do coração.

 

Os infelizes desfilavam suas misérias e dores, exibindo suas exulcerações.

 

Quase à Porta Formosa, rica de adornos, entrada especial para o interior das imponentes edificações do Templo, um coxo de nascença que era trazido ali para mendigar, vendo que eles iam entrar, implorou-lhes que lhe dessem esmola. A esmola sempre foi um recurso da indignidade humana, que afronta aquele que a recebe e torna mesquinho quem a oferta.

 

Jesus subverteu-a, oferecendo o amor que dignifica e que liberta.

 

Pedro, recordando-se do Divino Médico e Benfeitor, tomado de compaixão, disse ao solicitante: - Olha para nós!

 

Supondo que ia receber as migalhas habituais, o mendigo dirigiu-lhe o olhar e foi surpreendido com a dádiva incomum: - Não tenho prata nem ouro para te dar - esclareceu o apóstolo - mas o que eu tenho, dou-te: em nome de Jesus, o Nazareno, anda!

 

Aconteceu muito rápido. Relâmpago que fere a noite escura e cinde-a, os fatos atropelaram-se para espanto geral.

 

Tomando-o pela mão direita, o levantou; logo os seus pés e artelhos se firmaram; e, dando um salto, pôs-se de pé e começou a andar.

 

Ato contínuo, cantando louvores, ele entrou no Templo com os dois, andando e exaltando Deus.

 

Como era natural, a estupefação tomou conta das pessoas que conheciam o pedinte da Porta Formosa, agora recuperado. Tomadas de espanto, acorreram a informar-se do acontecido.

 

Instaurava-se em definitivo o amanhecer da Nova Era.

 

O arrependido das negações erguia-se para demonstrar que o amor é a terapia por excelência e a misericórdia é a companheira que balsamiza todas as chagas da vida e do coração.

 

A Humanidade possui prata e ouro em abundância e misérias morais em quantidade.

 

Poucos distribuem esses valores e perdem-se entre os celerados, os carentes morais do mundo.

 

Alguns se liberam dessa escravidão e repartem um pouco.

 

Os verdadeiros cristãos, no entanto, que não possuem os tesouros que se gastam, se roubam, se perdem, despertam disputas e paixões, oferecem o que têm, distendem e promovem a criatura, impulsionando-a para a felicidade, para caminhar por si mesma no rumo da libertação.

 

Não doam coisas - doam-se a si próprios. Não possuem moedas, mas amor.

 

–Nem prata, nem ouro, mas. . .

 

majestoso e extravagante: Nota da autora espiritual: Nas ornamentações com que Salomão o engrandecera, após sua construção.

 

Atos dos Apóstolos 3:1-10

 



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Atos 3:1

E PEDRO e João subiam juntos ao templo à hora da oração, a nona.

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Atos 3:2

E era trazido um varão que desde o ventre de sua mãe era coxo, o qual todos os dias punham à porta do templo, chamada Formosa, para pedir esmola aos que entravam.

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Atos 3:3

O qual, vendo a Pedro e a João, que iam entrando no templo, pediu que lhe dessem uma esmola.

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Atos 3:4

E Pedro, com João, fitando os olhos nele, disse: Olha para nós.

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Atos 3:5

E olhou para eles, esperando receber deles alguma coisa.

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Atos 3:6

E disse Pedro: Não tenho prata nem ouro; mas o que tenho isso te dou. Em nome de Jesus Cristo o Nazareno, levanta-te e anda.

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Atos 3:7

E, tomando-o pela mão direita, o levantou, e logo os seus pés e artelhos se firmaram.

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Atos 3:8

E, saltando ele, pôs-se em pé, e andou, e entrou com eles no templo, andando, e saltando, e louvando a Deus.

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Atos 3:9

E todo o povo o viu andar e louvar a Deus;

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Atos 3:10

E conheciam-no, pois era ele o que se assentava a pedir esmola à porta Formosa do templo; e ficaram cheios de pasmo e assombro, pelo que lhe acontecera.

at 3:10
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