Dias Venturosos

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CAPÍTULO 25

A casa do caminho em luz

Aigreja dos corações reunia-se todos os dias e todas as noites para comentar os feitos e as palavras do doce e enérgico Rabi, assim como para orar e amar.

Os seus membros criaram a primeira comunidade fraternal da Humanidade sob a inspiração do Primeiro mandamento.

Os que possuíam algo vendiam, oferecendo o valor aos apóstolos do Mestre, para que fosse repartido entre todos os participantes da irmandade.

A pobreza dos bens materiais enriquecia-os com os tesouros da solidariedade e da legítima compreensão dos deveres, que os reuniam no serviço de iluminação de consciências, como de socorro moral e material à viuvez, à orfandade, às necessidades de toda ordem.

Repartia-se o pão entre todos igualitariamente e compartia-se a luz que jorrava do Alto em forma de inspiração e amor.

A presença psíquica do Mestre não permitia que O sentissem ausente, o que os vitalizava sobremaneira. Respirava-se o odor da pureza e da abnegação.


A ampla casa, no caminho entre e Jerusalém e Jope, tornara-se o santuário que acolhia a dor e alçava o indiví-

duo, crente ou não, mas que fosse necessitado, aos patamares mais nobres da evolução.

Pululavam enfermos de todo matiz, desde os portadores das rosas arroxeadas da hanseníase aos dos cânceres externos em putrefação; os alienados mentais e obsidiados em patética de alucinação; os mendigos e idosos sobrecarregados de abandono, fome e doenças; as crianças desamparadas e maltrapilhas, que a indiferença social expulsava da sua presença como se fossem moscas imundas; todos os tipos de párias, inclusive os ociosos e exploradores, que se aproveitavam da caridade dos servidores de Jesus, para os exaurirem. . .

A presença de Simão Pedro inspirava paz e confiança; a sua autoridade moral impunha respeito mesmo aos perturbadores ingratos, que afluíam em bandos perniciosos.

As memórias do pescador de Cafarnaum a respeito do Amigo, sensibilizavam a todos na ampla sala onde ele expunha o pensamento e se fundamentava nos textos da Lei Antiga como nos profetas de Israel. . .

Enquanto falava sobre Jesus e as suas realizações, nublavam-se-lhe os olhos de saudade e dor, pelo arrependimento que o vergastava com frequência.

O auditório atencioso se elevava e, em unção mental, criava-se psicosfera propiciatória aos fenômenos mediúnicos mais variados: curas, psicofonia, voz direta, aromas de essências raras, xenoglossia, sob as bênçãos dos Espíritos de Luz. . .

Estêvão ali vivera até o momento do holocausto, pulcro e abnegado, reconhecido e fiel, inspirado por Jesus, e tornou-se a pedra angular dos sacrifícios que seriam exigidos de todos eles.

Paulo viria mais tarde, exaurido, em quase total consumpção física e moral, sendo recebido com desconfiança, a princípio, e carinho logo depois, tornando-se amado, após as dores que infligira à comunidade.


Enquanto o rebanho, que se multiplicava, exigia a presença de Pedro e João em diferentes lugares, na Samaria, sustentando a fé nos neófitos, as curas se sucediam e os fenômenos psíquicos ocorriam a partir da colocação das suas mãos sobre a cabeça dos conversos, a Casa permanecia sob a direção de Tiago. (

*) De tal forma o perfume do amor exalava das suas almas em beatificação pelo trabalho, que, em Jerusalém, punham os enfermos pelo caminho do Templo e pelas ruas, a fim de que a sombra de Pedro, cobrindo-os ao passar, curasse-os, o que sucedia em larga escala, para desespero das autoridades inescrupulosas, que urdiam ciladas para persegui-los.

A inveja é adversário sórdido do Espírito, que convive com o seu mundo emocional e elabora os mais vis planos de desforço contra aqueles que lhe chamam a atenção e com os quais não pode competir por falta de valores morais.

Insinua-se suavemente ou se apresenta de chofre com as armas da indignidade que não se compadece dos valores da nobreza nem da honradez.

Compraz-se, quando persegue; felicita-se, quando vê o sofrimento daquele a quem elege como adversário; prossegue no seu infeliz afã, que também é autodilacerador, até consumar todos os seus planos trágicos, e permanece insatisfeita. . .

Muitas das desgraças que ocorrem no mundo, na esfera do inter-relacionamento social, devem-se debitar à inveja, que é degradação moral e espiritual do ser, devendo combatê-la em si mesmo com todo o empenho e todos os recursos ao alcance.

É filha primogênita do egoísmo exacerbado, que predomina em a natureza primitiva das criaturas humanas.

A inveja, pois, espicaçava os pigmeus do trono e dos altos cargos do Sinédrio, que usavam o poder da força destruidora, por não possuírem a força do poder para fazer o bem e amar.

Multiplicava-se o número de adeptos e de conversos, sem que aqueles homens simples soubessem que e como fazer para os albergar na comunidade ou amparar-lhes as necessidades naqueles mais carentes. Só mesmo a inspiração superior os guiava.

O salão principal e humílimo ocupava a área central do terreno amplo, abraçado por pequenos e sucessivos cô- modos que o circundavam. Neles, residiam os trabalhadores e, nos mais amplos, os enfermos e abandonados encontravam apoio e socorro fraternal.

. . . Eram dias especiais, sem dúvida, aqueles.

Passada a aridez que culminara no crime do Gólgota, a primavera da esperança espocava flores de bênçãos desde o momento da Ressurreição, e essa dádiva-certeza era como brisa cariciosa e vitalizadora que sustentava os herdeiros da promessa do reino dos Céus.

Instalavam, desse modo, na Terra, os pilotis do outro reino, e ampliavam as balizas da sua dimensão até os confins das distâncias.

Aquele era o modelo para o futuro.

Nem tudo, porém, transpirava somente paz, mas principalmente exigia muito trabalho.

Manter o equilíbrio entre os enfermos intolerantes, caprichosos e que conservavam os preconceitos e as restri- ções vigentes; acalmar turras e intrigas; preservar a ordem e a disciplina; resguardar a moralidade, na qual se firmavam todos os propósitos, constituía pesada carga, difícil desafio.

Entre os conversos, muitos se arrependiam, porque lhes parecia que o reino estava demorando a chegar, levando-os a defecções, a deserções, assim criando compreensí- veis embaraços, que os apóstolos recebiam com paciência e sem desânimo.

Entretanto, a exaltação do amor predominava, e, gra- ças aos fenômenos ostensivos e às curas inegáveis, a perseguição começou a cair desenfreada sobre eles, espalhando todos quantos ali se reuniam, embora preservando os apóstolos que, por momento, os sicários temiam perturbar.

Assim mesmo, Pedro e João novamente foram presos, em razão da multiplicação das curas famosas e imediatas.


Antes, porém, de serem julgados para receber punição, Gamaliel, fariseu honrado e doutor da lei honesto, mandou retirá-los do recinto por um pouco e advertiu os companheiros com energia:

– Israelitas, atentai bem para o que ides fazer a estes homens. . .

. . . Não vos metais com estes homens, mas deixai-os; porque se este conselho ou esta obra for de homens, se desfará; mas se é de Deus, não podereis desfazê-la, para que não sejais, porventura, achados até planejando contra Deus. (1) Todos os membros concordaram com a oportuna advertência, e os presos foram libertados, retornando à Casa do Caminho, onde cantaram glórias e louvaram ao Senhor.

As sombras, no entanto, se adensavam sobre o céu das alegrias ingênuas, e os corvos do medo e do terror começavam a esvoaçar em volta do grupo heterogêneo de convidados para a Era Nova. Não obstante, a voz do jovem Estêvão arrebatava e a sua melodia tornou-se acusação indireta à hipocrisia farisaica, às aspirações do ambicioso doutor da Lei, o aclamado Saulo de Tarso.

As trevas tombaram então, sem aviso, e Estêvão foi preso. . .

Morreu sob pedradas depois de um vergonhoso simulacro de julgamento, contemplando, em êxtase, o seu Mestre amado.

Seria o primeiro mártir depois dEle, que iria iniciar os tempos gloriosos das perseguições que se arrastariam por trezentos anos. . .

A Casa do Caminho permaneceria, porém, como símbolo indestrutível do amor e da caridade para todo o sempre, invencível e imaculada, em luz permanente.


Atos 6:38-42


Atos 5:15-16




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Atos 6:12

E excitaram o povo, os anciãos e os escribas; e, investindo com ele, o arrebataram e o levaram ao conselho.

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Atos 3:11

E, apegando-se o coxo, que fora curado, a Pedro e João, todo o povo correu atônito para junto deles, ao alpendre chamado de Salomão.

at 3:11
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Atos 5:15

De sorte que transportavam os enfermos para as ruas, e os punham em leitos e em camilhas para que ao menos a sombra de Pedro, quando este passasse, cobrisse alguns deles.

at 5:15
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Atos 5:16

E até das cidades circunvizinhas concorria muita gente a Jerusalém, conduzindo enfermos e atormentados de espíritos imundos; os quais todos eram curados.

at 5:16
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Atos 5:35

E disse-lhes: Varões israelitas, acautelai-vos a respeito do que haveis de fazer a estes homens.

at 5:35
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