Dias Venturosos

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CAPÍTULO 6

Eles não o mereciam. . .

Jesus era a Primavera após a demorada invernia.

 

Por onde passava, deixava marcas de luz e jamais era esquecido.

 

Seu porte soberano, sem jactância, e sua irradiação de paz despertavam sentimentos contraditórios: amavam-nO, os que sofriam, aqueles que anelavam por ternura e eram carentes de amor; ou detestavam-nO, aqueloutros que eram soberbos, mentirosos, inseguros nas funções que desonravam, os poderosos da ilusão. . .

 

Sem dúvida, porém, maior era o número dos que O amavam, a seu modo, dentro da estreiteza dos seus interesses e aspirações.

 

Não desprezando a ninguém, Ele preferia os simples e desconsiderados, pois que para eles viera e esses O buscavam com impaciência.

 

* * *

 

Os hebreus eram, ao tempo de Jesus, um povo especial.

 

Preservadores da crença no Deus único, fiéis às suas tradições e profetas, pecavam pelas exigências do culto externo das aparências, a que davam máxima importância,em detrimento do conteúdo, do interior e profundidade da mensagem.

 

Os vários cativeiros sob mãos déspotas fizeram alguns deles herdeiros de desmesurado orgulho de uma raça que nunca se dobrava e, como é natural, de muitos levianos, maledicentes, hipócritas, aqueles que sobreviviam bem em qualquer situação e facilmente se voltavam contra quem lhes constituía ameaça real ou imaginária, diminuindo-lhes o falso prestígio. . .

 

Iguais a outros povos que sofreram a servidão, desejavam uma pátria forte e dominadora, leis impiedosas, especialmente contra os fracos e pecadores, pecadores que, de certo modo, eram quase todas as criaturas.

 

Na impossibilidade de execrarem os romanos e os esmagar, naquela conjuntura, odiavam César e o império, conspirando continuamente e atormentando os indefesos, como mecanismo de transferência das suas frustrações.

 

Desconheciam ou ignoravam o amor, sempre zelando pelos interesses imediatistas.

 

Odiavam, quase sempre, e celebrizaram-se no farisa- ísmo, uma das suas seitas dominantes, pelas rixas contra as demais, pelas intrigas. . .

 

Nesse tecido social, vinha Jesus implantar uma Nova Ordem.

 

Não é fácil, com a compreensão de hoje, entender aqueles acontecimentos conforme a psicologia da época. Os parâmetros diversificados, a cultura humanística e as circunstâncias, totalmente diversas, dificultam o entendimento. . .

 

Jesus era a Estrela, e o povo, abismo em sombras. 46 Muitas vezes, no pantanal sombrio refletem os astros sua luz sobre as águas paradas, que ocultam miasmas e morte.

 

Assim brilhava Jesus, incomparavelmente transparente e puro.

 

As tardes eram o pentagrama virgem, no qual Ele colocava as suas canções de sabedoria e amor, envolvendo os ouvintes na música ímpar do reino de Deus.

 

O povo acorria às praias onde Ele se encontrava e amontoava-se, aguardando.

 

O bulício misturava-se à ansiedade geral, e o comércio das dores exibia os mais diferentes espécimes de sofrimento, que Ele, compadecido, atendia. . .

 

Dalmanuta era uma cidade de médio porte, à beira do lago de Genesaré.

 

Enriquecida por um clima ameno, em face da sua situação geográfica, parecia derramar-se dos outeiros circunjacentes na direção das águas.

 

Era arborizada, e suas vinhas produziam capitosos vinhos, enquanto se lhe multiplicavam as variedades de grãos.

 

Ali as águas eram piscosas.

 

Burgo tradicional, às vezes competia com a bela e rica Magdala.

 

Jesus gostava de passar pelas cidades ribeirinhas, e Dalmanuta sempre se beneficiava da sua presença.


Aquele não era um dia especial; no entanto, a sua fama projetava-O alto, para desagrado dos seus já inúme-

ros inimigos.

 

Sucediam-se curas e multiplicavam-se os fenômenos incomuns por Ele operados: visão a distância, levitação no lago, multiplicação de pães e peixes, materialização, transfiguração. . .

 

Os homens parecem repetir-se através dos séculos.

 

O que é evidente para uns, é suspeitoso para outros. Aquilo que a uns convence, a outros desacredita.

 

Os que vêem e comprovam não servem de baliza para os que não viram e não constataram.

 

No passado era assim . . . e ainda hoje assim prossegue. Quando Ele subiu na barca com os discípulos, rumou na direção de Dalmanuta. (Marcos 8:10-13) A Primavera chegava às sombras densas.

 

Logo que se dispôs a falar, os fariseus começaram a disputar com Ele, solicitando-lhe um sinal do céu, para O experimentarem.

 

Nenhum sinal serve para quem não deseja crer.

 

Medindo os demais pela própria pequena estatura, esses indivíduos estão sempre contra, pedindo sinais, atacando.

 

Todos os grandes homens têm sido vítimas desses homens grandes e perturbadores.

 

Donos da verdade, enxovalham os demais, porque não se podem a eles igualar.

 

Mesquinhos e venais, disfarçam-se de defensores da verdade, que conspurcam, para impedir que se destaquem os filhos da luz.

 

Mas eles não merecem consideração nem apreço; não são dignos de atenção.

 

Discutidores, buscam sempre confundir, por serem incapazes de ensinar corretamente.

 

Sempre enxergam os erros alheios ou o que supõem como tal, porque errar é o seu cotidiano, facilmente projetando a sombra nos outros e logo identificando-a. . .

 

Jesus os conhecia e não lhes retribuía atenção; nunca os valorizou, destituídos que eram de valor.

 

Porque estivessem em quase todos os lugares, Jesus, suspirando profundamente, disse: - Por que pede essa gente um sinal? Em verdade vos digo: sinal algum lhe será concedido.

 

Ele era o sinal. Sua vida, seus ditos e feitos eram o sinal.

 

Desde que ninguém falava como Ele falava, nem fazia o que Ele realizava, essa era a Presença.

 

Mas eles não queriam ver.


Cegos, viviam às apalpadelas, buscando o que despre-

zavam e desejando o que rejeitavam.

 

Dalmanuta, naquela tarde, não teve Jesus.

 

A multidão correu noutra direção, aquela para onde Ele foi, porque, deixando-os, embarcou de novo, e foi para outra margem.

 

. . . Eles, os fariseus, não O mereciam.

 



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Marcos 8:10

E, entrando logo no barco com os seus discípulos, foi para as partes de Dalmanuta.

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Marcos 8:11

E saíram os fariseus, e começaram a disputar com ele, pedindo-lhe, para o tentarem, um sinal do céu.

mc 8:11
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Marcos 8:12

E, suspirando profundamente em seu espírito, disse: Por que pede esta geração um sinal? Em verdade vos digo que a esta geração não se dará sinal algum.

mc 8:12
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Marcos 8:13

E, deixando-os, tornou a entrar no barco, e foi para a outra banda.

mc 8:13
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