Há Flores no Caminho
Versão para cópiaIsto é lá contigo
As colinas áridas, de calcário cinza, faziam a moldura além dos muros de uma cidade áspera e rígida em que a Natureza e os homens apresentavam-se com as mesmas características: dureza e desolação.
Aqui e longe, raros bosques de oliveiras e ciprestes audazes contrastando o verde escuro em manchas de sombra agradável com o solo agreste, pedroso, onde, de raro em raro, a balsamina e os cardos medram.
Numa das baixadas, a nascente de Siloé, refrescante, alongada em corrente tranquila, é a fonte generosa e abençoada, representante da vida.
O Templo, erguido por Zorobabel após a anterior destruição, demonstrava o orgulho da raça, que padecia uma forma de rude e infeliz cativeiro nas hábeis garras da águia romana.
Em extremos opostos, os palácios de Herodes ntipas e de Caifás, ostentando luxo e exalando o bafio pestilencial das lutas político-religiosas, sob o olhar atento da Torre Antônia, nas cercanias da opulenta residência de Pilatos.
As ruelas calçadas e estreitas apertavam-se, como os corações temerosos que necessitam de apoio, onde são escassas a confiança e a amizade, a paz e a bondade.
A fé religiosa convertera-se, então, em recitativos exaurientes e monótonos com movimentos rítmicos da cabeça e do corpo, ocultando os sentimentos reais e disfarçando, pela aparência, a falta de uma atitude mental e emocional correta.
Os jogos dos interesses subalternos predominavam, dando asas à astúcia e à desonestidade que campeavam, em detrimento da honradez que já não existia.
As oferendas religiosas variavam de acordo com a intenção ou liberação do erro, de cuja responsabilidade se desejava eximir o crente, variando desde os pequenos holocaustos com aves, a animais de maior porte ou de gemas preciosas e metais nobres trabalhados. . .
Supunha-se que o dinheiro a tudo comprava e vendiam-se compostura, fidelidade, afeição, vidas. . .
Não seria, pois, de estranhar, que Jesus nunca passasse uma noite na orgulhosa e estranha Jerusalém!
Quando ali se encontrava, no ministério da Mensagem, retirava-se de dentro dos seus muros e procurava, para o repouso, a casa gentil dos seus amigos de Betânia, Marta, Maria e Lázaro, ou se acolhia na parte externa, no Getsêmani, à sombra acolhedora das velhas oliveiras sob o zimbório da noite estrelada.
Naquela cidade, sofrida e impiedosa, onde os falcões vigiavam as pombas e os lobos as ovelhas, para as exterminar, sabia-o Ele, dar-se-ia o Seu luminoso testemunho, aquilo para o que viera.
Antes, era necessário semear o amor e a esperança, a harmonia e a coragem a fim de que o sangue do Seu holocausto sustentasse, por todo o sempre, as débeis vergônteas que despontassem nas plantas nascentes que o Seu amor faria germinar.
Jesus esperou e preparou-se para a Sua hora.
As festas da Páscoa atraíam os fiéis que chegavam de toda parte.
Deveria ser nessa época. . .
As testemunhas levariam, por todos os lados, as notícias da morte e da vida.
O silêncio da paixão e a alvorada da ressurreição comporiam o livro da perene conquista da felicidade.
Cessados os encantamentos da entrada jubilosa, entre palmas e sorrisos transitórios, os ódios foram acirrados por profissionais do terror, que se misturavam às camadas mais infelizes da população e pelos intrigantes hábeis junto aos assustados governantes, cujos tronos e posições balouçavam sem cessar, aos ventos do poder enganoso, longe de qualquer segurança.
Inquieto e emulado por sentimentos desencontrados, fraco e atormentado na sua insegurança, onde tudo se comprava e vendia, Judas vendeu o Amigo. . .
O escândalo se daria, é certo; infeliz, porém, aquele que se tornasse o seu instrumento.
O dia morno fora substituído pela noite varrida por ventos frios.
No silêncio das sombras a escabrosidade da atitude conduzia à tragédia.
A dor maior para um amigo é a traição de outro amigo; a sua perseguição insana e contumaz; a antipatia que surge da inveja ou do despeito; a contínua zombaria decorrente da pertinaz animosidade que se agasalha.
Judas, que O conhecia, não O conhecia. . .
O amigo que agride, maltrata, desconhece a bênção da amizade.
Aquelas eram circunstâncias cruéis, momentos aqueles inquietantes.
Em tais oportunidades revelam-se as criaturas, assumem os homens as suas reais posições.
Cada um é o que apresenta, no instante grave, quando se destravam as represas íntimas que disfarçam comportamentos e dissimulam condições.
Pelos caminhos do crescimento espiritual sempre estarão os dípticos morais, surgindo e desaparecendo nas almas, modelando-as na fornalha da aflição e nos temperos da bondade.
Nenhuma anestesia que não passe, como emoção alguma que não cesse.
Observando a condenação do Amigo, Judas tombou no poço dos remorsos, a consciência despertou.
Pela tela da imaginação volveu ao passado. Desfilaram os momentos, que se faziam eternos, quando a comunhão do amor penetrara-o.
Aturdiu-se mais e era tarde.
Volveu ao santuário onde consumara a traição e disse da sua dor, do seu arrependimento, desejando recuperar-se. . .
Os compradores frios zombaram.
As suas rogativas produziram diatribes de revolta.
— Pequei — disse entre lágrimas — traindo sangue inocente. (Mateus
— Que nos importa — redarguiram, impiedosos — isto é lá contigo.
Arrojadas as moedas ao solo, fugiu, prosseguindo no rumo da outra loucura, o suicídio!
Consumado o ato infame da traição, os sacerdotes, ávidos e inditosos pela ganância, tomaram das moedas, do piso recolhidas e creram-nas indignas do tesouro do Templo, esquecidos de que o dinheiro é sempre neutro.
Compraram uma vida, aquelas moedas de prata que levaram ao suicídio outra vida.
Aplicaram-na, então, astuciosos, na aquisição do Campo do Oleiro, que foi transformado em Cemitério para forasteiros.
A dureza do solo de Jerusalém, a cidade tida por sagrada, resultava, de algum modo, daqueles que a habitavam.
O coração é a terra do homem.
O pensamento é a semente.
A ação é o seu fruto.
Respira-se no clima que se fomenta no íntimo.
Jesus nunca dormira antes, dentro dos muros de Jerusalém!. . .
. . . E hoje, cidade santa para os Judeus, para os cristãos e para os muçulmanos, o comércio das quinquilharias confunde-se com os cânticos e preces recitados nas Igrejas, nas Mesquitas, nas Sinagogas e no "Muro das lamentações", entre paixões de armas em punho e divididas pelos ritos das várias ortodoxias, onde, certamente, o amor não se encontra.
Jerusalém!. . .
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Mateus 27:4
Dizendo: Pequei, traindo o sangue inocente. Eles, porém, disseram: Que nos importa? Isso é contigo.
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Mateus 27:5
E ele, atirando para o templo as moedas de prata, retirou-se e foi-se enforcar.
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Mateus 27:6
E os príncipes dos sacerdotes, tomando as moedas de prata, disseram: Não é lícito metê-las no cofre das ofertas, porque são preço de sangue.
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Mateus 27:7
E, tendo deliberado em conselho, compraram com elas o campo dum oleiro, para sepultura dos estrangeiros.
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Mateus 27:8
Por isso foi chamado aquele campo, até ao dia de hoje, Campo de sangue.
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Mateus 27:9
Então se realizou o que vaticinara o profeta Jeremias: Tomaram as trinta moedas de prata preço do que foi avaliado, que certos filhos d?Israel avaliaram.
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Mateus 27:10
E deram-nas pelo campo do oleiro, segundo o que o Senhor determinou.
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