Há Flores no Caminho
Versão para cópiaEm Atenas, a indiferença
O insigne apóstolo dos gentios anelava pela felicidade de pregar, em Atenas.
Grego de nascimento, utilizando com destreza o idioma, antevia-se anunciando Jesus ao erudito auditório, certo do êxito, em face da lógica da mensagem e do seu conteúdo ímpar.
Testemunha da ressurreição do Mestre, desde o momento inolvidável das portas de Damasco, aprofundara reflexões sobre os ensinamentos plenos de estoicismo superior, donde retirava esplêndidas ilações filosóficas para uma perfeita integração no espírito da vida, parecia-lhe fácil conquistar almas para o redil do Evangelho.
Atenas passara, no entanto, por inúmeras vicissitudes, não mantendo o mesmo esplendor cultural de tempos idos.
O orgulho de raça, a presunção histórica e as tradições conservadas do passado, mantinham o ateniense distante do sentimento religioso.
A Mitologia, que ocultava a beleza dos pensamentos superiores, disfarçados na representação das inúmeras deidades, reservara ao Deus Desconhecido um altar sem ídolos, numa transcendente representação, em que o sentido esotérico superava a manifestação de quaisquer formas, por mais expressivas que fossem.
A deusa Atenéia, esculpida, majestosamente, por Fídias, vitoriosa, na sua luta contra Poséidon, por haver oferecido um ramo de oliveira, simbolizando a paz para o povo, dominava, do seu santuário, esplendente, recoberta de ouro, com 12 metros de altura, a cidade em volta da Acropole. . .
Embaixo, na Agora, o lugar reservado para os discursos era disputado, por ali transitar o povo que acorria ao imenso mercado.
Naquele local, diversos filósofos haviam exposto os seus pensamentos, entre os quais Sócrates, com o seu nobre idealismo que irrigaria a alma do mundo e de que Platão fizera-se o legatário perfeito.
O Apóstolo de Jesus, igualmente apresentou as suas luminosas ideias, no tradicional mercado.
Anteriormente, na sinagoga, admoestara os judeus que se permitiam a idolatria. Por isso, resolvera alcançar o fulcro do problema, abordando-o no recinto de costume reservado aos debates e ideias novas.
A palavra rutilante fluía-lhe dos lábios em catadupas formosas, atraindo a atenção.
Argumentos bem urdidos enfloresciam-lhe a boca em modulações harmônicas.
A inspiração superior dominava-o.
Olhar incendiado, expressão facial viril, corpo e alma num todo de beleza assinalavam a hora grandiosa do ministério.
Perturbados pela fluência do verbo nobre, os ouvintes convidaram-no ao Areópago, onde ele deveria defender os seus conceitos.
O Areópago encontrava-se no conjunto de colinas da Acropole — parte alta da cidade — onde se realizavam os julgamentos públicos.
A Mitologia grega afirma que o deus da guerra, Ares ou Minos foi ali julgado pelos demais deuses do Olimpo, por haver morto um filho do Poséidon.
Em razão disso, o Areópago passou a ser usado como Tribunal Supremo de Atenas.
Ali foi julgado Orestes, por haver assassinado sua mãe Clitenmestra, sendo absolvido pela deusa Atenas, que lhe concedeu a graça.
Também é chamado de "colina de Ares".
Paulo considerou os comportamentos religiosos vigentes e, sensibilizado, sem qualquer receio, apresentou Jesus, o Filho do Deus Único, que ressuscitou dos mortos, demonstrando a indestrutibilidade da vida espiritual.
Vivendo, psiquicamente, experiências com o Mestre, Estêvão e Abigail, que o amparavam, colocou toda a ênfase na problemática da imortalidade, sem a qual a vida perde todo e qualquer sentido, anunciando a bênção dos reencontros, a contínua esperança da felicidade.
O conceito produziu um impacto negativo inesperado.
Os epicureus, utilitaristas e gozadores, hábeis no sofisma, não o deixaram prosseguir, tais a mofa e os doestos de que se fizeram objeto.
— Este traz — disseram, jocosos, uns — um deus estrangeiro — como se os deuses que temos nos não bastassem.
— E fala da ressurreição dos mortos — gargalharam outros. — Temos o que fazer, aproveitando a vida mortal. . .
E afastaram-se, galhofeiros.
Nunca houve lugar para a verdade.
A sua presença violenta os interesses comezinhos, molesta, prejudica. . .
Lentamente, porém, ei-la que triunfa, superando condicionamentos e domínios.
Com o tempo, Constantino levaria para Bizâncio a deusa Atenéia que seria consumida pelo fogo e todo o ouro que a revestia foi extraviado por novos epicuristas. . .
Paulo foi tomado de grande angústia.
Sentiu-se frustrado, acreditando não haver possuído os recursos que convencessem a prosápia ateniense, como se se pudesse iluminar quem prefere a sombra. . .
Não obstante, Dionísio, o supremo juiz do Areópago e Dâmaris sensibilizaram-se.
Alguns outros, humildes ouvintes, tocaram-se com o seu verbo fluente.
Dionísio e Dâmaris iniciariam a modesta igreja que sobreviveria aos ídolos, embora os homens entronizassem, no futuro, novos e lamentáveis deuses. . .
A semente estava lançada.
Do Areópago não ficou, através dos tempos, pedra sobre pedra que não fosse derrubada.
Superando os acontecimentos que ali sucederam, a rápida e pu jante presença do apóstolo Paulo permaneceria assinalando o antes e o depois.
Areópagos multiplicam-se pelo mundo, repletos de discutidores vãos, apresentando filosofias imediatistas que embriagam e matam.
A lição de Jesus, o Insuperável Mestre da ação plena e da palavra justa, permanece por norma de vida, qual amanhecer sublime iluminando a confusa Atenas de todos os tempos.
FIM
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