Há Flores no Caminho
Versão para cópiaJesus no comando
As confabulações íntimas entre Jesus e os discípulos, quando terminavam as exaustivas tarefas diuturnas, ofereciam campo aos companheiros tímidos, que não logravam compreender a dimensão da sublime empresa da Boa Nova, para que se aclarassem questões nebulosas e mais se aprofundassem no entendimento do ministério recém-abraçado.
Surpreendidos pela eloquência ímpar da palavra do Mestre, por mais reflexionassem, deixavam-se dominar por interrogações sucessivas, ao mesmo tempo intentando mergulhar nas reminiscências trazidas do Mundo Espiritual, quando se haviam preparado para o apostolado libertador.
Não obstante, envoltos pelo escafandro material, sentiam-se aturdidos, em face dos conceitos audaciosos e especiais que lhes eram apresentados, sem alcançarem o sentido exato nem a total extensão da revolução patrocinada por Jesus. . .
Vivendo o mundo do corpo no mundo das paixões, imantados às circunstâncias algo ingratas, era-lhes difícil abstrair das lições evangélicas as conotações humanas da sociedade em que se encontravam engajados.
Por isto, permitia-lhes o Senhor os largos colóquios, a convivência íntima aclaradora de todas as dificuldades que lhes pairavam nos painéis do discernimento.
Eram aqueles os momentos da perfeita identificação, em que as almas se abriam ao aroma recendente do Rabi em termos de amor e de liberdade.
A alocução do Mestre sobre o perdão surpreendera Pedro, ante a complexidade da benevolência que nos devemos uns para com os outros, a ponto da necessidade de perdoarmos sempre e sem cessar. . .
Os companheiros tiveram reações diferentes, cada um de acordo com a própria estrutura temperamental. . .
O perdão indistinto colhia-os, inesperadamente, desde que, habituados à dureza do Mosaísmo, defrontavam o problema da íntima dulcificação, como consequência à compreensão das faltas alheias.
As horas que se seguiram foram preenchidas pelas reflexões, mesmo depois que o poviléu se espalhou, retornando aos deveres habituais.
Assim, quando o Amigo se apresentava em meditação, na casa generosa em que se acolhia, loão, o jovem discípulo, acercou-se, e, sem mais delongas, expôs ao Divino Benfeitor as inquietações que o perturbavam.
Narrou as dificuldades que sentia para perdoar totalmente aos perseguidores e comentou a inevitável emoção de que se via possuído pela mágoa, quando ofendido.
Havia honestidade e interesse no aprendiz, desejoso de receber ajuda no problema que o aturdia.
Alongando as considerações referiu-se aos testemunhos que aguardavam o Senhor e o estado íntimo que o dominava desde já, em vista da saudade que o colhia por antecipação.
Havia uma dúlcida emoção que pairava no ar. O grande silêncio parecia sustentado por uma balada suave que se espraiava na voz da Natureza.
Nesse clima de ternura, o Mestre, sentindo a alma contrita e devotada do discípulo fiel, respondeu-lhe:
— És jovem, e a juventude louçã é a quadra da força, da intemperança e da coragem, que não passa de precipitação. . . À medida em que a vida premia a experiência com as dores e as conquistas do conhecimento, a razão sucede à impetuosidade e a harmonia ao tumulto perturbador.
Não obstante, a idade juvenil é o período da ensementação, em que se prepara o porvir de cuja colheita ninguém se eximirá, cada um conforme o trato com a semeadura. . .
Talvez, para permitir que João se deixasse penetrar pelo ensinamento, fez uma breve pausa, para logo aduzir:
— A dificuldade em perdoar está na razão direta da profundidade do amor. Quando se ama, desinteressadamente, pela empatia do próprio amor, o perdão surge como efeito natural, facultando a perfeita compreensão dos limites e das dificuldades do ser amado. "Se o amor, no entanto, é destituído de ampla dimensão e repousa nas bases falsas dos interesses mesquinhos e subalternos, ou pelo deslumbramento transitório, mais difícil se faz a solidariedade pelo perdão aos ofensores. "Se não há um vínculo de afetividade, é claro que a revolta, que nasce do amor-próprio ferido, arme de animosidade a vítima, que tomba, inerme, na reação infeliz, esquecendo-se de que, por sua vez, um dia necessitará, também, de perdão. . . " No silêncio que se fez espontâneo, o aprendiz da palavra de luz percebeu a razão porque o amor é a alma da vida em todas as suas manifestações, donde defluem todas as conquistas do esforço moral e das realizações superiores.
Meditava no conteúdo da lição ouvida, quando o Mestre, pausadamente, prosseguiu:
— Daqueles a quem amamos, jamais estaremos separados. O Filho do Homem deverá marchar para o testemunho, comprovando a excelência do Seu amor e sustentando a fraternidade entre aqueles que Lhe são fiéis.
"O amor é um hálito vital, que se manifesta e mantém, mesmo quando a criatura se não dá conta. Assim é conosco. Estaremos unidos e identificados pelo ideal comum. . . Aqueles que me amam, sentir-meão na presença do aflito e do necessitado, do velhinho desvalido e da criança em abandono, do enfermo em agonia e do desditoso em alucinação. . . Quantos lhes distendam as mãos gentis, a mim o farão, e ouvir-me-ão, ver-me-ão nos seus apelos e lamentos, nas suas aparências e desditas. Eu lhes falarei, sustentá-los-ei com alento inusitado e entusiasmo profundo que os animarão ao prosseguimento do ministério até o nosso encontro final. . . " João tinha os olhos orvalhados. Estranha emoção dominava-lhe as paisagens íntimas, dulcificando-lhe as ansiedades.
Nesse momento, Jesus concluiu a entrevista afetuosa, afirmando:
— "Onde dois ou três se reunirem em meu nome, eu estarei entre eles", (Mateus
Nos longes dos tempos as expectativas delineavam o mundo melhor do amor e do perdão, da fraternidade com Jesus comandando as consciências e as vidas.
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Mateus 18:20
Porque onde estiverem dois ou três reunidos em meu nome, aí, estou eu no meio deles.
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Mateus 18:22
Jesus lhe disse: Não te digo que até sete, mas, até setenta vezes sete.
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