Luz do Mundo

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CAPÍTULO 13

ATIRE A PRIMEIRA PEDRA

Apedrejar!

Transcorreram as Festas dos Tabernáculos e as gentes retornavam às cidades, aos povoados, aos campos, às atividades diárias. Aqueles dias foram de júbilos e exaltação nos quais a alma de Israel se rejuvenescera, tomada do entusiasmo festivo que irrompera em Jerusalém naquela ocasião. As comemorações evocativas dos dias passados, no deserto, sob tendas, após a saída do Egito, significavam a vitória do povo sobre o estigma do cativeiro e das rudes provações.

Aquela fora uma ceifa dadivosa.

Os peregrinos vinham de toda parte confundir os seres nos sorrisos generalizados e a capital se transformava na Casa de todos.

Naqueles dias de outubro já se conhecia a estranha e poderosa voz do Cantor Diferente, delimitando as novas fronteiras do Reino de Deus. As multidões esfaimadas ouviam aquela Palavra e se entusiasmavam, acompanhando o singular Peregrino.

A fome de pão se misturava à necessidade da paz, e as massas angustiadas, especialmente naquele período, aguardavam o Messias. Havia sinais comprobatórios da Sua vinda. Muitos foram, pressurosos, à "Casa da Passagem" para escutar, na vau do Jordão, o Batista. Ele, no entanto, afirmara e todos repetiam: — Eu sou apenas o preparador dos caminhos, para Ele passar... aquele que segue primeiro, à frente, endireitando a passagem...

E de fato, ele passara deixando um apelo veemente para a consciência dos homens: o do arrependimento de todos os erros, com o consequente nascimento do homem novo sobre os escombros do homem velho.

Herodes, ao decapitá-lo, penetrou em funda amargura, no entanto, o povo que lhe conhecia a vida atribulada e a conduta adulterina comentava, mordaz, sobre as consequências do seu crime e os lastimáveis resultados que adviriam no futuro.

A Voz, porém, se fizera mais forte, surpreendentemente, após ti morte de João.

Paralíticos e cegos, leprosos e meretrizes, pescadores e a grande plebe a ouviam...

Homens representativos dentre os doutores e os levitas a escutavam e conquanto se ressentissem das duras verdades que ela enunciava, não conseguiam condições para silenciá-la, reconhecendo-a autêntica.

Expectativas felizes pareciam dominar todo o Israel e os sonhos de liberdade longamente acalentados voltavam a interessar as paixões dos sôfregos corações humanos.

Preconizava um Reino e ensinava onde repousavam as suas primeiras balizas, já fincadas no solo dos espíritos. Todavia, quando se fitavam os olhos transparentes Daquele que projetava a voz da esperança se identificavam neles a melancolia e a poesia latentes que esparziam em farta messe.

Ele viera a Jerusalém para participar das Festas, conhecer o povo mais intimamente, nas explosões coletivas, nas exaltações generalizadas. Muitos O viram e O escutaram antes, provocando que as notícias da Sua presença comunicasse intensas emoções no povo e nos encarregados da Lei e da Religião.

Onde surgia todos O buscavam...

Ele estava próximo à porta Nicanor, do lado leste do Templo, chegando pelo caminho do Monte das Oliveiras, acompanhado dos discípulos.


Narra João, com emotividade e linguagem sucinta :

"Os Escribas e os Fariseus trouxeram uma mulher que fora surpreendida em adultério e a apresentaram dizendo: Mestre, esta mulher foi apanhada em adultério. Moisés manda que se lapidem tais mulheres pelo apedrejamento. Tu, pois, que dizes?" (João 8:1-11) Ele olhou de relance a mulher ultrajada e se abaixou, sensibilizado, e com o dedo começou a traçar garatujas no solo. (nota
1) A interrogação se demorava no ar, sem resposta.

Ele era o Embaixador da Verdade, porém o Príncipe representativo da Paz e do Amor. Moisés significava a aspereza literal da Lei fria e dura. Roma retirara de Israel o direito sobre a vida dos seus filhos. Ninguém, senão o Imperador ou seus Representantes, poderia dispor da vida de qualquer pessoa.

O adultério era condenado pelo Decálogo de forma irreversivel. Outras mulheres ali foram trazidas "pela gola dos vestidos" e apedrejadas, até consideradas mortas, noutros tempos...

Sua resposta, de qualquer natureza, criaria dificuldades.

Com as Festas havia nos corações uma cantilena de tolerância e benignidade, uma quase tendência ao perdão por parte do povo. Perdoá-la, no entanto, não seria convir com o adultério, oferecendo o estímulo da aceitação tácita do nefasto crime?


— "Tu que dizes?"

Havia ali corações em febre de desejos irreprimíveis, devastadores.

As mulheres caem porque encontram alçapões disfarçados no solo das ansiedades, nos quais são atiradas pela volúpia de homens que as hipnotizam com desejos infrenes. Atrás de cada organização feminina violada, há um companheiro oculto.

Em cada adúltera se esconde um adúltero, comparsa do mesmo erro. Onde estaria aquele que a infelicitou, explorando a sua fraqueza e a abandonando?


A mulher, não obstante desvalorizada, não representava qualquer significação antes d"Ele. Só depois, quando Ele a ergueu do nada em que se encontrava é que passou a ocupar o devido lugar de rainha e santa no altar do amor dos corações...


— "Tu que dizes?"

Ele não a fitou certamente para poupá-la da transparência da Sua visão.


— "Aquele que dentre vós estiver sem erro, atire-lhe a primeira pedra... "

A frase Lhe fluiu dos lábios lentamente, com segurança, nitidez, serenidade.

Continuou a escrever no chão. "Atire-lhe a primeira pedra. " A pedrada!

Mas todos ali estavam mergulhados em erros, laborando em terreno infeliz de preconceitos violados, de legislação desrespeitada, de ultrajes ocultos, de crimes que a consciência temia enfrentar direta-mente.

Os que estivessem isentos de erros!... Quem estaria nessa condição?

A exuberância da luz solar incide sobre as personagens da cena que marcaria História na História...


"Em silêncio os circunstantes se afastaram, um a um a começar dos mais velhos a terminar pelos mais novos, ficando Jesus e a mulher. "

Sim, os mais velhos trazem maior soma de empeços e problemas, remorsos e azedumes...

É fácil esmagar e exigir quando não se olha interiormente as paisagens do espírito.

Adúlteras, porque há adúlteros que as malsinam.

O silêncio dominou o local em que se encontravam.

Só então Ele se levantou outra vez.


Fitando-a, agora, com doçura e compreendendo o seu drama íntimo, revisando aqueles dias passados, que foram de dissipações, falou, em melodia de ternura e disciplina:

— "Mulher, onde estão eles? Ninguém te condenou? Nem eu tão pouco te condeno: vai e não tornes a pecar!

A autoridade do Rabi penetra o espírito da mulher infeliz e repudiada, e harmoniza o país da sua alma em guerra. Antes do erro quanta indecisão e incerteza, quanta frustração e receio atormentaram aquele ser!

Quanto flagelo interior experimenta todo aquele que se entrega ao erro, ao pecado!


"Não tornes a pecar!"

Todo o Evangelho se assenta nessa base: da compaixão e da misericórdia.

Ter oportunidade nova mas não repetir o erro.

Cair e levantar-se.

Equivocar-se e retificar a atitude.

Nem conivência com a irresponsabilidade nem dureza com a correção.

Todos se podem enganar, no entanto, perseverar no engano é acumpliciamento com a ignorância e a leviandade.

O Reino de Deus, cantado por Jesus, é o amor em todas as latitudes e dimensões a alongar-se pela Terra inteira numa explosão de misericórdia e educação.


"Não tornes a pecar. " "Isento de erro. "

Apedrejar a própria consciência, lapidando-a, aprimorando o espírito para galgar maior expressão de paz e ventura.


— ... "Atire a primeira pedra!"

Nota 1: Narram diversos intérpretes deste texto, que escrevendo no chão, o Senhor grafava a marca moral do erro de cada um, que O observava fazendo que recordasse sua própria imperfeição. Por exemplo: ladrão, adúltero caluniador...




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João 8:1

PORÉM Jesus foi para o monte das Oliveiras;

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João 8:2

E pela manhã cedo tornou para o templo, e todo o povo vinha ter com ele, e, assentando-se, os ensinava.

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João 8:3

E os escribas e fariseus trouxeram-lhe uma mulher apanhada em adultério;

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João 8:4

E, pondo-a no meio, disseram-lhe: Mestre, esta mulher foi apanhada, no próprio ato, adulterando,

jo 8:4
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João 8:5

E na lei nos mandou Moisés que as tais sejam apedrejadas. Tu pois que dizes?

jo 8:5
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João 8:6

Isto diziam eles, tentando-o, para que tivessem de que o acusar. Mas Jesus, inclinando-se, escrevia com o dedo na terra.

jo 8:6
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João 8:7

E, como insistissem, perguntando-lhe, endireitou-se, e disse-lhes: Aquele que dentre vós está sem pecado seja o primeiro que atire pedra contra ela.

jo 8:7
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João 8:8

E, tornando a inclinar-se, escrevia na terra.

jo 8:8
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João 8:9

Quando ouviram isto, saíram um a um, a começar pelos mais velhos até aos últimos; ficou só Jesus e a mulher que estava no meio.

jo 8:9
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João 8:10

E, endireitando-se Jesus e não vendo ninguém mais do que a mulher, disse-lhe: Mulher, onde estão aqueles teus acusadores? Ninguém te condenou?

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João 8:11

E ela disse: Ninguém, Senhor. E disse-lhe Jesus: Nem eu também te condeno: vai-te, e não peques mais.

jo 8:11
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