Pelos Caminhos de Jesus

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SÍNTESE HISTÓRICA

Qualquer narrativa em torno da incomparável personalidade de Jesus ou da evocação dos Seus feitos insuperáveis, não pode prescindir de uma análise, perfunctória que seja, da terra onde Ele viveu e do povo que a habitava.

Somente assim se poderá compreender a posição por Ele assumida ante as transitórias governanças política e religiosa então vigentes, características desse povo sofredor, obstinado e temente a Deus, que vivia num verdadeiro oásis de monoteísmo, situado no imenso deserto de politeísmo, no qual se desenvolveram as civilizações da Antiguidade...

Jamais um povo e sua cultura experimentaram maior soma de perseguições e padecimentos no curso da História, sobrevivendo a todas as penosas injunções, fiel às suas crenças e tradições.


* * *

A Palestina, que literalmente significa "terra dos filisteus" está encravada entre o Mediterrâneo, o Líbano, o deserto da Síria, na região denominada Oriente Próximo. Inicialmente, a sua localização geográfica a punha na encruzilhada das grandes e indispensáveis rotas comerciais que levavam, na Ásia Menor, ao Egito, à Mesopotâmia e à Arábia.

Graças a isso, experimentou sucessivas invasões dos egípcios, mesopotâmios, persas, e, por fim, dos romanos, que a destroçaram por largos séculos...

Quando os hebreus ali chegaram e se impuseram, esmagaram os filisteus, que a habitavam, e aos quais deve o nome, que se deriva de Filístia, por volta do século XIV a.C.


Os filisteus habitavam-lhe uma estreita faixa de terra, litorânea de

]ope, no deserto de Gaza.

Como estado hebreu, a Palestina, com raros intervalos, foi governada pelos seus membros entre 1025 a.C. até 135 a.C. Os seus reis a conduziram até aproximadamente 586 a.C.

Pelos acontecimentos históricos que ali tiveram lugar, foi denominada como "Terra Santa", em face das ocorrências bíblicas que lhe deram notoriedade, unindo fatos e revelações humanas, bem como espirituais, igualmente por se tornar o lugar do nascimento de Jesus. Também foi chamada "Terra de Canaã" ou de "fartura e alegria", "Terra da Promissão ", Filístia...

Por volta do século IV a.C., Alexandre e suas hostes conquistaram os persas e, consequentemente, dominaram a Palestina, que passou a experimentar-lhes o jugo dominador.

Com a desencarnação do conquistador, por volta de 323 a.C., a dinastia dos ptolomeus, que houvera sido fundada por um dos generais do macedônio e que se apoderara do Egito, entrou em luta com a dos selêucidas — de idêntica origem — que dominava a Síria, por causa da Palestina...

Alexandre, nas suas conquistas, mantinha uma ideologia que, acima do desejo de conquistar o mundo, pretendia unir os povos numa mesma civilização eminentemente helenizada. Como consequência, o helenismo objetivava unir os elementos culturais gregos com os tomados dos países conquistados, embora com características variantes entre os diversos povos.

Não obstante, a bacia do Mediterrâneo propiciou-lhe a unidade que serviria, de início, para a expansão do Império Romano e, providencialmente depois, para a propagação do Evangelho de Jesus.

Os judeus, porém, reagiram vigorosamente contra o helenismo, de princípio, qual ocorreu mais tarde contra o romanismo, que em ambas as culturas viam poderosa ameaça à fé no Deus único de Israel.

Por esta razão, os conflitos se fizeram constantes entre as imposições dos dominadores e as raízes religiosas da tradição judaica.

O ápice dessas lutas teve lugar com a rebelião dos macabeus, quando o sacerdote Matatias e, posteriormente, os seus filhos Jônatan, Judas e Simeão (Vide "Respingos históricos", do livro Primícias do Reino, de nossa) se opuseram ao helenismo dos selêucidas, que tentavam impor os deuses pagãos aos judeus.

O movimento logrou algum êxito, porém João Hircano, filho de Simeão Macabeu, amolentou-se, fazendo concessões aos gentios e se amoldando aos hábitos dos povos fronteiriços que mantinham costumes helênicos, originando-se aí a grande perseguição...

No ano 63 a.C., Pompeu pôs fim à dinastia dos macabeus, depondo Aristóbulo II e devolvendo, mais tarde, aos descendentes deste, alguma autoridade, em funções de sumo sacerdote e etnarca.

Herodes, que houvera sido nomeado "rei da Judeia" pelos conquistadores romanos, no ano 40 a.C., foi o último dos descendentes macabeus, considerando-se que sua esposa procedia deste clã.

Herodes, desejando agradar os romanos — que embora condescendentes com os seus povos, no que tangia à cultura e à religião, não entendiam a obstinação judaica — tentou introduzir o helenismo no país, construindo templos em honra a Roma e a César Augusto, quer na Samaria, quer em Cesareia... Todavia, quando intentou colocar uma águia de ouro — símbolo de Rom a — na entrada do Templo, em Jerusalém, erguido e embelezado ao longo dos séculos, os judeus se rebelaram e ele teve que se utilizar da violência sangrenta para manter a ordem...

Os seus sucessores prosseguiram em tentativas helenizantes, o que motivou contínuas e lamentáveis rebeliões...

Foi neste clima que nasceu Jesus...

Ele era ainda criança, quando o etnarca Arquelau, para abafar a nova sublevação judaica, recorreu às tropas romanas que, sob o comando de Varo, destruíram Séforis, capital da Galileia, crucificando 2 000 rebeldes...

Para sobreviverem, em face das circunstâncias, os judeus dividiam-se em partidos, dentre os quais se destacou o dos fariseus, que era o mais tenaz e intolerante, contra o qual, inúmeras vezes, levantou-se Jesus.

Caracterizados pela exagerada observância da Lei, chegavam a manter 600 deveres, que lhes pareciam indispensáveis para uma vida rígida em relação a Deus e ao país.

Na impossibilidade de se desobrigarem de tal exagero, fugiam para a astúcia e hipocrisia de conduta, sempre preocupados com o exterior, em detrimento do valor intrínseco dos fatos e coisas.

Os saduceus, por sua vez, constituíam o partido da aristocracia que, para manter os bens e a posição social, favorecia o dominador romano. O sumo sacerdote pertencia a esta casta social, sendo-lhe o culto do Templo o dever de maior relevância. Levantavam-se contra as doutrinas da ressurreição e da existência dos anjos, mantendo permanente clima de mês conservadorismo.

Os zelotes, partido que se opunha ao jugo romano, prosseguiram após as crueldades de Varo e se responsabilizaram pela grande rebelião de 66 a.C., a mais violenta de todas, que culminaria na destruição de Jerusalém no ano 70, quando Tito, general, e depois imperador romano, dominou a cidade e arrasou o Templo, não deixando "pedra sobre pedra", que não fosse derrubada.

Outros grupos menores formavam pequenos partidos entre os quais o dos essênios, que habitavam as margens do mar Morto e viviam apartados do mundo dos gentios, preservando os seus cultos ancestrais.

Embora as diferenças superficiais dos grupos e partidos, todos os judeus sustentavam o monoteísmo ético e a esperança escatológica.

A crença geral em Deus, na Sua justiça, e a esperança da chegada de um Messias, que restaurasse a soberania de Israel, criando um Reino de paz e de felicidade, eram a ambição de todo judeu.

Uns esperavam essa hora com paciência, e outros desejavam apressá-la através das armas...

Veio Jesus, porém, e eles não O compreenderam, não O receberam, não O quiseram...




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