Pelos Caminhos de Jesus

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CAPÍTULO 17

JESUS E AS AGRESSÕES DO MUNDO

A figura de Jesus impressionava pelo porte e grandeza. D’Ele se irradiava peregrina força que impregnava todos quantos se Lhe acercavam.

A Sua presença infundia respeito e ternura, mesmo entre aqueles que, obstinados, se opunham aos Seus ensinos revolucionários.

Naqueles dias, a notícia da conversão da equivocada de Magdala corria, de boca em boca, e os comentários apaixonados descaracterizavam a ocorrência.

Comentava-se, com certa leviandade, senão com malícia, que ela se deixara arrebatar pela personalidade carismática do Nazareno;

outros informavam haver visto quando Ele expulsara os demônios que a controlavam; outros, ainda, esclareciam que nada houve demais, exceto a imensa compaixão com que Ele a envolveu, embaraçando os seus perseguidores, alguns dos quais, conforme era sabido, frequentavam-lhe o bordel...

Graças aos exageros, toda a cidade tomou conhecimento do fato e, porque muito comentado, fez-se notória a sua transformação moral de que a maioria duvidava.

Passada a curiosidade geral e amainado o impacto ante a presença da pecadora entre os Seus ouvintes, a cidade retornou aos hábitos morigerados, costumeiros.

Num entardecer, em que o céu de Magdala adquirira o tom de turquesa, num contraste com o poente em ouro derramado por sobre as colinas verdes e flechando com luz as águas transparentes do mar, acercou-se do Rabi, respeitável ancião daquela comunidade.

De todos conhecido pela respeitabilidade moral e obediência aos códigos éticos da Tord, onde quer que se apresentasse ele catalisava as atenções, inspirando consideração.

Sua palavra se tornara de fácil acatamento, e, em razão disso, os seus apontamentos eram aceitos e tidos em conta.

Com essa auréola de dignidade humana, aproximou-se do Mestre e apresentou-se com naturalidade.

— Senhor, participo da vida deste povo e procuro ser fiel cumpridor das determinações de Moisés. Durante toda a minha vida, que se aproxima do seu término físico, tenho buscado a verdade, afim de ganhar a alma...

Falaram-me da Tua mensagem e dos últimos acontecimentos, constatando que és o Enviado de Deus, Aquele que aguardamos...


Fez uma breve pausa, e, ante a anuência atenciosa do ouvinte, prosseguiu: — Várias interrogações me bailam na mente, sem respostas, considerando as colocações que fazes a respeito da Justiça e do Amor. "Gostaria de saber, desse modo, como agir ante um agressor, que nos golpeia a face, tomado pela fúria do ódio?" Jesus compreendeu o conflito daquele homem, justo e nobre, diante da revolução nova e, sem qualquer enfado, redarguiu:

— Apresentar-lhe a outra face, aquela que não foi atingida. "Jamais esquecer que o agressor está perturbado e uma reação violenta, por parte da vítima, somente agravará a situação, que poderá culminar em tragédia. "A tranquilidade do agredido infunde paz no violento, que se desarma do ódio e dá-se conta da sua hostilidade sem justificativa. "

— E se o indivíduo sentir-se bem com o mal que faz, continuando a infeliz investida da impiedade? —, indagou o interlocutor, intrigado.


Sem perturbar-se com a questão grave, o Mestre elucidou:

— Revidar mal por mal é tornar-se igual ao mau. O homem bom e reto difere do infeliz pela conduta, não derrapando nos mesmos erros, nem assumindo idênticas posturas desairosas. "Do seu tesouro de honradez, retira a melhor parte, que aplica em favor daqueles que, enfermos do comportamento, ainda não descobriram a excelência da paz, da não violência, da serenidade... "Quem devolve o mal pelo mal, ainda não despertou para a vida, porquanto, aquele que não se dedica ao bem, em favor do próximo, não acordou para as superiores finalidades da existência. " O ancião apresentava os olhos coroados de lágrimas de justa emoção. Jamais imaginara que os tesouros do amor eram oferecidos ao homem, a fim de serem multiplicados em bênçãos de fraternidade e carinho com os carentes e desafortunados do mundo.


Assim, envolto pela aura suave e doce do Cristo, desculpando-se, tornou a interrogar:

— Como atuar em relação àqueles que, acintosamente, desprezam a verdade, trocando os valores espirituais pelas facécias terrestres?

— Compreendendo que são almas infantis, distraídas dos deveres maiores. Avançam no rumo de decepções e fracassos que irão identificando na sucessão do tempo, até que a dor se lhes agasalhe nas províncias da alma e resolvam-se por adquirir os bens que não desaparecem, que não se perdem...

— Senhor! -, exclamou o visitante, inquirindo. - Como proceder com aqueles que nos agridem moralmente, através da calúnia, da traição, do adultério, da mentira, da infâmia? ... São crimes que dilaceram a alma e não são passíveis de perdão, conforme penso.

Que dizes?


O Amigo dos infortunados penetrou os olhos transparentes no olhar ansioso do interrogante sincero, e explicou: — Todos quantos nos apunhalam moralmente, temem-nos, invejamnos, detestam-nos. A culpa é nossa, porquanto ainda não conseguimos inspirar-lhes amor. Quando o nosso amor lenir-lhes as doenças graves e perigosas do sentimento, eles se acalmarão ao nosso lado e ver-nos-ão por outra óptica, penetrando em nossa realidade íntima, que é de origem divina. "Ulcerados interiormente, exteriorizam os seus tormentos atingindo o seu próximo com fria segurança de destruição. "Mais do que os outros, que são agressivos físicos, circunstânciais, devemos encará-los como necessitados de compaixão e de tolerância. O nosso amor logrará apresentar-lhes a outra face da vida e eles despertarão hoje ou tarde para o culto da solidariedade e do dever, respeitando o seu irmão e cooperando até mesmo com aqueles aos quais antipatizam e menosprezam. "Estamos no mundo, para que haja paz e saúde, indispensáveis à felicidade. "Não é fácil esta conduta, certamente, e o reconheço. Todavia, muitos são chamados para este cometimento, porém, somente poucos escolhidos logram alcançar as metas de libertação. " E fazendo um breve silêncio, para que fosse apreendida a lição profunda, arrematou:

— Os histriões de todos os tempos zombarão destes ensinos, e os humoristas de todas as épocas provocarão sorrisos ante estas afirmações.

Todavia, eles também são humanos e não marcharão indenes aos testemunhos, chegando o momento em que, equivocados, enfermos e esquecidos pelos seus adeptos e fãs, necessitarão de misericórdia e apoio.

Nessa hora, estaremos vigilantes, distendendo-lhes o socorro e a ajuda que valorizarão.

Dando por concluída a entrevista, o Mestre afastou-se com passo lento, seguido pelos aprendizes, mergulhados em silêncio, meditando a respeito da conduta em relação às agressões do mundo, físicas e morais.




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