Pelos Caminhos de Jesus

Versão para cópia
CAPÍTULO 21

O ANJO DA FÉ

A convivência com Jesus facultava às criaturas entesourar os mais preciosos valores, porquanto, são aqueles que não se perdem e não podem ser roubados. Fixando-se nos refolhos da alma, tornavam-se estrelas iridescentes a clarear interiormente as vidas, sem que jamais viessem a apagar-se.

A Sua presença produzia singular impacto e todo aquele que O fixava jamais poderia esquecê-lO.

Disputavam-se, portanto, atraídas por Ele, as criaturas que padeciam as mais variadas aflições. Ele era a esperança e tornara-se o amparo eficiente, aguardando sempre.

Às vezes, os beneficiários não se davam conta do significado, da magnitude do momento vivido ao Seu lado. Todavia, logo que os Seus olhos se encontravam com os dos necessitados e irradiavam a sua luminosidade peculiar, o ser deixava-se penetrar pela força incomparável de que eles se faziam portadores, mudando-se-lhe, completamente, o roteiro da existência.

Era compreensível que todos se atropelassem, a fim de ouvir-Lhe a voz e sentir-Lhe o contato amorável.

Renovavam-se as multidões sempre ansiosas. Aqueles que se sentiam beneficiados, saíam e narravam a excelência do Seu amor, provocando a presença de outros que se encontravam sem rumo, enfermos ou inquietos, curiosos ou intranquilos.

Jesus os acalmava, praticamente sem dizer-lhes nada.

Mais importante do que as palavras com que bordava as Suas lições era o magnetismo do amor que impregnava aquelas almas ansiosas e sofridas.

Natural que, terminadas as mensagens dirigidas ao público, permitisse aos mais angustiados que se acercassem para a comunhão profunda, a libertação de todos os males que os aturdiam...

Numa dessas jornadas, encerrado o contato habitual, acercou-se-Lhe uma mulher, visivelmente aflita, e apresentou-Lhe, na mágoa que a macerava, os problemas que lhe infelicitavam a vida.

— Senhor — expôs-Lhe, muito comovida não tenho forças para prosseguir na caminhada, porque a dor me esfacela a alma e o ânimo me abandona a vida...


Fez uma pausa, tentando sintetizar as questões mais graves, para logo prosseguir:

— Meu esposo abandonou-me, injustificadamente, evadindo-se do lar e relegando-me à humilhação e ao desespero. Desprezam-me as pessoas amigas, que se dizem felizes, considerando-me indigna de um companheiro. Padeço a soledade ao lado de uma família que necessita de apoio e sofro uma dor pungente, indescritível, que já não suporto. Que fazer?

O Mestre fitou-a com a infinita ternura que se Lhe exteriorizava da face, e, buscando minimizar-lhe a pena, elucidou: — Todo aquele que sofre, não apenas se recupera de velhas dívidas como adquire recursos morais que o credenciam para conquistas mais elevadas. Solidão é recurso valioso de que se serve a Divina Lei para que o homem adquira sabedoria e valor para dilatar o amor sem as paixões que escravizam e entorpecem os sentimentos.

Além disso, quando alguém é relegado ao esquecimento, pode aquilatar das aflições que se acumulam nos solitários. Razão, portanto, possuindo, para auxiliar e socorrer aqueles que se encontram em carência. Alguém em regime de solidão está em condição de oferecer apoio ao próximo, diminuindo as próprias penas, enquanto levanta o entusiasmo e a coragem no companheiro, que se esquece da dificuldade pessoal, reabastecendo-se de valor para não fracassar, nem desistir na luta que trava. Todo investimento que se aplica em favor do próximo reverte em luz e segurança para todos os dias do futuro.

— Todavia — redarguiu a interlocutora —, na situação em que me encontro, de mulher sozinha, experimento a presença da tentação. Homens inescrupulosos, acostumados a perturbar a paz alheia, acercam-se do meu lar, com disfarce de amigos, e logo se apresenta a ocasião, exteriorizam os sentimentos que conduzem...

Revolto-me, embora o apelo perturbador me alcance. Como proceder?

— Perseverando na honra - alvitrou o Amigo. — Não permitir jamais que a fagulha da ilusão caia no combustível da fantasia, o que resulta em surgimento de incêndio devorador, de difícil extensão. O erro é deixar-se que a imaginação agasalhe sonhos insensatos, porque os pesadelos da desesperação irão despertar o incauto para a realidade do sofrimento que buscou. O remédio é sempre o trabalho do bem, objetivando o próximo. Quando alguém sobrepõe aos próprios problemas o esforço para auxiliar o seu irmão, eis que as dificuldades ficam esquecidas, oferecendo campo à alegria de viver.

— E quando a ira, a mágoa — retornou a cliente a indagar — desejarem, aninhar-se no coração, asfixiando a paz e envenenando os sentimentos, como agora?

Jesus fitou a noite constelada, que convidava à reflexão e, encerrando a entrevista, concluiu: — O fiapo de luar, a distância, dá a falsa impressão de que Selene se encontra moribunda, extinguindo-se, lentamente. Todavia, sabemos que, logo mais, na próxima quadra, ela ressurgirá do outro lado da Terra, derramando prata e embelezando a noite, demonstrando que só a luz tem perenidade... O bem é de sabor eterno, enquanto o mal é a ausência daquele. A mágoa é tóxico que não merece vitalização, porque ressumbra dos estágios primitivos e instintivos da vida, com objetivos fatais. A ira é irrupção da violência que deve ser detida, a fim de que o desequilíbrio não desgoverne as horas.

Assim, a conquista do bem dá ao homem o vigor para vencer todos os embates e superar todas as situações penosas. Como, porém, o bem somente se manifesta através da ação da caridade, em serviço de socorro, a todos cumpre transformar as compulsões prejudiciais em impositivos de amor, a fim de que tenham os dias prolongados na Terra e possam fruir as bênçãos do Céu. O homem vale pelas conquistas que realiza dentro de si mesmo, superando e sublimando as mazelas, ação esta que lhe propicia ventura interior e paz prolongada...

A mulher ouviu, meditou e, quando retornou ao lar, havia-se transformado.

A partir de então, entregando-se à caridade fraternal e ao amor desinteressado, deixou, por onde seus pés transitaram, marcas de luz como estrelas indicando rumo, a traduzir que, por ali, havia passado um anjo da fé, seguindo ao Infinito do Bem.




Acima, está sendo listado apenas o item do capítulo 21.
Para visualizar o capítulo 21 completo, clique no botão abaixo:

Ver 21 Capítulo Completo
Este texto está incorreto?