Pelos Caminhos de Jesus

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CAPÍTULO 7

NA TRANSJORD NIA - A LIBERDADE

Árida e calcinada, aquela é a terra sofrida pelos golpes do ar quente e pela inclemência do Sol.

A Transjordânia é constituída por planaltos que se alongam de um e do outro lado da imensa depressão do Ghor, por onde corre, lânguido e abençoado, o rio Jordão que se distende, rasgando o calcário, até a imensa fossa do Mar Morto, a quase 400 metros de profundidade em relação ao nível do Mediterrâneo...

Esses planaltos ressequidos são formados por elevações vulcânicas, onde se espalham desertos e estepes que lhes ocupam quatro quintos da área territorial.

Apenas na região por onde corre o Jordão, é que o clima se faz mais ameno, com um calor úmido e favorável a alguma agricultura, como a de cereais, de bananas, de frutas cítricas...

A jornada, por ali, se anunciava difícil.

O Mestre atingira o clímax do ministério na Galileia e programara seguir a Jerusalém. Todavia, alterando o percurso, sem atravessar a Samaria, desejou seguir por outros caminhos.

O outro lado, a parte oriental, atraía-O. Ele desejava ensementar a palavra de luz no solo dos corações que a desconheciam. Optou, portanto, em subir a Jerusalém, vencendo as paisagens ressequidas e ingratas da Transjordânia.

Era necessário fecundar o solo difícil com o adubo do sacrifício e encorajar os depositários dos divinos bens, acomodados na indolência e indiferentes, com a esperança e a motivação para o cultivo do amor.

A indiferença é bafio mortífero.

Às vezes, pior do que o ódio - o amor que enlouquece, explodindo em ira —, ela é a manifestação mórbida do amor que está morrendo...

A marcha prenunciava ser longa e cansativa, ao mesmo tempo arriscada, em razão do farisaísmo dominante e astucioso, que se locupletava na ignorância do povo, a ele submetido em infeliz servidão.

À medida que avançava, a Sua sabedoria ensinava, abrindo espaços nas mentes fechadas e convidando-as à reflexão, à liberdade...

Em cada lugar, em cada trecho do caminho, Sua presença e voz dissipavam as dúvidas, dirimiam os conflitos.

Depois do Seu passo, porém, ficaram impressas nas almas as setas luminosas, apontando os rumos de segurança para os homens alcançarem os abrigos da paz.

Na sinfonia dos acontecimentos, porque também se estivesse dedicando com extremados zelo e abnegação, Pedro indagou-Lhe, na primeira oportunidade: — "(. .) E nós que deixamos tudo e Te seguimos?" (Mateus 19:27-30) Havia sede de ternura e de recompensa.

Quando ainda não se sabe amar verdadeiramente, sempre se aguarda retribuição. "O amor, porém, se basta a si mesmo. " Preenche o coração de quem o doa e vitaliza o daquele a quem é oferecido.

Autossuficiente, enriquece e justifica-se.

Não vem de fora, nem se manifesta com ruído e excentricidades.

Surge, espontâneo, de dentro de cada ser e exterioriza-se como um perfume suave, que termina por impregnar.

O amor é pleno, e o seu fruto, o seu resultado, é sempre amor, pois que, procedente de Deus, a Ele retorna.

Na primeira fase da sua expressão, quando ainda frágil, o amor pede resposta, espera compensação.

Ao fortalecer-se, renuncia aos interesses menores e prossegue amando.

Jesus recordou-se de quando propusera aos Seus seguidores a opção entre os familiares e Ele, os bens transitórios e os eternos.


A interrogação do amigo, que falava pelos demais, levou-o a retorquir:

— "Em verdade vos digo: quem tiver deixado a casa, irmãos, mãe, pai, os filhos ou campos por minha causa e por causa da Boa-nova, receberá cem vezes mais agora, no tempo presente, em casas, irmãos, irmãs, mães, filhos e campos, juntamente com perseguições, e, no tempo futuro, a vida eterna. Muitos dos primeiros serão últimos, e os últimos, primeiros. " A resposta, contendo toda uma promessa de ventura, não omitia as lutas, nem os testemunhos.

A opção por Cristo é uma decisão de largo tempo, sem o entusiasmo da primeira hora, que passa e leva à desistência, nem a reflexão muito demorada, que perde a oportunidade.

Há um momento de escolha, de decisão.

Tomada a resolução, é indispensável abraçar a cruz, não olhar para trás e seguir.

Toda opção conduz ao contributo de esforços.

Mesmo as estradas aplainadas, apenas são vencidas pelos candidatos que se movimentam, buscando vencer as distâncias.

As decisões morais superiores, não raro, atraem flagelos para o corpo, a emoção, a alma...

Escolher Jesus e renunciar ao mundo permanece um grande desafio para quem esteja saturado das ilusões e das mentiras, não para aquele que sonha e chafurda nos prazeres.

Estes, os decididos, que elegeram segui-Lo, mesmo em soledade têm-No.

A sua é solidão com Ele, o que equivale à plenitude, sem os demais.

Ao lado dessa agradável e confortadora companhia, em outros deambulantes encontra a sua real família, aquela cujos laços não se rompem e cuja vitalidade não perece.

Casas de amor em toda parte substituem a casa abandonada, em ruínas, sem qualquer sentido ou significado, diante dos corações afetuosos que se fazem novos lares de segurança e repouso.

Não faltarão, porém, os testemunhos naturais...

Quem opta, fica sem uma parte, e esta reage, às vezes, agride e fere.

O mundo é feito de utopias e os seus usufrutuários se apoiam na violência para não perderem o espaço que ocupam.

O Reino é ilimitado, no entanto, cabe no coração que não disputa áreas, nem posses.

Essa renúncia ofende os possessivos e dominadores de coisas nenhumas.

Não podendo submeter as vontades e virtudes alheias ao seu talante doentio, investem, furibundos, caluniadores, demolindo as construções da honra, do valor, do bem ou intentando consegui-lo com as armas de que dispõem: da traição, do escárnio, da zombaria, da falsa superioridade...

Aquele que os ame e compreenda por vê-los enfermos e necessitados, perdendo a vida física em suas mãos, ou a honra em suas agressões, ou a paz aparente em suas beligerâncias, ganhará a vida eterna, e com ela virá resgatá-los de si mesmos, reconhecido aos que lhe fizeram sofrer e que lhe apressaram a vitória.

A renúncia tem preço, e o êxito é a sua coroa.

A vivência do Evangelho com espírito de abnegação sustenta os laços de família, não os rompe.

Ante o matrimônio, os estudos, as profissões, a criatura segue o próprio impulso e, quando não aceita no lar, avança, assumindo riscos.

É a eleição pelo ideal, pelo que lhe parece melhor.

No que dizer respeito à conduta cristã, o fenômeno é equivalente, com a diferença que o candidato prossegue amando os familiares e amigos que o não entendem, e tudo faz de bom a fim de os não magoar, deixando aberta a porta da afeição para o reatamento da compreensão e da amizade momentaneamente alteradas.

Seguindo com Jesus e sem a família, ao término da jornada, eis que poderá distender o braço na direção da retaguarda e levantar os que ficaram acomodados.

O inverso, porém, ficar com os afetos sem Jesus, é muito mais difícil para todos.

Escolhido o roteiro, surge a necessidade do equilíbrio na conduta.

Não disputar lugares.

Não se expor à lisonja.

Não ser o primeiro.

A consciência do dever leva o discípulo ao serviço e ao silêncio do eu.

A maior ambição estabelece que se deve apagar para que Ele brilhe.

Uma só coisa lhe basta: servi-Lo através da Humanidade inteira, sua irmã.

Mesmo que todos o tenham em último lugar, ele faz-se o primeiro na ação do bem e da caridade.

O mais não importa.

Para quem ganha um tesouro com o qual se felicita, as outras aquisições perdem a importância.

Com Jesus, tudo o mais não tem sentido, é dispensável.

Só Ele tem significado.

A Transjordânia, rude e queimada, é bem o símbolo dos caminhos íntimos que o candidato à libertação deve percorrer.

Largas distâncias, calor inclemente, solidão e silêncio — são alguns lances da opção.

De alguma forma, os homens vivem situações equivalentes no mundo. Às vezes, piores, e em circunstâncias tão danosas que, não as suportando mais, fogem para as bebidas, as drogas, a luxúria, os vícios...

Uns enlouquecem e se aprisionam em lupanares de luxo ou cárceres de volúpia sem-fim...

Outros emurchecem, desalentados e fogem pelo abismo do suicídio abominável...

Solitários, na multidão que os bajula e aplaude, detestam-se e escarnecem de todos e de tudo.

Sorridentes, caminham infelizes.

Muito bem vestidos e ajaezados com metais nobres e pedras preciosas, têm a alma nua e ferida, pululando em demorada agonia.

Jesus, porém, na imensa Transjordânia em que a Terra se transformou, continua ensinando e aguardando aqueles que O queiram seguir, para alcançarem, ditosos, a vida eterna com plena liberdade.




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Mateus 19:27

Então Pedro, tomando a palavra, disse-lhe: Eis que nós deixamos tudo, e te seguimos; que receberemos?

mt 19:27
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Mateus 19:28

E Jesus disse-lhes: Em verdade vos digo que vós, que me seguistes, quando, na regeneração, o Filho do homem se assentar no trono da sua glória, também vos assentareis sobre doze tronos, para julgar as doze tribos d?Israel.

mt 19:28
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Mateus 19:29

E todo aquele que tiver deixado casas, ou irmãos, ou irmãs, ou pai, ou mãe, ou mulher, ou filhos, ou terras, por amor do meu nome, receberá cem vezes tanto, e herdará a vida eterna.

mt 19:29
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Mateus 19:30

Porém muitos primeiros serão os derradeiros, e muitos derradeiros serão os primeiros.

mt 19:30
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